dilermando de aguiar

VÍDEO+FOTOS: ex-tropeiro transforma a casa em museu campeiro de raridades

José Mauro Batista


Foto: Pedro Piegas (Diário)

Uma casa de alvenaria com dois cômodos, na zona rural de Dilermando de Aguiar, guarda centenas de relíquias que ajudam a contar parte da história do Rio Grande do Sul. No espaço, batizado de Museu Campeiro Darcy de Lima Leal, é possível encontrar itens de montaria, armas, utensílios domésticos e apetrechos da lida do campo. Há, também, relógios, telefones, rádios, pratarias, câmeras fotográficas, lampiões e até uma bandeira de Cuba, esta, uma peça mais recente, ao lado das bandeiras do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Dilermando. 


Proprietário do local, Darcy de Lima Leal, o Darzinho, 85 anos, mostra com orgulho as raridades que colecionou ao longo da vida. Ex-carreteiro e ex-tropeiro, Darzinho é um caçador de relíquias desde a infância.

- Sempre gostei dessas coisas e, desde criança, venho guardando. Aqui tem coisa do tempo do meu avô. Outras, ganhei de amigos de São Gabriel, de Alegrete, de Santa Maria e de outras cidades - diz Darzinho, que conta com o apoio da família e os préstimos de um vizinho para ajeitar o acervo.

Festival de balonismo de Mata terá voos panorâmicos, food trucks e shows

Grande parte das coleções é de origem familiar e de doações de militares e de descendentes de estancieiros, como ele diz. Poucos itens foram comprados, alguns deles em antiquários. A ideia de criar o museu campeiro surgiu há pouco tempo, quando Darzinho já dispunha de um bom número de preciosidades - ele não lembra uma data específica.  

Registros de doações, documentos de vistoria do Exército (onde o espaço é registrado, por causa das armas antigas que abriga) e um livro de presenças com data de 2009 dão uma ideia aproximada da época em que surgiu o espaço cultural.

Por enquanto, não há nenhuma peça catalogada, o que dificulta se saber detalhes sobre elas, como datas de fabricação e origens exatas, e mesmo o número de itens existentes. O ex-tropeiro, no entanto, diz que acadêmicos de universidades de Santa Maria já demonstraram interesse em se debruçar sobre o acervo para identificação e catalogação. 

ACERVO TEM BÍBLIA E ATÉ UMA BANDEIRA DE CUBA
O amor do ex-tropeiro pelo museu é tanto que ele recusa ofertas por relíquias, que, para ele, têm mais valor sentimental do que financeiro. Um carioca chegou a oferecer R$ 5 mil por um dos primeiros aparelhos telefônicos. Outro colecionador fez uma oferta quase que irrecusável por um dos primeiros modelos de rádio. 


Foto: Pedro Piegas (Diário)

Uma das raridades é uma talha, espécie de vasilhame para guardar água, que Darzinho garante ter por volta de 180 anos. Entre as dezenas de peças mais que centenárias, está, também, uma farinheira, utensílio doméstico, que segundo o dono do museu, era coisa de rico.

- Isso não tem era, é do tempo das estâncias, tem mais de cem anos. Devia ser muito caro porque pobre não tinha - especula.

Entre as peças campeiras, está um selim para mulheres, que, explica Darzinho, foi a primeira montaria fabricada especificamente para as damas, em uma época em que o cavalo era um dos únicos meios de transporte disponíveis.

Santiago terá Brique da Praça com show gospel neste domingo

Há artigos mais simples, mas bastante curiosos, como um pegador de palitos em forma de pássaro, e outros que saem um pouco da temática campeira, como uma Bíblia católica de 1909. Ainda no rol de itens curiosos, está uma bandeira de Cuba, aquela referida no início da reportagem, e notas de dinheiro do país caribenho.  

O dinheiro e a bandeira de Cuba foram presenteadas ao proprietário do museu campeiro por um médico cubano que atendia em Dilermando pelo programa Mais Médicos e que deixou a cidade no ano passado. O símbolo cubano desperta curiosidade e, também, desconfiança e ressalvas de alguns moradores, que chegaram a achar que Darzinho é simpatizante do regime da Ilha. 

- O médico se apaixonou pelo museu e pediu uma bandeira para o governo deles e me deu. O pessoal acha que sou comunista, mas não tem nada a ver - relata Darzinho, que foi suplente de vereador pelo antigo Partido da Frente Liberal (PFL, atual Democratas) nos anos 1990.

GARRUCHAS, LANÇAS E UMA FACA "AMALDIÇOADA"
No acervo de armas, Darzinho coleciona objetos de raro valor, alguns estrangeiros, como espadas de origem chinesa (há, pelo menos, quatro desses exemplares), punhais e canivetes. O conjunto de lanças tem peças muito antigas, porém, não é possível precisar o ano de fabricação porque o material não está catalogado e algumas inscrições estão ilegíveis. Parte das facas históricas enferrujou e necessita de uma restauração. 

Filme 'Dumbo' chega ao cinema de Santiago

Há um item, especial, que não está exposto: uma faca em cor preta e extremamente pontiaguda, que fica guardada em uma gaveta. O único momento em que Darzinho ficou sério durante a reportagem foi quando tirou a faca da gaveta e começou a manusear o objeto "misterioso". 

- Isso aqui é do tempo da degola, foi feita mesmo só pra matar. Naquela época, existia muita malvadeza, muito banditismo - explica, justificando certa repulsa pelo instrumento, que ele acredita ter sido usado para tirar vidas humanas em batalhas sangrentas que dividiram o Rio Grande do Sul no século retrasado.

Esse modelo de faca, conhecido como faca de degola, era muito usado em combates como os da Revolução Federalista (1893-1895), que dividiu os gaúchos em chimangos e maragatos e que foi marcada pela prática de decapitar os inimigos.

O ESPAÇO
O acervo e como visitar 

  • O Museu Campeiro Dary de Lima Leal, registrado no Exército, é uma propriedade particular que leva o nome do proprietário do espaço
  • Tem um acervo com centenas de peças que incluem apetrechos da lida campeira, lanças, espadas, facas, garruchas, balanças, montarias, relógios, rádios, telefones e pratarias
  • Fica na localidade conhecida como Cancha do Pique, no interior de Dilermando de Aguiar
  • As visitas, que não são cobradas, podem ser agendadas pelo telefone (55) 9 99251936, de preferência, à tarde

Como chegar ao local

  • Pela BR-158, conhecida como Faixa de Rosário. Na altura da cooperativa agroindustrial C.Vale (Km 364,50), há uma entrada à direita que dá acesso à Estrada da Cancha do Pique, uma via de chão. A propriedade fica a um quilômetro desse local

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Prefeitura de Dilermando de Aguiar lança novo edital para concessão de táxi

Próximo

Prefeitura de Dilermando de Aguiar vai passar por reforma e ampliação

dilermando de aguiar