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Aquele café

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Quantos encontros no período pré-pandemia foram cancelados? Quantos cafés ficaram para depois e agora sequer podemos combiná-los? Com diferentes desculpas que, invariavelmente, finalizavam com um "hoje não vai dar", perdemos oportunidades de encontros divertidos, nos quais trocávamos gestos amorosos com amigas. Como seria bom poder voltar no tempo e arrumar espaço para todos esses compromissos rescindidos, que nos enchiam de felicidade. Entretanto, o valor para a rotina do trabalho, para a correria do cotidiano nos quais, geralmente, visualizamos mais problemas do que prazeres, sempre foi maior. Certamente, quando a pandemia der trégua, retomaremos essas junções e beberemos litros de café, embaladas pelos abraços interrompidos.

Entretanto, infelizmente alguns deles foram suspensos definitivamente. A nossa queridíssima Deborah Rosa partiu precocemente, nos deixando um vazio imenso. Ficamos aqui, aturdidas, com a xícara vazia, suspensa. Pensar em não encontrar mais aquele sorriso largo e receber a identificação carinhosa de "Gata Miss", aperta o peito. Aquela mulher que trazia sempre consigo um "VIVA" em letras imensas, banhando de alegria todos que estavam ao seu redor se foi, sem aviso prévio. Nossos últimos encontros sequer tiveram abraços. De longe gritávamos uma para a outra: 'quando a pandemia acabar, vai rolar aquele café'.

Sempre sorridente, trazia com o seu querido companheiro Luciano, as lindas máscaras para proteção da Covid-19 produzidas por eles, na porta da nossa casa. Estivemos juntas no emocionante documentário #eusoueuqueroeuposso promovido pelas Mulheres Donas de Si. Nosso último evento, foi no "Fala Mulher", desenvolvido pelo Diário de Santa Maria, quando tivemos que nos contentar com o sorriso dos olhos, escondidas atrás das máscaras. Nesse dia, lembro da preocupação e o cuidado extremo, pregando o distanciamento e isolamento social e todas as medidas protetivas. Imagino como a pandemia deve ter afetado sua vida profissional, mesmo que tenha feito várias lives de forma remota.

Ah, Deborah! Quanta saudade deixastes dentro de nós. Dona de uma voz inconfundível, eras a responsável pelas gostosas risadas daquelas que, como eu, foram suas parceiras no "Jogo de Cintura". Lembro de todas disputando para estarmos na bancada da rádio Antena 1 no dia dela, pois sabíamos que seríamos brindadas com os trechinhos de músicas que os ouvintes não cansavam de pedir. Um repertório que incluía desde o blues, MPB, música nativista e samba. Ninguém queria perder! Certamente os eventos de carnaval, natal, o palco do Treze de Maio, o movimento tradicionalista e todos os outros espaços onde esteve iluminando em Santa Maria ficaram, repentinamente, opacos.

Quem presenciou esse espetáculo de mulher no centro de um palco segurando um microfone, erguendo a outra mão para cima, jogando a cabeça para trás e soltando a voz, sabe do que estou falando. Gentil em grau máximo, sempre que podia, ao olhar para o público fazia questão de dar uma piscadela quando nos visualizava por ali. Assisti-la era ter a certeza de um cenário inesquecível. Com vestidos impecáveis que balançavam suavemente aos seus gestos perfeitos, lançava uma energia que aquecia nossos corações. Acompanhar o brilho daqueles cabelos negros, que dançavam graciosamente de um lado para outro, enquanto nos enfeitiçava com sua voz, sabe o que era magia.

Parafraseando Clara Nunes, que a Deborah tão bem representava ao cantar sobre o mar que serenava quando ela sambava na areia, ficamos aqui imaginando a festa que deve ter sido no céu, quando as estrelas, que antes escondidas, certamente ficaram atraídas e apareceram todas para recebê-la. Vai nossa estrela maior, segue abrilhantando aí com a esperança de que, um dia, tomaremos aquele café, em outro plano.

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