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O que, afinal, deu errado para Santa Maria sobre a ESA?

Marcelo Martins e Maurício Araujo

Foto: Pedro Piegas (Diário)

Foi com incredulidade que a sociedade santa-mariense recebeu a notícia de que o alto comando do Exército Brasileiro escolheu a capital pernambucana Recife como a sede da nova Escola de Sargentos das Armas (ESA). Não por demérito da cidade nordestina, mas por haver uma certeza que pairava em meio aos morros de Santa Maria, de que, tecnicamente, o município gaúcho era o mais preparado para receber o aporte de R$ 1,2 bilhão. A decisão foi comunicada, na noite de quinta-feira, pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), durante a tradicional live semanal, que é protagonizada pela capitão da reserva.

A fala dele, aliás, se deu em meio a uma miscelânea de assuntos que estavam sendo abordados. Até que, em uma breve pausa, ele disse ter "recebido há pouco o anúncio" de qual seria a cidade-sede a receber o complexo militar. O anúncio de Bolsonaro, feito em poucos minutos, fez ruir um trabalho silencioso e técnico de Santa Maria que vinha sendo construído ao longo de 15 meses. Ceticismo, decepção, frustração e tristeza deram a tônica das falas de políticos, empresários e da sociedade civil organizada.

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Em pouco tempo, o comunicado do presidente trouxe uma série de desconfianças e dúvidas junto às autoridades políticas, empresariais e de setores representativos de Santa Maria e, de parte, do Rio Grande do Sul. Invariavelmente, todos esses estavam unidos pela desolação de ver escapar por entre os dedos um investimento bilionário e a possibilidade de impulsionar o município economicamente a uma nova fase. À medida que o anúncio se alastrava em redes sociais e em grupos de troca de mensagens de celulares, uma mesma pergunta se repetia: o que, afinal, deu errado para Santa Maria?

A cidade, até então, havia sido alçada à condição de favorita. Poucas vezes se viu um movimento tão intenso, que uniu políticos de diferentes partidos e ideologias, e que fez os cidadãos levantarem a bandeira da ESA.

CONTRARIADO

À CDN, o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom (PSDB), afirmou respeitar a escolha do Exército ao optar pela praiana Recife. Porém, o tucano, visivelmente irritado e abalado, afirmou que, "em pouco tempo", o EB irá constatar que a escolha foi "um equívoco":

- Óbvio que a gente respeita a decisão do comando do Exército, mas discordo. Santa Maria está tecnicamente preparada em todos os requisitos. Fico muito triste, porque havia uma cidade inteira gritando e alto e bom tom que a gente queria a Escola de Sargentos.

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Além disso, Pozzobom destacou que seria "pequenez" creditar qualquer disputa político-partidária em referência ao pleito do ano que vem - que terá Bolsonaro e, ao que tudo indica, Leite - como fator determinante.

Do ponto de vista político, no entanto, a questão foi além, já que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), é um ferrenho crítico a Bolsonaro e disputa as prévias tucanas para ser o candidato do partido à presidência da República. A ele, em maior ou menor grau, estão sendo imputados um dos fatores que tiraram a ESA de Santa Maria.

ESTRATÉGIA

Oficialmente, conforme divulgou o Exército, a escolha se deu por questões técnicas. O resultado veio ao fim de quatro dias da Reunião do Alto Comando do Exército (Race), em que estavam reunidos o comandante do EB, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e demais generais. Foi a partir deste encontro que se definiu a cidade-sede da nova Escola de Sargentos das Armas.

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Um dos motivos alegados e que tem ganhado força dentro da caserna é a necessidade de descentralizar as forças localizadas há muitas décadas nas regiões sul e sudeste do país. A partir daí, essa narrativa ganhou força e passou a ser repetida por fontes do Exército ouvidas pela reportagem. Essa situação teria feito com que Recife saísse do limbo e virasse o jogo, deixando para trás as favoritas sulistas Santa Maria e Ponta Grossa, no Paraná. Oficialmente, o Exército, por meio de nota, destacou que "ao término do processo de escolha, pautado por aspectos eminentementes técnicos, a cidade de Recife foi selecionada para sediar a nova escola".

COBERTURA
Desde que Bolsonaro divulgou o futuro endereço da Escola de Sargentos, o Diário tem dado destaque ao assunto e buscou ouvir, de diferentes líderes e representantes da comunidade e do país, as razões que levaram à decisão. Nas redes sociais, na Rádio CDN 93.5 FM e na TV Diário (canais 26 e 526 da NET), além dessa e das páginas a seguir, você acompanha o que dizem as pessoas que atuaram à frente do trabalho de trazer a ESA para o Rio Grande do Sul.

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