Prisões superlotadas de pequenos traficantes de drogas, ladrões, agressores, enquanto cabeças de organizações criminosas agem nas sombras ou em posições sociais que, em tese, os colocam na condição de cidadãos acima de qualquer suspeita. Alguns poucos chegam a ser processados e, destes, uma minoria tem sentença condenatória.
Há casos notórios e emblemáticos, helicóptero de propriedade de parlamentar caiu com meia tonelada de cocaína e não se sabe de quem era e para onde ia a droga? É crível? Um sargento da FAB é preso com 31 quilos de cocaína em voo da comitiva presidencial para a Espanha. O sargento foi preso, mas de quem era a droga, para onde era destinada? Não se sabe.
O mesmo ocorre com a maioria dos casos de corrupção que são descobertos e chegam a ser denunciados. A mão da lei alcança tão somente os operadores do sistema, nunca chega aos verdadeiros mentores e beneficiários maiores do esquema.
Esta criminalidade, cometida por corruptos e corruptores de toda ordem, na atividade pública e privada, nunca, quando investigada, chega até a cabeça do polvo – consegue apenas identificar e punir alguns de seus tentáculos.
As prisões estão cheias de ladrões, traficantes, homicidas, abusadores, enfim de delinquentes que transgrediram a lei no varejo, mesmo nos casos de reincidência. Comparados os danos causados ao patrimônio e a vida das pessoas pelo delinquente comum e os “criminosos de ficha limpa”, colarinhos brancos, acima de qualquer suspeita é fácil perceber que um único crime cometido por um grupo de inteligência ou por um só funcionário de um ministério, de um banco, uma grande empresa, um hospital produz mais dano (medido pelo custo social, econômico e número de vítimas) que aqueles causados pela totalidade dos que praticaram delitos contra a propriedade e até mesmo contra a vida que foram processados e condenados.
Afinal, quando são desviados recursos destinados à saúde, seja por agentes públicos ou entidades privadas, pessoas estarão sofrendo ou morrendo (assassinadas) porque não lhes chegam aquilo a que teriam direito. Verbas da educação desviadas geram abandono às crianças e sonegam possibilidade de melhora da sociedade, gerando maior número de pessoas carentes de conhecimento e preparo para atividades laborais.
O “capo” dos traficantes não só trafica, também lava dinheiro, corrompe o sistema como um todo, mas sua face pública geralmente é moralista e, assim, o delinquente econômico excepcionalissimamente cai na rede de investigações.
Convém aos macro criminosos manter divulgação da delinquência urbana como bode expiatório, que faz com que olhos e pensamentos do povo fixem nisto e não percebam que há uma cortina de fumaça a encobrir outros crimes muito mais sérios gerados pela delinquência econômica.
Pior de tudo, quando um graúdo é condenado, seu círculo social não o exclui, ao contrário, o compreende.
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