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A crise hídrica

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Nas plagas de Quaraí, onde nasci em 1945, tive oportunidade de acompanhar eventos climáticos fortes como enchentes e estiagens. Se bem que a maior das enchentes registradas no Rio Grande do Sul antecedeu-me, foi a de 1941 pelo menos em Porto Alegre, ainda agora rememorada quando, em abril e maio, dela se completaram 80 anos.

Sei bem de nosso clima sulino difícil, com invernos rigorosos e verões escaldantes, com enchentes e estiagens vez por outra. Acompanhei condoído a seca nordestina persistente quantas vezes, dizimando flora e fauna e tornando um martírio a vida daquela laboriosa e resistente população.

Paralelo a isso, tudo fui vendo o Brasil desenvolver-se e necessitar cada vez mais de seus recursos hídricos. Seja para pujante agricultura irrigada, para abastecimento de água de metrópoles cada vez maiores ou para o sistema elétrico que tem mais de 60%de sua capacidade de geração baseada em hidrelétricas. E, neste último uso, com a construção de monumentais reservatórios de água.

O que há de novo é a falta de água para garantir todos esses usos. Este início de milênio teve três crises hídricas. Já se colapsou o abastecimento em São Paulo e no Distrito Federal em anos recentes. Agora, os grandes reservatórios apresentam níveis de água menores que o histórico para a época, revelando um aspecto preocupante: não tem sido reposto o consumo. O período de chuvas, concluído em abril na Bacia do Paraná, onde estão algumas enormes usinas e que abrange os Estados de Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, foi o menor em 91 anos.

Aqui no Rio Grande do Sul, tivemos, no biênio 2020/2021, um total de 136 municípios com situação de emergência por causa da estiagem na economia ou até da falta de água para a população. Em pleno mês de junho e com a umidade presente no ar, mas sem chuva para repor os reservatórios e mananciais, ainda remanescem 18 situações emergenciais municipais.

A maioria dos especialistas adverte: o desmatamento na Amazônia está diminuindo o fluxo de umidade da floresta que, se misturando à evaporação do Atlântico e não podendo ultrapassar os Andes a oeste, seria o grande responsável pelo regime de chuvas no sul e sudeste brasileiros.

Precisamos prestar atenção: derrubar a Floresta Amazônica é condenar o centro sul brasileiro à aridez. As mudanças climáticas no mundo e suas causas nos dizem respeito muito severamente. O futuro está em jogo, o presente já em risco.

O Brasil detém quase um quinto das reservas hídricas do planeta. Sejamos responsáveis para utilizá-las com preservação e inteligência. Além da poluição de tantos rios e mananciais, até da água subterrânea, ainda estamos gastando mais do que a reposição e comprometendo as nascentes e até os fatores capazes de garantir as condições atmosféricas para a chuva. Hora de ter consciência pessoal e coletiva capaz de mudar atitudes individuais, interesses privados e políticas públicas.

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