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Julgamentos

Certa feita, disse-me o meu pai: "a história é a mãe de todas as ciências".

Eu ouvi isto dele apenas uma vez, não recordo quando, mas asseguro que faz mais que muito tempo, e de tão absolutamente verdadeira e assertiva que me pareceu - e assim permanece - a sentença que trago para principiar este ensaio me é, com a licença e a tolerância de todos, irretorquível, inquestionável, irrecorrível. Claro, não só pela dita assertividade, mas, ainda, pela autoria...

A meu ver, naquele momento, ele encerrou em tão somente uma frase, uma breve oração, verdade absoluta e abrangedora de um tudo e de um quanto infinitos, a referir sobre os fatos mais comezinhos dos dias das pessoas mais desimportantes, aos grandes acontecimentos da trajetória humana protagonizados pelos agentes mais célebres, das desgraças às conquistas, em invariáveis searas, a explicar as razões das circunstâncias atuais e a fazer vislumbrar nesgas de possíveis futuros e desenlaces a propósito de qualquer coisa, literalmente. Na minha cabeça né.

Ela, a sentença, veio e vem, se confirmando a mim pela minha vivência, se fortalecendo pela minha instrução formal (que não é o bicho, definitivamente).

A ela e a seu autor, somaram-se inúmeras outras personalidades e fatos em regime de sedimentação, tendo em vista o sem número pessoas agora afamadas, públicas que, em razão de acontecimentos recentes têm, em últimas instâncias, não poucas, mas muitas vezes, afirmado tranquilidade e leveza de consciência a respeito de suas atitudes e consequências delas advindas, ao que, a história lhes fará justiça.

Poderia, tranquilamente, caso houvesse mais espaço, arrolar exemplos municipais, estaduais, nacionais e mundiais. Mas, tenho convicção, o amigo e amiga que me leem ouviram a afirmação também diversas vezes.

Só que a história da própria história nos mostra que ela mesma é passível de, ou vulnerável a, versões, verdades mil, interpretações volúveis. Daí a coisa se complica...

Se não desespera, assusta, a quem lê o Marques de Maricá afirmar que "ninguém mente tanto nem mais do que a história" ou ao escritor francês Anatole France dizer que "A história não é uma ciência, é uma arte. Nela só se pode lograr êxito pela imaginação."

Se a ciência é a contemplação dos fenômenos, o relato de suas resultantes e, daí então, a emergência das verdades pelo histórico do acompanhado, só resta, como no processo judicial, avaliar as provas, escolher as mais fidedignas, descartar as menos razoáveis, as mais incríveis (ou menos críveis, como queiram)...

E eu, que reclamei, reclamo, dos julgamentos sumários de fatos atuais iluminados pelo parco encandeio do imediatismo e das opiniões de sobressalto abundantes na internet, nos aplicativos de comunicação entre aparelhos celulares, não poucas vezes subversiva e criminosamente instrumentalizados por mentirosos de interesses de toda a ordem, tamanho, natureza e ideologia, agora, fico como? Concluo, opino, me posiciono, julgo e até ajo agora, ou aguardo pelo transcurso dela, da história?

Haja discernimento...

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