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Não creio em bruxas, mas...

data-filename="retriever" style="width: 100%;">"No creo em brujas, pero que las hay, las hay", diz o dito popular castelhano. Diante da atual situação política brasileira, não dá para duvidar que essas horrorosas criaturas não estejam voando em suas vassouras mágicas acima de nossas cabeças. Existem vários sinais de que isso possa estar acontecendo bem debaixo de nossos narizes. Só não enxerga, quem não quer ver.

Todo sábado, acontece algum tipo de aglomeração organizada por pequenos grupos reacionários seguidores do "profeta" Bolsonaro, a quem chamam de "mito". Aliás, o significado dessa palavra (do grego mythós) é o de uma simbologia que se utiliza de personagens sobrenaturais, deuses e heróis, que se relacionam com os seres humanos, dando lições de como se deve viver. Com o tempo, os simbolismos dos mitos foram sendo abandonados e seus relatos passaram a fazer parte da ficção. Hoje, mito pode ser sinônimo de falsidade ou mentira. Definição que, no caso, se aplica a Bolsonaro.

Que Bolsonaro é um provocador, até as pedras sabem. Assim, não surpreende a sua aparição repentina num avião ainda na pista do aeroporto, sem ter nada que fazer lá. Foi hostilizado, lógico. Era isso que ele queria. Não consegue evitar causar tumulto. Faz parte da sua natureza. Tem sido assim, desde que entrou para a política. Porém, enquanto a maioria dos passageiros ficou em silêncio, aparentemente reprovando a confusão que atrasaria a viagem, um pequeno grupo de acólitos foi para a frente do avião gritar "mito", "mito".

A única coisa que faz algum sentido chamar Bolsonaro de mito é o "Messias" que carrega no nome. Mas isso é uma bobagem. Acho que, por causa do seu comportamento deplorável durante a pandemia, ele vê, pouco a pouco, o "encolhimento" de sua candidatura. Assim, só lhe resta radicalizar. Porém, por conta disso, corre o sério risco de tornar-se apenas um líder de uma seita de fanáticos.

A saída de cena de Bolsonaro será pior do que a de Trump. Este último, apesar de ter estimulado a invasão do Capitólio, deixou a Casa Branca com uma boa base dentro do Partido Republicano. O não reconhecimento da vitória de Joe Biden foi apenas uma saída honrosa. Já Bolsonaro nem partido tem. Sua intenção é criar desconfiança no processo eleitoral, em caso de derrota. O absurdo é tanto que Bolsonaro questiona a própria eleição (de 2018) que saiu vencedor. Propõe a impressão do voto em papel, muito mais suscetível a fraudes e ao chamado "voto de cabresto" que poderia ser utilizado, por exemplo, pelas milícias.

O sinal mais claro do desespero de Bolsonaro com o avanço da CPI da Covid são as "carreatas" e agora as "motociatas" (verbete acrescentado ao nosso dicionário pelo bolsonarismo). Nessas ocasiões, usando enorme aparato de segurança, sem máscara no meio de aglomerações, o presidente (que não se vacinou) usa Fake News para contestar o número de mortos pela Covid e discursa em favor do "tratamento precoce".

Além da segurança dessas manifestações, de cunho político, estarem sendo pagas pelos cofres públicos, existe um mal maior: a própria democracia está sendo colocada em risco. Discursos em carros de som e faixas contra o Congresso e o STF são recorrentes nessas manifestações. Cartazes, alguns em inglês, pedem a "intervenção militar com Bolsonaro no poder" e até a "volta do AI-5". Acrescentando o episódio da não punição pelo Exército do general Pazuello, que participou de um desses eventos, a preocupação aumenta.

Atentar contra os poderes da República nada tem a ver com liberdade de expressão, o mesmo acontecendo com atos de indisciplina militar. Essas duas situações estavam presentes por ocasião do golpe militar de 1964. E, infelizmente, não temos outra poção mágica contra golpes senão o fortalecimento da própria democracia.

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