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Parte da oposição do Legislativo está mais próxima de Pozzobom

Sete meses após o começo da nova legislatura na Câmara de Vereadores, o que se vê até aqui é uma quantidade considerável e até improvável de reviravoltas e mudanças. Se antes, as oposições ligadas à esquerda e à direita - o que por si só já era inesperado - causaram certa instabilidade ao governo municipal, agora, o que se vê é uma aproximação entre parlamentares da situação e, até então, "opositores".

As eventuais ideologias e cartilhas do jogo político-partidário foram, momentaneamente, deixadas de lado. Atualmente, a Câmara conta com quatro blocos parlamentares, criados para marcar posições e, em tese, se afastar das linhas ideológicas uns dos outros. Três deles - com total de 15 vereadores - são ligados à oposição, e um, com seis parlamentares, à base governista. A configuração posta é novidade no Legislativo, e, como em qualquer ineditismo, traz peculiaridades e estranhezas.

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Na última terça-feira, uma denúncia contra o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) foi rejeitada pela maioria dos parlamentares, mostrando a fragilidade de dois blocos, e, contraditoriamente, evidenciou a consistência e unidade dos outros dois. Bastava que a maioria simples dos vereadores dissesse "sim" ao prosseguimento, mas só cinco deram concordância, enquanto outros 16 - a maioria das oposições - disseram "não" à denúncia.

DIVISÃO E REPRISE

A reportagem conversou, ao longo da semana, com vereadores, dirigentes partidários e fontes ligadas às duas casas (Legislativo e Executivo), e o sentimento que paira é que há, sim, um "estranhamento" junto à oposição capitaneada por siglas mais à direita. Conforme um parlamentar, há, inclusive, um movimento migratório em curso daqueles descontentes.

A palavra "ruir" é usada com frequência para definir a falta de coesão que teria se iniciado após uma incursão do governo Pozzobom (PSDB) junto a alguns vereadores.

O chamado Bloco Parlamentar de Oposição ao Governo é composto por sete vereadores - PP (quatro), PSB (dois) e PDT (um). Na denúncia, os vereadores Pablo Pacheco e Roberta Leitão, ambos do PP, defenderam a abertura da comissão para apurar possíveis irregularidades, sendo seguidos pelo correligionário João Ricardo Vargas.

Anita Costa Beber, do mesmo partido, destoou da bancada e votou contra, caminho, aliás, idêntico ao trilhado por Danclar Rossato e Paulo Ricardo, os dois do PSB, e Luci Duartes (PDT). A pedetista tem sido cortejada por outros blocos e não deve tardar a deixar o agrupamento, conforme a reportagem apurou. Ela, porém, não adianta nada.

A divisão também foi vista no Bloco Parlamentar Democrático (MDB/PSL). Tubias Callil (MDB) e Tony Oliveira (PSL) votaram a favor do andamento da denúncia, enquanto Rudys Rodrigues e Adelar Vargas, os dois do MDB, votaram contra.

Os vereadores naquele momento não precisavam justificar os votos e têm autonomia do próprio mandato para votar conforme o seu entendimento. Mas, na sessão que definiu os rumos da denúncia, expressões de incredulidade de alguns parlamentares com a reviravolta mostraram que os laços - até então bem amarrados no início do ano - começam a se desfazer e "ruindo rapidamente", como disse uma fonte.

BASE E ALIADOS

Composto por seis vereadores - PSDB (três), Republicanos (dois) e DEM (um) -, o Bloco de Situação tem votado unido nas demandas do Executivo, afinal, são a base do governo Pozzobom no Legislativo. Apesar de os tucanos serem maioria numérica, o protagonismo e a defesa do Executivo recaíram à liderança de Alexandre Vargas (Republicanos) e à experiência de Manoel Badke (DEM), enquanto ao trio do PSDB segue na condição de coadjuvante.

O Bloco Propositivo - PT (três) e PC do B (um) - também tem sido consistente nas votações e posições. Os antigos rivais do PSDB, agora, estão bastante próximos ao tucanato - apesar de serem críticos à gestão - e também votaram com os governistas para barrar denúncia contra Pozzobom. 

GOVERNO AVANÇA EM MEIO A UM CENÁRIO (DES) FAVORÁVEL

Há muitas versões para que a denúncia contra Pozzobom, envolvendo a contratação de profissionais, não tenha prosperado no Legislativo. A que mais se encaixa, contudo, é a de que a maioria dos vereadores entendeu que não havia nenhuma irregularidade. Até porque foi assim que votaram 16 parlamentares. Mas, há quem diga que houve uma bem executada operação do governo para barrar a denúncia. Ou seja, pressões internas, próprias do meio político. Alguns "compromissos" de alguns parlamentares de oposição com o Executivo teriam facilitado a votação expressiva pró-governo.

Com uma atuação precisa e técnica, o líder do governo, vereador Alexandre Vargas (Republicanos), não poupou argumentos para defender o Executivo - e tem tido reconhecimento pelo seu trabalho. Para o parlamentar, não houve nenhum tipo de influência, e, sim, um entendimento pela maioria de que a denúncia não deveria ter andamento por não ter nenhuma ilegalidade:

- Estudei para me posicionar, com uma assessoria técnico-jurídica bastante elaborada, e convencemos a oposição de que realmente não havia irregularidade, e eles entenderam. Tenho certeza que foi um ato administrativo legal.

Dos 16 vereadores que rejeitaram a denúncia, 10 eram da oposição. Para garantir esses votos, o governo e a base trabalharam nos bastidores para convencer os parlamentares. Até a hora da votação, havia incertezas se o processo iria prosperar. Pelas contas de alguns assessores, dois ou três votos - de vereadores que têm atuado com muita independência dos blocos a que pertencem - ainda estavam incertos, mas com tendência de negar o pedido. No entanto, o arrastão de "nãos" surpreendeu alguns parlamentares, tanto positivamente quanto negativamente.

O assessor de relações institucionais da prefeitura, Leonardo Kortz, destaca o trabalho dos vereadores da base, mesmo sendo minoria, que conseguiram um revés importante:

- A atuação das lideranças foi feita, e precisamos reconhecer o trabalho dos vereadores. Respeitamos as opiniões, mas, neste caso, cumprimos com o que diz as legislações, e que foram apresentadas.

NA CONTRAMÃO

O líder da oposição, vereador Pablo Pacheco tem sido um crítico e opositor ferrenho ao governo. O parlamentar liderou o pedido de abertura de processo e defendeu, assim como a vereadora Roberta Leitão, que há necessidade de investigar as demandas que chegam à Casa. Em relação às divergências do bloco, entende que houve pressões para que alguns vereadores votassem contra:

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- Somos a única oposição de verdade. Mas eu, como líder de oposição, não faço cobranças. Há partidos e vereadores aqui que se dizem da oposição, mas estão unidos ao governo.

O líder do Bloco Democrático, vereador Tubias Callil lembra que já não é de agora que alguns vereadores não votam junto aos blocos. Segundo ele, que votou à favor do prosseguimento da denúncia, os emedebistas estavam livres para votar conforme seus entendimentos, apesar de a orientação fosse pela aceitação.

- Cada vereador tem sua maneira de votar, e respeitamos.

INTIMIDAÇÕES

Antes da votação, muitos vereadores comunicaram que receberam grande quantidade de mensagens, sendo alguns à favor e outros contra o prosseguimento da denúncia. Um parlamentar teria recebido mais de 80 mensagens, todas iguais, pedindo que votasse pelo "sim", apesar de o vereador ser da base do governo. De todos os lados, a denúncia gerou um clima de tensão antes e após a sessão, e ainda repercute.

Na quinta-feira, o vereador Pablo Pacheco afirmou que fez um Boletim de Ocorrência devido às mensagens que têm circulado nas redes sociais de que ele e os outros quatro favoráveis são inimigos da saúde. Pacheco repudiou com veemência as mensagens, e recebeu apoio de demais vereadores, como Werner Rempel (PC do B), que também já foi vítima, nesta legislatura, de informações distorcidas na tentativa de macular a imagem dos parlamentares.

DECISÕES DE AGORA PODEM IMPACTAR EM FUTURAS SEM RELAÇÕES

As divisões vistas na última votação não devem impactar tanto nas demais votações e posições, mas sim em novas relações, além de ligar o alerta para os mais atentos aos próximos acontecimentos da Câmara e também das questões eleitorais. Conforme alguns vereadores, mudanças importantes podem estar por vir, de todos os lados.

A eleição da mesa diretora está distante, mas a posição de alguns vereadores neste momento pode impactar mais adiante. A composição atual acordada ainda em dezembro do ano passado, e que elegeu à presidência João Ricardo Vargas, pode estar comprometida para o próximo ano. Para ganhar a disputa, PP, MDB, PSB, PDT e PSL, que somam 11 vereadores, uniram-se para garantir a mesa diretora.

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Do outro lado, também estiveram juntos PT, PC do B, PSDB, DEM e Republicanos, na tentativa de eleger Werner Rempel. Dessa forma, por um voto, quase que o PT não acaba fazendo, teoricamente, parte da base do governo Pozzobom, já que os governistas, à época, também apoiaram e votaram no vereador do PC do B.

O futuro ainda é incerto, até porque o PDT, de Luci Duartes, tem balançado para migrar ao Bloco Propositivo, e pode garantir maioria - se assim permanecerem as composições - para uma nova disputa.

ELEIÇÕES 2022

No próximo ano, serão intensificadas ainda mais as articulações partidárias devido às eleições de 2022. Mesmo com menor proporção, as posições lá de cima podem respingar no Legislativo municipal. Assim, se há possibilidade de partidos ligados à oposição migrarem de lado, há quem não descarte a chance de a situação também ficar tensionada, afinal, as alianças partidárias formadas estão em clima de disputa no cenário nacional. 

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