Dois anos da tragédia

Santa Maria, uma cidade em transformação

Lizie Antonello

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Já se passaram quase dois anos da tragédia na boate Kiss, e é verdade que ainda sentimos as consequências daquela noite terrível. Mas também é verdade que somos, hoje, uma cidade em transformação. É praticamente consenso que o maior aprendizado que tiramos dessa dolorosa lição, até o momento, foi quanto à prevenção - e não só contra incêndios. Muitos especialistas, autoridades e moradores  de Santa Maria acreditam que já avançamos muito nesse quesito. Para outros, ainda há um longo caminho a percorrer. E há aqueles que acham que não nos tornamos mais prudentes, porque não é da cultura dos brasileiros aprender com exemplos. Certo é que nunca mais seremos o que éramos antes de 27 de janeiro de 2013. E para todos, a opinião é unânime: para ser uma cidade melhor no futuro, Santa Maria depende de cada um. E de todos: órgãos públicos e cidadãos.

O "Diário" falou com jovens e com os pais deles, com representante das vítimas, com lideranças políticas de Santa Maria e da região, com o prefeito Cezar Schirmer e com especialistas das áreas técnicas e humanas para saber de que forma a tragédia impactou os santa-marienses, a engrenagem da máquina pública e privada no município, que mudanças trouxe e como será a cidade daqui a cinco, 10 anos. O resultado é uma série de reportagens que será publicada no jornal a partir desta edição.

Um passo de cada vez, mas andando

De forma gradual, nos últimos dois anos, Santa Maria deixou o luto e voltou a se movimentar. Cientistas sociais, políticos e empresários acreditam que a tragédia na boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, não mudou a dinâmica do município para a maioria da população. O comércio, os serviços, as instituições de ensino e os transportes continuaram funcionando, com uma ou outra alteração. O principal efeito do incêndio foi percebido mesmo na máquina pública que ficou mais lenta.
De acordo com a coordenadora do curso da História do Centro Universitário Franciscano (Unifra), Roselâine Casanova, a tragédia é lembrada, mas a cidade se desenvolve da mesma maneira, ou seja, não perdeu suas características:
- Santa Maria é uma cidade moderna, dinâmica. Em termos econômicos, é mais pobre do que Caxias do Sul e Pelotas, mas, em vivência e em conhecimento, é muito mais cosmopolita que essas outras, pelo contingente de pessoas que chegam e saem.

Talvez esse dinamismo faça com que, passados 24 meses, a maior parte da população não sinta diretamente os efeitos da tragédia. Porém, nos setores privados da construção civil e do comércio e nos órgãos públicos - bombeiros e prefeitura -, as consequências ainda são vividas de forma intensa, dia após dia. Houve um período de estagnação em 2013 e, hoje, ainda persistem dificuldades.

Atualmente, a tramitação de projetos e de licenças ocorre em ritmo bem mais lento do que antes. É que as análises se tornaram mais criteriosas e complexas com a nova legislação de prevenção, publicada em junho de 2014.

Luiz Fernando Pacheco, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), concorda com as exigências, mas considera que a cidade não tinha estrutura pública para comportar essas mudanças que vieram a tão curto prazo:
- Talvez levássemos 20 anos para chegar nesse nível que estamos de legalidade e exigência. Mas, por causa da tragédia, pulamos tudo isso em dois anos. Daí, a dificuldade de as empresas se adequarem e de bombeiros e prefeitura conseguirem dar conta de toda a demanda que surgiu.

O engenheiro civil Adelson Rodrigues Gonçalves, que trabalhou na elaboração da lei municipal contra incêndio em 1991 e na nova lei estadual, concorda:
- A estrutura está sempre aquém da necessidade. Tanto a do município quanto a do Estado são insuficientes para o volume de atividades da cidade. Ainda hoje, os processos são demorados.

Para o prefeito Cezar Schirmer, o impacto do incêndio na casa noturna foi sentido por todos, em diferentes aspectos:"

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