covid-19

O que aprendemos sobre o coronavírus em seis meses

18.395

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Os primeiros casos de uma estranha doença respiratória detectada na China há cerca de seis meses indicavam que um novo vírus estava por trás do problema. Desde então, um esforço científico e médico sem paralelos levantou enorme quantidade de informações sobre a Covid-19 e seu causador, o Sars-CoV-2.

Saiba o que aprendemos sobre o novo coronavírus ao longo desses meses de pandemia.

1. Como ele surgiu
As marcas da origem natural do Sars-CoV-2 podem ser detectadas em seu material genético. Quando um vírus é manipulado em laboratório, especialistas em biotecnologia usam o equivalente de "peças de Lego" padronizadas para montar seu genoma; isso não está no causador da Covid-19. 

Por outro lado, as letras químicas que compõem o RNA do vírus apresentam mais de 90% de semelhança com os genomas de coronavírus que infectam o morcego-ferradura e uma espécie de pangolim, ambos mamíferos da Ásia.

Mais de 60% das doenças emergentes nas últimas décadas surgiram como zoonoses (moléstias de origem animal), e os morcegos são uma fonte importante de tais patógenos, como os vírus Ebola.

2. Não há 'proteção natural'
Uma consequência lógica das origens recentes do vírus é o fato de que, quando a doença começou a se espalhar na China, não havia praticamente nenhuma pessoa com defesas naturais eficazes contra eles. Isso explica, em parte, a grande velocidade com que a moléstia se espalhou.

3. A Covid-19 é mais do que uma doença respiratória
O Sars-CoV-2 é capaz de afetar diferentes órgãos e produzir grande variedade de sintomas, alguns muito graves.

Além da febre e da tosse seca, sintomas mais comuns, e da falta de ar, vista como sinal de piora, o coronavírus pode produzir fadiga, dores musculares, diarreia, vômitos, dor de cabeça e até vermelhidão na pele. Outro sinal importante é a perda de olfato e paladar.

A doença pode provocar uma reação exacerbada do sistema de defesa das células, num processo inflamatório capaz de destruir os pulmões. Também pode impulsionar a formação de coágulos nos vasos sanguíneos e desencadear problemas cardíacos, renais, hepáticos e derrames.

4. Doença também mata fora dos grupos de risco
É verdade que cerca de 80% das pessoas infectadas têm sintomas leves ou imperceptíveis (os assintomáticos). A doença tende a ter efeitos mais graves e maior mortalidade em idosos ou pacientes com problemas cardiovasculares, renais, diabetes ou câncer.

Porém adultos mais jovens e saudáveis, mesmo com histórico atlético, podem ter quadro grave, precisar de terapia intensiva e até morrer. Isso é mais raro em crianças até os dez anos, mas não impossível.

5. Mata muito mais que gripe
A comparação entre a Covid-19 e as formas normais de gripe é descabida. A gripe sazonal leva à morte menos de 0,1% das pessoas infectadas, de acordo com estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde); pelas estimativas mais confiáveis até agora, o Sars-CoV-2 mata entre 1% e 0,5% de suas vítimas.

Comparações iniciais com a dengue também são estapafúrdias: em 2015, pior ano da série histórica no Brasil, a dengue matou 985 pessoas, contra mais de 34 mil mortos por Covid-19 no país até agora.

6. Calor e umidade não protegem contra o vírus
A doença começou a se espalhar no auge do inverno no hemisfério Norte e, ao menos em alguns lugares, vírus respiratórios se propagam com mais facilidade se o tempo está frio e seco. É o que ocorre com o vírus influenza, causador da gripe, no Sul e no Sudeste do Brasil. Essa esperança, contudo, revelou-se infundada.

No Brasil, os dez municípios proporcionalmente mais afetados ficam na Amazônia, caracterizada pelo clima quente e úmido. Ceará e Pernambuco, estados quentes do Nordeste, também estão entre os que têm mais mortos (mais de 3.000 cada um, por ora).

7. Vencer a doença imuniza (ao menos por um tempo)
Diversos estudos feitos com animais de laboratório (em especial macacos) e com seres humanos que tiveram Covid-19 mostram que o mais comum é que, no fim da primeira semana de sintomas, se desenvolva uma reação específica ao Sars-CoV-2, incluindo anticorpos que neutralizam o patógeno e células que "memorizam" suas características para atacá-lo no futuro.

A grande dúvida é saber quanto tempo essa capacidade de reagir vale; ela costuma durar entre um ano e dois em coronavírus mais conhecidos.

8. 'Imunidade de rebanho' vai demorar a chegar
Imunidade de rebanho, ou comunitária, é a presença de uma proporção de pessoas já infectadas e curadas que faz com que um patógeno não consiga mais se espalhar numa população, por encontrar muito poucos indivíduos suscetíveis. Quem adoeceu e tem defesas funciona como escudo para os nunca infectados.

Para essa imunidade valer contra o Sars-Cov-2, seria preciso o contágio de 70% da população. Ainda falta muito. O estudo da Universidade Federal de Pelotas, feito com 25 mil pessoas de 90 cidades, calculou que apenas 1,4% dos habitantes do país teve contato com o vírus até agora. Em São Paulo, o número fica em torno de 3%; a capital mais afetada é Belém, com 15%.

9. Máscaras ajudam, mas não são mágicas
De início, as orientações das autoridades de saúde sobre o uso de máscaras como proteção contra o vírus foram contrárias à prática, em parte porque elas eram mais necessárias para profissionais de saúde e estavam escasseando, em parte porque elas podem trazer uma falsa sensação de invulnerabilidade.

Alguns estudos, porém, mostraram que a mera barreira física das máscaras de pano é suficiente para barrar as gotículas emitidas pelo nariz e pela boca, que parecem ser o principal veículo de transmissão do Sars-CoV-2. O simples uso da máscara, porém, não elimina a necessidade das medidas de distanciamento social e os cuidados com o contato das mãos que tocaram objetos e superfícies com os olhos e o rosto.

10. Transmissão se dá sem sintomas ou no início deles
Modelos epidemiológicos e dados experimentais mostram que não é preciso ter sintomas graves da doença para que seja possível transmitir facilmente o vírus. Há indícios de que o pico de produção e exportação das partículas virais acontece logo nos primeiros dias de sintomas e que esse processo talvez já esteja acontecendo ainda na fase assintomática da doença.

11. Remédios que temos tratam só os sintomas
Ainda não existem remédios com ação específica comprovada contra o Sars-CoV-2. O antiviral remdesivir é o que chegou mais perto até agora, mas seus efeitos são modestos. Ele consegue apenas reduzir em alguns dias o tempo de internação dos pacientes.

Outros medicamentos, como a hidroxicloroquina, apresentaram resultados contraditórios e ainda estão sendo avaliados. Há ainda remédios que tentam combater alguns dos piores efeitos da doença, como a reação exacerbada do sistema imunológico.

12. Vacinas já têm primeiros resultados positivos
Mais de 150 vacinas com diferentes formulações já estão sendo desenvolvidas contra o Sars-CoV-2. Dessas, sete já estão sendo testadas em seres humanos, e duas delas, desenvolvidas na China e nos EUA, divulgaram os primeiros resultados positivos em grupos com dezenas de pacientes. Nesses testes, foi possível estimular a produção de anticorpos e de células de defesa com ação específica contra o novo coronavírus, com efeitos colaterais aparentemente suaves. Trata-se apenas do começo do trabalho, que envolve análises complexas de segurança e eficácia.

Outra vacina, desenvolvida pela Universidade de Oxford, deverá ser testada em 2.000 voluntários brasileiros a partir deste mês.

13. Testes, testes e mais testes são essenciais
Enquanto vacinas e remédios não tiverem eficácia comprovada, a testagem do maior número possível de casos suspeitos da doença é a ferramenta essencial para o controle da Covid-19, ao lado do distanciamento social. Só os testes constantes são capazes de identificar precocemente os casos da doença e isolar as pessoas infectadas e seus contatos, cortando assim a cadeia de transmissão.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Estado chega a marca de 350 mortes por Covid-19 Anterior

Estado chega a marca de 350 mortes por Covid-19

Próximo

Santa Maria registra oitava morte por Covid-19

Saúde