Outro dia, fui convidada para conversar com pais e mãe sobre os grupos de WhatsApp em uma escola de Educação Infantil de Santa Maria. O tema me foi proposto de forma abrangente e lá fui pesquisar dados e hábitos relacionados ao bate-papo. Relembrei de alguns casos embaraçosos entre amigos e na própria escola dos meus filhos, conversei com outros pais, recorri a números sobre o aplicativo, discuti com especialistas.
Antes de ir direto aos grupos de WhatsApp de pais e mães na escola (diga-se de passagem, a imensa maioria dos grupos é composta apenas por mães), é preciso entender o contexto. Nosso hábitos estão em constante transformação, mas, nos últimos anos, a convergência, a internet das coisas, a inteligência artificial e outros avanços tecnológicos estão revolucionando o mundo de uma forma tão rápida que, muitas vezes, é difícil de acompanhar.
Duas informações que li e ouvi em palestras relacionadas à tecnologia ficaram martelando na minha cabeça:
_ Em 20 anos, 70% dos relacionamentos vão começar via aplicativo
_ 60% das crianças que hoje estão na Educação Infantil vão trabalhar em atividades/empregos que hoje não existem
E para o mundo dos negócios é recorrente a frase que o empreendimento vai dar certo no futuro se for algo que interesse a um público que hoje está com 15 anos e possa ser acessado via celular.
Voltando ao tema "grupos de WhatsApp de pais nas escolas", é preciso ponderar que antes das redes sociais, os problemas que surgiam no ambiente escolar entre alunos, por exemplo, eram resolvidos entre eles mesmos, sem ultrapassar os muros da escola. As relações eram mais restritas, por exemplo, quando os pais levavam e buscavam os filhos, delimitadas à porta da escola. Há bem pouco tempo, as pessoas conversavam mais e teclavam menos.
O WhatsApp _ maior aplicativo de comunicação instantânea mais popular no Brasil, atrás dele vem o Facebook Messenger (64%), SMS (37%) e snapchat (19%) _ surgiu nos Estados Unidos em 2009, com um investimento inicial de U$ 250 mil. O WhatsApp foi criado por Jan Koum e Brial Acton, desempregados que não conseguiram um emprego no Facebook e venderam o aplicativo para o próprio Facebook em fevereiro de 2014 por U$ 22 bilhões.
Fonte: ilustração Pixabay
De acordo com um relatório divulgado pela empresa em maio de 2017, 120 milhões de brasileiros usam o WhatsApp e cada um participa ativamente de 5,3 grupos. O que representa 76% dos assinantes móveis do pais. Essa é a realidade e apesar da crítica à sociedade de "zumbis", não podemos fugir dela. Porém, sempre temos de discutir a relação: os grupos de WhatsApp de pais na escola trazem mais vantagens ou prejuízos?
O BOM USO
- Gera troca de informações sobre o dia a dia dos filhos
- Proporciona uma relação colaborativa
- Fala sobre assuntos e informações que envolvem combinados, festas, programas culturais, alertas sobre doenças
- Tira dúvidas sobre tarefas de casa e outros acontecimentos do mundo escolar
- Facilita a vida dos pais que não podem buscar e levar os filhos na escola diariamente
O MAU USO
- Repasse de correntes, vídeos e fotos de piadas, desejos de "bom dia", assuntos relacionados à política ou futebol e excesso de conteúdo que perturbam e prejudicam a leitura de informações e desviam o foco do grupo. Por exemplo, excesso de fotos das crianças em diferentes momentos dentro ou fora da escola que podem gerar sentimentos de exclusão desnecessários
- Queixas sobre as práticas escolares, em alguns casos, interpretam uma cena ou frase fora de contexto e podem espalhar como uma verdade que atinge toda a comunidade escolar gerando má interpretação de professor
- Constrangimentos variados, como quando o desentendimento entre dois colegas é levado ao grupo e provoca interferência de outros pais e a exposição dos pequenos com julgamentos precipitados e recomendações de condutas
E AÍ? CONTINUO NO GRUPO DE PAIS?
A decisão pode ser simples: sair do grupo. Mas ela é mais um canal de comunicação que o pai ou mãe podem estar perdendo com a escola e colegas.
Defendo o uso do BOM SENSO, que está em falta em quase tudo hoje em dia, seja nos grupos de pais na escola e em outras momentos da vida. E a reflexão: como é a sua comunicação com a escola? Como a escola e os professores se comunicam com você? Adotam agenda digital? Aplicativo?
Não existem pais 100%, não existe escola 100%. Vivemos um ambiente de intolerância generalizada, com a cultura do ódio sendo disseminada aos quatro cantos. Somos quase que incapazes de nos colocar no lugar do outro e os primeiros a apontar o defeito alheio sem fazer o mínimo de autoanálise. É isso queremos isso para o futuro de nossos filhos?
Sempre brinco que o problema do mundo é a comunicação, em outras palavras, a falta de clareza e de eficiência no comunicar, o que gera uma série de problemas seja em casa, na rua ou no trabalho. Veja este vídeo:
Assistiu?
Que tal sair do WhatsApp e dar atenção para o seu filho?