Você sabe o verdadeiro nome da Praça dos Bombeiros, do Farrezão ou do Bombril?

Pâmela Rubin Matge

Você sabe o verdadeiro nome da Praça dos Bombeiros, do Farrezão ou do Bombril?
Uma praça central da cidade que faz homenagem a um importante médico sanitarista acabou ganhando um apelido de cerveja e se popularizando, sobretudo entre o público jovem, há cerca de uma década. É a Saturnino de Brito que passou a ser conhecida como Praça do Brahma. Da figura representativa do mal na tradição cristã a entidade celestial, a Garganta do Diabo virou o Vale do Menino Deus. 

O nome de ruas, praças e espaços de uma cidade é uma forma de identificação, geralmente aprovada em lei, e é usada pelos poderes públicos, por empresas e para as  pessoas em geral se situarem melhor. O Poder Legislativo pode propor projetos de lei, a fim de denominar espaços públicos já existentes. Ao Poder Executivo também é prevista esta competência submetendo projetos  à Câmara de Vereadores ou por Decreto Executivo. 

Atualmente, a Lei Municipal 4.800/2004, disciplina  a denominação de prédios públicos no município de Santa Maria  No Coração do Rio Grande, a quantidade de apelidos urbanos e a popularização de denominações diferentes do nome original chama a atenção.

À espera do horário de partida do próximo ônibus, o motorista Oscar Maciel, 56 anos, e cobrador Alberto Almeida, 55, conversavam na calçada paralela à Rua Barão do Triunfo, quase na esquina com a  Rua Niederauer, na última terça-feira, onde está uma das principais praças do município. O nome do espaço nenhum soube dizer à reportagem:

– Agora tu me apertou. Para nós, é Praça dos Bombeiros. Sou motorista há 29 anos e,  há 20, faço a linha Bombeiros/Universidade pelo menos cinco vezes ao dia. Nunca conheci pelo nome certo – contou o motorista, ao surpreender-se que o local denomina-se Praça Tenente João Pedro Menna Barreto.

Ao passar a metros da dupla, a enfermeira Lizandréia Bataglin, 46 anos, revelou que só se localiza pelo apelido:

– Sou natural de Santiago, já morei em Marabá (PA) e, agora, estou em Santa Maria, pois meu marido é militar. Há anos, a Praça dos Bombeiros é uma referência para nos acharmos. Desde quando eu não morava aqui e vinha para consultas médicas na cidade – conta.

E você, sabe qual é o nome oficial das praças e espaços reconhecidos pelos apelidos? Nesta reportagem, alguns desses locais são lembrados.

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AS PRAÇAS E UM HISTÓRICO DE NOMES E ALCUNHAS

Pelos menos três praças da área central da cidade são mais conhecidas pelo nome popular do que pela nomenclatura original: as praças Saturnino de Brito, General Osório e Tenente João Pedro Menna Barreto. Um outro espaço bastante conhecido tem como denominação uma homenagem a um dos mais célebres sambistas do país. As informações abaixo, do professor de História Gilmar Niederauer, ajudam a saber quem foram as pessoas que batizam áreas bastante frequentadas de Santa Maria.

Praça Saturnino de Brito, de Praça da Corsan à Praça do Brahma

Fotos: Eduardo Ramos (Diário)

Informações do arquivo histórico da Câmara de Vereadores de Santa Maria, no ano de 1931, sustentam que a atual Praça Saturnino de Brito foi construída no local em que havia o reservatório de água da cidade e que levava o nome popular de Praça do Mercado. 

Somente no começo dos anos 2000, com a abertura de distribuidoras de bebidas no entorno, popularizou-se a “Praça do Brahma”, em alusão a um antigo bar homônimo.

Já a homenagem a Saturnino de Brito remete ao engenheiro sanitarista Francisco  Saturnino Rodrigues de Brito. Ele foi responsável pela implantação dos nove primeiros canais de Santos (SP) entre os anos de 1907 e 1911. Em 1920 fundou no Rio de Janeiro o Escritório de engenharia Civil e Sanitária Francisco Saturnino de Britto (ESB), considerado uma verdadeira escola de engenharia hidráulica e de engenharia sanitária. Saturnino de Britto faleceu com 65 anos. 

A denominação Praça da Corsan recebeu esse apelido porque Saturnino  trabalhou no primeiro projeto de saneamento no município em 1918. A denominação ocorreu por um pedido de Astrogildo de Azevedo, intendente municipal, cargo equivalente a prefeito.

Tenente João Pedro Menna Barreto, a Praça dos Bombeiros

Em 1963, a Lei Municipal 1.135 denominou de Tenente João Pedro Menna Barreto o logradouro público conhecido, até então, por Praça da República. Pela proximidade da guarnição do 4º Batalhão de Bombeiros de Santa Maria, o local foi popularmente apelidado de  ‘Praça dos Bombeiros. 

João Pedro Menna nasceu em 1900. Participou da Revolução de 1930 e de 1932. Graduou-se instrutor de Educação Física, lecionando nos colégios Fontoura Ilha, Ginásio Santa Maria (hoje, Colégio Marista), Margarida Lopes e Colégio Elementar, atual Instituto Educacional Olavo Bilac. Ele dá nome à praça que já foi denominada “da Constituição” quando fundada em 1873; transformou-se em  “15 de Novembro”, em 1889; e depois, “da República”.  

Além da praça, atualmente conhecida como “Praça dos Bombeiros”, há uma escola municipal no Bairro Caturrita, na região norte da cidade em sua homenagem. Menna Barreto morreu em 1932, em decorrência de uma grave moléstia.

Praça General Osório, a Praça do Mallet  

A história do local traz modificações ao longo das décadas. A Lei Municipal  445/1955, denominou de Marechal Hermes da Fonseca a praça em frente ao Regimento Mallet. Parte do espaço público, pela Lei municipal 1.204/1965, denominou Maestro Carlos Gomes, a parte situada à esquerda da Silva Jardim, partindo do centro da cidade para a periferia. 

Finalmente, a Lei Municipal 1.369/1969 denominou a praça de General Osório, revogando tacitamente a Lei 1.204/65.

Manuel Luís Osório (1808-1879) é o patrono da Cavalaria do Exército Brasileiro. Participou da guerra de independência do Brasil (1822-1823), na Guerra dos Farrapos (1835-1845) e nas campanhas platinas, incluindo a Guerra contra Oribe e Rosas, em 1851. Comandou as tropas brasileiras na Guerra do Paraguai (1864-1870).

Auditório Lupicínio Rodrigues, a Concha Acústica

É no Parque Itaimbé que fica um dos espaços culturais mais conhecidos da cidade. O palco a céu aberto em formato de meia-lua, a popular concha acústica, é ponto para atrações musicais, teatrais e manifestações de toda ordem. A curiosidade é que a Lei Municipal 2245/82, denominou o nome do sambista Lupicínio Rodrigues para o recém-construído auditório ao ar livre localizado no Parque Itaimbé, entre as ruas Pinheiro Machado e Tuiuti.

Em 1933, Lupicínio foi transferido para Santa Maria e promovido a cabo. Aqui, conheceu Iná, que se tornaria uma grande musa inspiradora de sua obra. A relação chegou ao noivado, que durou cerca de cinco anos. Em 1935, Lupicínio Rodrigues deu baixa do Exército e voltou para Porto Alegre, onde foi trabalhar na Faculdade de Direito.

Centro Desportivo Municipal (CDM), o Farrezão

O Centro Desportivo Municipal, CDM, ainda conhecido como Farrezão,  recebeu o nome de Miguel Sevi Viero, um  médico e prefeito de Santa Maria. A gestão foi  de 1960 até 1963 pelo Partido Social Democrata (PSD), o  último com  período completo, antes do golpe militar de 1964. Durante o governo de Viero foi lançada, em maio de 1962, a primeira Feira do Livro de Santa Maria. Também foi ele que  doou o terreno para a construção do Avenida Tênis Clube e participou da  comitiva santa-mariense liderada por José Mariano da Rocha Filho, quando foi à Brasília para o ato de assinatura  da criação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Em fevereiro, a obra do Centro de Eventos anexo ao CDM, com apenas 58% de construção,  foi paralisada, e o contrato com a empresa responsável rescindido.  Com isso, o espaço, no Bairro Nossa Senhora de Fátima, mais uma vez, ficou abandonado. A construção foi anunciada em novembro de 2005, e a ordem de serviço assinada em fevereiro de 2007. Foram três governos e quase 15 anos  em ritmo lento. O serviço seguiu até 2013 e foi abandonado até o ano passado, quando recomeçou com a quarta etapa. A obra de 16,7 mil metros prevê uma quinta fase, com investimento de mais R$ 11,7 milhões.

O médico e ex-prefeito José Haidar Farret lembra o ano, o mês, o dia e a hora que inaugurou o, até então, maior ginásio esportivo da região.

– Véspera do aniversário de Santa Maria, dia 15 de maio de 1986, às 19h. Escolhi e sempre quis o nome Centro Desportivo Municipal Miguel Sevi Viero, uma honrada homenagem, mas o povo acabou apelidando de Farrezão, o que comove muito até hoje.Lá ocorreram eventos esportivos municipais e estaduais. Foi lugar de shows, feiras, tanto que a própria Feisma mudou pra lá. Quando as pessoas ficavam desabrigadas depois de temporais, era no CDM que encontravam abrigo.  A construção do CDM é um orgulho para mim – relata. 

De Garganta do Diabo a Vale do Menino Deus

Construído em 1957 e concluída em 1962, o viaduto em curva conhecido como Garganta do Diabo tem 296 metros de extensão e é sustentado por pilares a 76 metros do solo. O nome “Garganta do Diabo” foi dado pelos próprios trabalhadores da obra, em razão das sérias dificuldades vivenciadas durante sua construção. A partir de 2002, passou a ser conhecido  como “Viaduto sobre o Vale do Menino Deus”. É a divisa entre Santa Maria e Itaara.

Centro de Atividades Múltiplas  José Garibaldi Pogetti, o Bombril

A Lei Municipal 2242/82 denominou José Garibaldi Pogetti, o Centro de Atividades Múltiplas, localizado no Parque Itaimbé. José Garibaldi Poggetti era paulista, natural de Ribeirão Preto, músico violoncelista. Na década de 1920, mudou-se para Santa Maria, onde viveu até  a morte. Foi professor, fundou o Instituto Municipal de Belas Artes; participou de vários eventos culturais da cidade, em especial, os de origem italiana como o Grupo Corale Arrigo Boito em 1924. Mais tarde, ajudou a fundar o Centro de Cultura Artística de Santa Maria. Morreu aos 80 anos em 1972. Uma década depois, o Centro de Atividades Múltiplas recebeu oficialmente o seu nome. O Bombril, referência publicitária a esponja de “mil e uma utilidades”, acabou se popularizando.

Com capacidade para uso de até 530 pessoas, atualmente, o local não recebe quaisquer atividades. A área conta com quatro banheiros, salas administrativas e de apoio e um mezanino. O local foi reaberto em agosto de 2019 e permaneceu aberto somente até março de 2020.  Segundo a prefeitura, estão sendo feitos projetos para a reforma da cobertura, da rede elétrica e da rede de esgoto. Somente depois, será aberta a licitação para contratar a empresa que fará esses serviços. Nenhum prazo foi informado.

CONSERVAÇÃO

Todos os espaços visitados pelo Diário, na última semana, estampam ações de vandalismo. Lixo jogado pela grama, calçadas irregulares, bancos em má conservação e pedras soltas também foram observados nesses locais.

*Pâmela Rubin Matge, [email protected]

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