Desde de 2018 venho trabalhando com mulheres negras num processo de desenvolvimento pessoal e profissional que denominamos de Afrocoaching. Nele, de forma dialogada, com uso de ferramentas e técnicas, refletimos sobre a vida de cada uma de forma integral, valorizando-as como sujeito de suas próprias histórias.
Neste contexto, observamos que muitas mulheres negras concluem o Ensino Superior e encontram grande dificuldade para adentrar no mercado de trabalho como profissionais com formação superior. Pontua-se que a inserção no mercado de trabalho é por si só desafiante, mas para as mulheres negras tem alguns elementos que elevam o nível de dificuldade, fazendo com que muitas venham a desistir e migrar para outras áreas.
Desse trabalho constatamos que com as ações afirmativas e a adoção de cotas para ingresso no Ensino Superior, as universidades receberam as mulheres negras que se adaptam as estruturas de ensino existentes. Em alguns casos com projetos e ações pontuais voltados para essas novas acadêmicas, mas na sua maioria continuam cumprindo seu papel de ensino aprendizagem nas áreas de formação, sem um olhar mais minucioso e integrador dessas novas participantes da comunidade acadêmica.
Ao concluírem o curso essas mulheres voltam-se para o mercado de trabalho procurando seu lugar ao sol, agora como profissionais intelectualizadas, donas de um diploma de Ensino Superior arduamente conquistado, e encontram muitas dificuldades que vão desde a busca por uma vaga até a possibilidade da ação empreendedora para o exercício profissional.
O mercado de trabalho não está preparado para receber essas novas profissionais, reservando para as mulheres negras os cargos que não necessitam de Ensino Superior, portanto com remuneração menor. Ou na verdade o mercado de trabalho reflete a sociedade racista e discriminatória que se perpetua e continua excluindo a mulher negra de determinados estratos sociais.
Obviamente que existem exceções e algumas mulheres negras concluintes conseguem exercer as profissões para as quais obtiveram graduação acadêmica, mas não é a regra, por isso o Afrocoaching é um processo tão necessário, para dar subsídio e empoderamento para que elas possam fortalecidas enfrentar o mercado.
O processo de Afrocoaching enquanto metodologia trabalha o empoderamento da mulher negra para que ela possa enfrentar e vencer as dificuldades com a força da sua própria ancestralidade, validando suas experiências e ressignificando aspectos limitantes que comprometem seus resultados. Acreditamos que esta metodologia, aliada à formação acadêmica, pode colaborar sobremaneira para que as mulheres negras possam usufruir de um futuro melhor, enquanto profissionais qualificadas dentro da sociedade brasileira.