colunistas do impresso

A verdade em tempos de pandemia

Este tempo estranho, que começou em março de 2020, nos fez incorporar termos inexistentes ou pouco incidentes no nosso vocabulário, como: pandemia, distanciamento e afastamento social, look down, respirador artificial, índice viral, imunização, linhagem, mutação, vírus, fake news e outros.

Este rol de termos está fazendo a festa nas redes sociais, nos leva a duvidar de quase tudo que ouvimos, vemos e sentimos, a ponto de filosofarmos diariamente sobre a dualidade da vida, o certo e o errado, o concreto e o abstrato, a verdade e a mentira.

Diante de tanta fake news, lembrei a parábola judaica A Verdade Saindo do Poço. Ela ilustra situações do nosso cotidiano, onde os cenários nem sempre são aquilo que aparentam.

Para quem não conhece a parábola, aí vai: um dia a Mentira e a Verdade se encontraram. A Mentira, diz: Bom dia! Zelosa a Verdade, ouviu a saudação e conferiu se o dia estava bom. Olhou para cima, não tinha nuvens, os pássaros cantavam, não havia cheiro de fumaça, tudo parecia perfeito. Segura de que era um bom dia, respondeu: Bom dia! Aí a Mentira disse: está muito calor, não é? Realmente estava muito quente. Vendo que a Mentira estava sendo sincera, a Verdade começou a baixar a guarda. Por que desconfiar se a Mentira parecia cordial e verdadeira?

Com o calor insuportável, a Mentira, num gesto de amizade, convidou a Verdade para banharem-se no poço. Como não havia ninguém por ali, a Mentira despiu-se, pulou na água, e chamou a Verdade. A água está uma delícia. O convite parecia irrecusável. A Verdade, sem duvidar da Mentira, despiu-se, pulou na água e mergulhou.

Vendo que a Verdade estava na água, a Mentira saiu, vestiu a roupa da Verdade e se mandou sorrateira com sua roupa roubada. A Verdade saiu da água e, preocupada com sua reputação, recusou-se a vestir a roupa da Mentira. Certa da sua pureza e inocência, não tendo do que se envergonhar, e sem opção, sai nua pela rua procurando a Mentira para pegar sua roupa. Corria entre as pessoas que lhe olhavam com desprezo e raiva.

Depois de correr muito e buscar em vão, sem encontrar sua roupa, a verdade nua volta ao poço e desaparece para sempre, escondendo na água sua vergonha. Desde então, a mentira vai pelo mundo com a roupa da verdade, satisfazendo a necessidade da sociedade, percebendo que o mundo não quer encontrar a verdade, pois é mais fácil aceitar a Mentira vestida com roupa de Verdade do que a Verdade nua e crua.

Caro leitor: por que será que esta parábola que tem tantos anos, traduzida em tantas línguas, gira o mundo, desperta estudos e obras de arte não consegue fazer com que muitas pessoas parem de desprezar a verdade nua e crua preferindo a mentira bem vestida? Continuem acreditando na fake news e no disse me disse? Você confere as boas novas antes de repassar?

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

A verdade em tempos de pandemia Anterior

A verdade em tempos de pandemia

A infinita sabedoria da natureza Próximo

A infinita sabedoria da natureza

Colunistas do Impresso