Foi um misto de surpresa e de satisfação que a promotora do Ministério Público em São Gabriel, Lisiane Veríssimo da Fonseca, sentiu ao achar, por meio de uma pesquisa na internet, o paradeiro de Paulo Afonso Correa De Bem, que havia sido condenado pela morte da ex-noiva, em 1993. Ele estava foragido há mais de 20 anos, mas, em 2011, logo após a condenação a 16 anos de prisão, Lisiane descobriu que Paulo Afonso vivia na França.– Após a condenação, em 2011, procurarmos o nome dele em dados abertos. E através do Google, foi localizado o currículo dele, de serviços de segurança, com endereço em Aix-en-Provence, uma cidade no sul da França. Com isso, encaminhamos essa notícia para a Polícia Federal solicitando a inclusão do mandado de prisão preventiva na chamada Difusão Vermelha, um serviço da Interpol para procurados internacionais. Senti um misto de surpresa, porque não imaginava. Talvez ele acreditasse tanto na impunidade, que se descuidou nesse ponto de colocar o endereço num currículo com dados abertos, mas também uma satisfação de ver que era possível o cumprimento dessa decisão. Mas foi surpresa na época, não se imaginava que estivesse na Europa. Mas são coisas do destino, e a mão de Deus, que esteve em diversos momentos desse caso – afirmou a promotora, em entrevista à Rádio CDN.Lisiane relembra que, ainda nos anos 1990, Paulo Afonso chegou a prestar depoimento e alegou que o disparo que matou a noiva, Nubia Beatriz da Fontoura Farias, 23 anos, teria sido acidental. Quando a Justiça decidiu que ele iria a júri popular, na metade dos anos 1990, Paulo Afonso desapareceu. Foi só em 2011 que o MP descobriu seu paradeiro.– Ele foi localizado na França, e o processo de extradição teve início. A gente teve dificuldade porque para as autoridades na França, e na Europa como um todo, quem responde a um processo dessa gravidade, não responde solto, não responde em liberdade. As autoridades francesas não compreendiam como ele estava respondendo a um processo por homicídio e estava solto, e ainda teve condições de viajar tranquilamente. Ele alegava para as autoridades francesas que não tinha conhecimento desse processo. Então, só a partir desse esclarecimento e encaminhamento de cópias, além das necessárias e normais para uma extradição, que foi determinada a extradição. Até porque ele já era cidadão francês. Ele tinha recebido nacionalidade francesa por conta de ter se alistado na Legião Estrangeira e atuado em guerra – conta Lisiane.
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Paulo Afonso, que hoje tem 50 anos, foi preso em 2018, em Aix-en-Provence, no Sul da França, para o processo de extradição ao Brasil. Dois anos depois, chegou a ser solto, mas acabou sendo preso definitivamente agora, quando a ação de extradição foi concluída. Ele chegou ao Brasil no início de junho e já está cumprindo pena no Presídio Estadual de São Gabriel.– A gratificação é de a Justiça realmente ser feita. A gente sabe que nenhuma pena repara a perda de um ente querido e a dor dessa família que perdeu a filha, a irmã. Mas é o que nós temos de justiça, e que pelo menos que essa justiça que temos se cumpra. Não é a ideal, a gente sempre imagina que um tempo a mais de pena seria o adequado, como forma de minimamente reparar esse mal tão grave que foi cometido e tão injustificado. A tristeza que se fez para uma família e uma comunidade inteira, pois a Núbia era uma pessoa muito querida na cidade. A gente se sente do lado do bem, fazendo alguma coisa que tem importância para a sociedade. E também conscientizando de certa forma, que a Justiça tarda, mas não falha. E é isso mesmo. As pessoas não podem acreditar na impunidade. A punição, neste caso, veio, e é muito gratificante ter participado disso – comentou a promotora Lisiane Veríssimo.Deni Zolin, [email protected]