radares

Três meses depois do começo das multas, nem todos motoristas sabem da localização dos controladores

Gustavo Martinez e Laura Gomes

Desde que começaram a operar, os controladores de trânsito são motivo de muita discussão na cidade. Nesta quarta, a prefeitura divulgou que o mês de setembro viu uma redução de 27% no número de infrações aplicadas pelos controladores em relação a agosto. No total, foram 12.151 autuações em setembro contra 16.745 em agosto. Do dia 21 de julho, quando os primeiros controladores começaram a multar, até 31 do mesmo mês, foram 12.025 autuações.

Pouco mais de três meses depois do início das autuações pelos radares, a aprovação é positiva, ainda que potenciais melhorias sejam mencionadas. O frentista Sadic Quevedo, 57 anos, pensa que os controladores garantem mais segurança para a população e reduzem acidentes. Porém, Sadic, que foi multado em junho deste ano na Avenida João Luiz Pozzobon, afirma que recebeu a infração pois não tinha conhecimento que haviam controladores na via.

- Já fui multado, pois não sabia que tinha o controlador em frente a pizzaria Bella Trento, passei com cinco a mais do permitido - conta o frentista.

Esta percepção não é compartilhada apenas por Sadic Quevedo. Em enquete realizada nas redes sociais do Diário, 56% dos participantes afirmaram que não sabem onde estão localizados os controladores de trânsito em Santa Maria.

O Diretor Geral do Centro de Formação de Condutores Viacentro, Rodimar Dall Agnol, critica a falta de transparência dos controladores. Para ele, poderiam existir indicadores mais explícitos, como os das lombadas eletrônicas, que exibem a velocidade do condutor e, caso ele tenha ultrapassado o limite, também sinaliza com os números em cor vermelha.

- Os controladores são eficazes no que se propõem, é isso que demonstram os estudos a respeito, e não podemos ir contra isso. Mas eles poderiam ser mais transparentes, com indicações mais claras do que está acontecendo - comentou Rodimar.

Outra preocupação dos entrevistados é sobre o horário de funcionamento dos radares. Segundo os relatos, durante a noite, em especial a madrugada, com o trânsito em baixa, é comum se esquecer da presença dos radares.

Dos nove radares, três deles - nas avenidas João Luiz Pozzobon, Hélvio Basso e Walter Jobim - operam 24 horas por dia. Os outros seis funcionam apenas das 6h às 23h59min.

CONTROLADORES DAS 6h ÀS 23h59min

  • Rua do Acampamento com a Avenida Medianeira
  • Avenida Nossa Senhora das Dores com a Rua General Neto
  • Avenida Rio Branco com a Rua Vale Machado
  • Avenida Presidente Vargas com a Avenida Borges de Medeiros
  • Avenida Medianeira com a Rua Duque de Caxias
  • Avenida Medianeira com Rua Barão do Triunfo

SEMÁFOROS
Outro ponto para o qual Rodimar chama atenção são os semáforos, que não contam com temporizadores visíveis para os motoristas e, portanto, não informa quanto tempo falta para a troca do sinal. Dessa forma, acontece de atravessar o sinal vermelho acidentalmente e ser autuado.

Esse foi o caso do taxista Luiz Felipe Brandão, 33 anos, multado dez vezes pelos controladores. Apesar de acreditar que as infrações decorrentes de velocidade e sinalização devem ser cobradas, ele pensa que ainda é necessário repensar alguns pontos destas medidas.

- Para nossa profissão está prejudicando bastante porque às vezes o trânsito fica parado, o sinal está vermelho, acabo ficando em cima da faixa de segurança e vem a multa - relata Luiz.

A Secretaria de Mobilidade Urbana explicou que o sistema identifica e registra por meio de fotografia todo condutor que parar em cima da faixa de pedestres, mas não é aplicada multa para quem parar sobre a faixa de retenção, desde que saia dela nos segundos seguintes.

Ainda, o Secretário de Mobilidade Urbana, Orion Ponsi, afirmou que a sinalização colocada já excede o que é exigido pela legislação e que, no momento, a sinalização horizontal - aquela que é aplicada diretamente no asfalto - será reforçada. Mas, para além disso, não existem planos para intensificar os avisos.

Um projeto sugestão, de autoria do líder do governo na Câmara de Vereadores, vereador Alexandre Vargas (Republicanos), propôs a instalação de temporizadores nos semáforos da cidade. Como justificativa, o edil afirmou que a fiscalização feita pelos aparelhos que detectam o avanço de sinal estaria ocasionando efeitos contrários aos condutores por falta de educação no trânsito.

O projeto foi submetido no início deste mês e, procurado pelo colunista do Diário Deni Zolin a respeito do tema, Orion explicou o funcionamento dos radares no semáforo no dia sete de outubro:

- Damos um delay (tempo) entre três a cinco segundos de vermelho. Mesmo com sinal recém tendo mudado do amarelo para o vermelho, existe uma margem de tolerância para que o motorista complete a travessia ou faça a imobilização do veículo em tempo com uma distância e tempo suficientes para não causar nenhum risco para o veículo que segue logo atrás. Somente depois desse delay (tempo), é que esses veículos vão ser multados - afirmou Orion.

Por telefone, o secretário afirmou que a instalação de semáforos com temporizadores é uma possibilidade, mas que requer uma atenção maior.

- Existem estudos sobre isso, quando ele é mal dimensionado, mal aplicado, a tendência, em alguns locais, é que a contagem do equipamento semafórico faz com que o condutor acelere pra dentro do cruzamento. E é exatamente essa aceleração, esse aumento na velocidade, que determina a gravidade em um sinistro de trânsito. Atualmente é o contrário, nós estamos trabalhando para redução da velocidade - afirmou Ponsi.

VELOCIDADE MÁXIMA
Nas ruas, uma reclamação constante é a velocidade máxima permitida pelos controladores. O taxista Luiz Felipe Brandão critica o aparelho instalado na Avenida João Luiz Pozzobon, via com permissão de 50km/hora. Para ele, o limite deveria ser 60 km/hora.

O administrador Marcelo Oliveira, 59 anos, é a favor dos controladores de trânsito, porém, também trouxe a demanda com relação à velocidade.

- Eu acho que (o controlador) chamou um pouco mais de atenção dos motoristas, embora eu pense que, em alguns lugares, ainda é muito baixo a velocidade, podia ser um pouco maior - relata.

O Diretor Geral do CFC Viacentro afirmou que a escolha pela velocidade máxima de 50 km/hora é adequada. Isso pois, segundo ele, estudos comprovam que o risco para pedestres em atropelamentos a 50 km/hora é muito inferior aos casos em que o carro está a 60 km/hora, reduzindo a mortalidade em eventuais acidentes.

O professor do Departamento de Transportes - CT/UFSM, Carlos José Antônio Kümmel Félix, ainda reitera que o excesso de velocidade é um fator comprovado de risco de acidentalidade. Neste sentido, a instalação dos controladores leva em conta os locais considerados de alto risco em razão do desrespeito aos limites de velocidade. Segundo Félix, o limite de velocidade excessiva é estabelecido pelo tipo e uso de determinada via e devem seguir a normatização técnica e resoluções do CONTRAN.

- A velocidade veicular excessiva aumenta a frequência de acidentes, reduzindo o tempo disponível para decidir a manobra correta e aumentando o tempo ou a distância necessária para parar, ou até mesmo reduzir a velocidade do veículo evitando colisões com outros veículos, conflitos com pedestres e ciclistas ou desviando de obstáculos - explica o professor.

A Rosane Puhale, 51 anos, autônoma, percebeu essa relação apontada pelo professor, principalmente, após a instalação dos controladores na Avenida João Luiz Pozzobon. Para ela, a população está mais atenta no trânsito, trafegando dentro dos limites e evitando acidentes.

- Depois que foi colocado, eu notei que todo mundo está se controlando. Já teve muitos acidentes, principalmente aqui na frente. Eu acho que resolveu bastante - relata.

ARRECADAÇÃO DAS MULTAS
Outra preocupação dos motoristas ouvidos pelo Diário é a manutenção das vias. Charles Moro, 22, entregador, levantou a questão.

- Por um lado é bom para a segurança. Mas, por outro lado, é ruim porque o cara que está todo dia na rua e leva uma multa por nada. Outra coisa é a manutenção das ruas, está muito precário. Acho que tinham que dar mais atenção para as ruas do que investir nos controladores - comentou Charles, multado em setembro no controlador da Avenida Dores com a Avenida Medianeira.

Com relação às multas, o promotor de vendas William Dias, 24 anos, sinaliza o impacto dos controladores para a categoria específica e a preocupação com o destino da verba arrecadada.

- Tem o lado dos trabalhadores, no caso os motoboys e os tele motos, que, às vezes, atrasam muito (em função dos controladores). Isso também gera muita multa e muito dinheiro (para a prefeitura).

Em entrevista ao programa F5 da CDN, Orion comentou como são utilizados os recursos captados pela aplicação de multas e citou o artigo 320 do Código de Trânsito Brasileiro que diz que "A receita arrecadada com a cobrança das multas de trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito".

Na mesma entrevista, ele afirmou que está em curso a elaboração de um relatório que discriminará o destino de toda a verba arrecadada pela prefeitura por meio das aplicações de multas. Entretanto, afirmou que ainda não há uma previsão para a conclusão deste documento.

AVALIAÇÃO POSITIVA DE PEDESTRES E CICLISTAS
O Diário também ouviu a opinião dos pedestres e ciclistas sobre os controladores de velocidade. Para a operadora de caixa Julie Sabrina Martins, 24 anos, os aparelhos garantem maior segurança para quem circula nas ruas da cidade, já que os motoristas têm mais calma e vem com menor velocidade ao se aproximarem da faixa de pedestre.

Esta opinião ainda é compartilhada pela servidora pública Marli Vieira, 53 anos, que é pedestre e motorista.

- Melhora bastante porque a gente dirige com mais atenção e reduz a velocidade. O motorista tem mais cuidado e facilita para o pedestre também - comenta.

O ciclista Otavian Goulart, 59 anos, avalia que, com a instalação dos controladores, ficou mais seguro pedalar nas ruas da cidade.

De acordo com as observações do professor Félix, os "dados da Organização Mundial da Saúde apontam que um em cada três acidentes de trânsito no mundo é causado pela velocidade excessiva".

AÇÕES EDUCATIVAS
A prefeitura afirma que os controladores têm também um propósito educativo, e que as infrações reduziriam com o tempo, dado que os condutores se acostumariam com os radares. A diminuição vista nas multas entre os meses de agosto e setembro seriam reflexo disso.

Mas, para o professor Cesar Felix, os dados disponíveis até o momento não são decisivos e é necessário mais tempo.

A redução do número de multas pode ter sido influenciada pela intensa divulgação dos dados, que mostrou os locais e a velocidade fiscalizada. Deve ser mostrado ainda mais a situação específica de ponto crítico do local para que efetivamente se mude o comportamento do tráfego no local, reduzindo o potencial de risco de acidentalidade - afirmou o professor.

Ou seja, é necessário ações educativas continuadas para a conscientização da população, a fim de evitar que os números de infrações voltem a subir. Situação que, apontou Felix, já é sabida pela prefeitura.

Como já manifestado pela gestão pública é necessário continuar com as ações de prevenção, fiscalização, acompanhamento e melhorias na via e nos entornos, chamada de engenharia de tráfego, além da sinalização e existência de controladores - afirmou o professor.

Nos últimos meses, a prefeitura realizou blitze educativas e simulações de acidentes, mas, como explicou Felix, as iniciativas precisam ser pensadas a longo prazo.

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