Violência doméstica contra a mulher – precisamos falar sobre o tema (parte II)

Michele

Violência doméstica contra a mulher – precisamos falar sobre o tema (parte II)

Como combinado aqui na coluna, sigo a tratar do tema da violência doméstica contra a mulher, sobre o qual comecei a escrever, quando entrevistei a Marta Azzolin que lançou o livro Crônicas da Liberdade, contando histórias que conheceu no trabalho como escrivã de polícia.

Na última semana foram divulgados aqui em Portugal os resultados do relatório elaborado pelo Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), uma instituição que trata de forma voluntária os dados sobre os crimes de violência contra a mulher no país.

O observatório analisou os números de janeiro de 2022 a 15 de novembro de 2022. No período, foram registradas 28 mortes de mulheres, sendo que 22 foram enquadradas em casos de violência doméstica, que eles caracterizam aqui como “crime em contexto de relações de intimidade”.

Segundo os dados organizados pela OMA e pela União das Mulheres Alternativa e Resposta (Umar), além dos 22 feminicídios em contexto de relações de intimidade; outros três ocorreram em contexto familiar, um em contexto de crime, um por discussão pontual e um em contexto omisso (não divulgado). Dos crimes ocorridos em contexto de intimidade, os 22 foram cometidos por homens: 13 por atuais companheiros das vítimas e nove por relacionamentos passados. Em 15 casos, vítima e agressor tinham filhos em comum.

E um dado que impressiona – e se repete – é que em mais da metade dos crimes já havia registro de violência prévia. Tendo em consideração que a violência pode ser física, psicológica, ameaça ou perseguição. Os dados mostram também a idade das vítimas, a localização geográfica e outros detalhes.

O relatório ainda aponta que não houve crescimento no número desse tipo de crime, mas que também não tem havido nos últimos anos redução – dizem que o problema está “estagnado” e que isso mostra que é preciso uma atuação maior de todos. Que é preciso um trabalho de prevenção que começa com os jovens até um atendimento e acompanhamento dos casos em que há registro prévio de violência doméstica.

Conheci o trabalho realizado pela OMA e pela UMAR durante a minha dissertação de Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade do Minho. Analisei e comparei a forma como um jornal impresso do Rio Grande do Sul, Brasil, e um jornal impresso de Portugal tratam a pauta da violência doméstica contra a mulher. A escolha do Rio Grande do Sul em vez de o Brasil foi para ter um contexto mais equiparado em termos de tamanho e número de habitantes.

O que constatei é que essa problemática social ultrapassa fronteiras e não considera classe social ou faixa etária. A violência contra a mulher é um problema no mundo todo. A principal diferença na forma de tratamento desse tema por parte dos jornais analisados é que o Rio Grande do Sul (e é uma tendência no Brasil) “traduz” diariamente a violência em números. Publicam mensalmente gráficos com dados da criminalidade e acompanham o factual, relatando diariamente os crimes (notas, notícias, reportagens). O jornal

português opta por compilar os dados e fazem uma leitura mais abrangente transformando os relatórios em reportagens especiais sobre o tema. Existem notícias factuais, mas são menos frequentes. Por exemplo, em um mês em que os crimes contra a mulher tenham aumentado, eles publicam uma reportagem mais ampla mostrando os casos e também as ações que estão, ou não, sendo feitas, ouvem especialistas, etc.. Nem sempre os casos de forma individualizada ganham espaço no jornal.

A dissertação, é claro, tinha objetivos mais voltados às questões teóricas do jornalismo, mas foi impossível desconsiderar o tema em si. É triste e por vezes revoltante ler notícias desse gênero. Mulheres perseguidas, mulheres mortas em frente aos filhos, espancamentos… relacionamentos falidos que são mantidos por falta de iniciativa e/ou coragem e que acabam por forçar um convivência com um fim trágico. E foi triste verificar, por exemplo, que a capa do jornal do Dia dos Namorados – que aqui é comemorado em 13 de fevereiro – tratou da violência no namoro; ou seja, o dia era para celebrar o amor, e devido à realidade de crimes considerados como namoros abusivos, a pauta do dia foi a violência contra a mulher que começa ainda na adolescência, muitas vezes nas primeiras experiências de relacionamento.

Por tudo isso, e por tudo o que vemos diariamente nos jornais, eu digo: sim, precisamos falar sobre o tema, precisamos “meter a colher” quando temos conhecimentos de relacionamentos tóxicos, precisamos denunciar e precisamos cobrar das autoridades competentes investimento em projetos de prevenção a este tipo de crime.

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