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Dados mostram aumento de casos e pior cenário da Covid-19 em Santa Maria

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Santa Maria atravessa o pior momento da pandemia da Covid-19. Os dados dos últimos dias, tanto de casos confirmados quanto de ocupação de leitos de UTI, mostram um crescimento maior e mais rápido da contaminação por coronavírus no município. O recrudescimento da pandemia parece ser uma tendência mundial, e o Estado, em geral, também apresenta piora no desempenho de combate ao vírus - na última semana, pela primeira vez, duas regiões foram classificadas em bandeira preta, que representa risco altíssimo de contaminação.

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Para o médico epidemiologista da Vigilância em Saúde Marcos Lobato, que é coordenador do Centro de Referência Municipal de Covid-19 em Santa Maria, os dados atuais são maiores do que os registrados no pico anterior, ocorrido no final de agosto e em setembro (veja os gráficos abaixo). O médico, porém, não considera ser uma segunda onda, mas sim um segundo pico dentro da mesma onda da pandemia, já que, mesmo entre os dois picos, os casos estacionaram em um patamar elevado.

- Foram apenas alguns dias de "calmaria" com redução de casos e óbitos, algo em torno de três semanas a quatro semanas - explica o especialista.

Outro fato apontado pelos dados e ressaltado por Lobato é a velocidade do crescimento de casos, como é possível observar no gráfico a seguir. São mais casos do que antes e em um período menor.  data-filename="retriever" style="width: 100%;">

  • O gráfico mostra a variação da média móvel diária de novos casos. A média móvel de cada dia é calculada com a soma dos casos dos últimos sete dias, dividida por sete.
  • É possível observar dois picos: um em setembro, com 87 casos por dia, e outro em 30 de novembro, maior, com 98 casos.
  • Entre os dois picos, a menor média de casos diários foi 35, na primeira semana de novembro, dado comparável a meados de julho. Ou seja, mesmo entre os picos da doença, a média de casos permaneceu em um patamar alto.
  • A queda abrupta no fim do gráfico não deve ser considerada, por conta do atraso no registro dos dados. Conforme o passar dos dias e a notificação de mais casos, a média de domingo, que agora está em 47, tende a subir. Números mais fidedignos podem ser observados apenas após 14 dias, conforme especialistas.

Para o professor Luis Felipe Dias Lopes, doutor em Engenharia de Produção e estatístico do Observatório de Informações em Saúde da UFSM, que desde o começo da pandemia reúne os dados e calcula as médias móveis de casos, a pandemia chegou a um novo patamar nas últimas semanas. A média de casos diários nos últimos 30 dias chegou a 74, a maior até agora. Conforme Lopes, é visível a formação de um novo pico ainda maior que o registrado em setembro. A média móvel de casos bateu, no dia 30 de novembro, um recorde: 98 casos diários. Esse número deve aumentar com o registro de casos atrasados. Este é, conforme o professor, um dos problemas para acompanhar os dados da Covid. Nos gráficos, as estatísticas confiáveis datam de pelo menos 14 dias atrás, por conta do atraso na notificação de casos mais recentes. Ainda são computados meses passados, como outubro, setembro e até mesmo abril. 

Esse atraso, conforme Lobato, é causado por problemas no processo de notificação, principalmente pelo setor privado. Alguns registros chegam a ser perdidos e são redescobertos posteriormente.

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- São casos que fomos atrás principalmente pelos contatos. A gente entra em contato com as pessoas, pergunta se conhecem alguém que estava infectado, faz o cruzamento de dados e descobre que teve um caso perdido em setembro ou outubro, por exemplo - explica o epidemiologista.

Há ainda uma sobrecarga nos laboratórios que fazem os testes. Não há falta de insumos, mas de capacidade de processamento das amostras, causado pelo crescimento de casos e da procura pelo serviço de testagem.

Portanto, para analisar a pandemia, é preciso ter uma visão mais ampla, e não acompanhar apenas o número de casos diários - grande parte dos casos divulgados em um dia pertencem a datas anteriores. A média móvel, por exemplo, tem o cálculo somando-se o número de casos dos últimos sete dias e dividindo-se o resultado por sete. Essa curva estuda os possíveis dias de pico.

VARIAÇÃO

De acordo com os especialistas, para saber se os números da doença estão aumentando, diminuindo ou em situação estável, é preciso fazer mais um cálculo, o da variação. Geralmente, o novo coronavírus fica no corpo do paciente por duas semanas (tempo de incubação), por isso, para calcular a variação, é recomendado comparar a média móvel do dia com a média móvel de 14 dias atrás.

Variações de até 15%, para mais ou para menos, caracterizam estabilidade da doença. Se a variação for menor que esse percentual, a transmissão está em queda. Se for acima, a cidade está em um momento crescente da pandemia. Em Santa Maria, a média móvel da semana epidemiológica de 16 a 22 de novembro foi de 372. Já a de duas semanas depois, entre 20 de novembro e 6 de dezembro, foi de 552, uma variação de mais de 48%.

Mas Santa Maria não é um caso isolado no Rio Grande do Sul:

- No dia 30 de novembro, o RS atingiu 6.066 casos, o maior pico que já teve. Dá uma média móvel de 3.776 casos por dia. A maior desde o começo da pandemia - afirma Dias Lopes.

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Lobato demonstra preocupação com as festas de final de ano e é enfático ao ligar o crescimento dos casos a um relaxamento por parte da população com as medidas de prevenção. As grandes aglomerações seriam um dos principais fatores para o recrudescimento.

- A gente vê pessoas se aglomerando demais, sem usar máscara e sem tomar os devidos cuidados de higiene. Temos visto, também, e é um dos maiores problemas, pessoas com sintomas circulando. Essas pessoas têm que ficar em casa.

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  • Este é o gráfico das médias móveis e número de casos por semana epidemiológica. Segundo Lobato, é uma forma mais fidedigna de retratar a variação dos números da pandemia, pois exclui variações aleatórias.
  • Cada barra representa o número de casos confirmados por semana. A linha vermelha representa a média móvel, calculada a partir da soma dos casos das duas semanas anteriores, dividido por dois.
  • As duas últimas barras, na cor branca, representam as duas últimas semanas, e não devem ser consideradas pelo atraso no registro de novos casos.
  • A semana de 23 a 29 de novembro foi a recordista em novos casos durante a pandemia, com 649, e deve ser superada pela seguinte, que já acumula 624.
  • É visível a rapidez e o maior número de casos de um pico para outro. O primeiro pico ocorreu em setembro. Saiu deu um período de estabilização, na semana de 24 a 30 de agosto, com 274 casos confirmados, para o ponto máximo quatro semanas depois, em 550. Já no segundo pico, saiu de uma estabilidade em 283 casos entre 2 e 8 de novembro, para 649 casos confirmados apenas três semanas depois. A linha da média móvel exemplifica o crescimento.

NA PRÁTICA

De acordo com a diretora clínica do Hospital de Caridade, Jane Costa, os dados apontados são refletidos no dia a dia dos hospitais. A circulação, assim como o número de consultas e internações em leitos clínicos, aumentam a cada dia, diferente de outros períodos da pandemia:

- Até quem chega com outras demandas, como acidentados, são diagnosticados com Covid-19 e estavam assintomáticos. Os pacientes são medicados, internados e, mesmo assim, o estado de saúde piora.

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Jane alerta que a demanda pode ultrapassar a capacidade dos profissionais de saúde:

- Não podemos criar leitos sem profissionais para atender. Não se torna intensivista e enfermeiro de UTI de um dia para o outro. Logo, não teremos mais capacidade de absorver toda demanda. Precisaremos fazer como em hospitais de outras cidades, com placas nas portas avisando que não temos mais leitos - desabafa a médica.

* Colaboraram Felipe Backes e Gabriele Bordin


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