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Santa Maria ainda não teve doação de órgãos em 2021

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A doação de órgãos é um processo complexo, que envolve equipes multiprofissionais, logística e integração entre instituições e setores de regulação estaduais e nacionais, além do consentimento de familiares de possíveis doadores. Até por isso, os números de captação de órgãos em Santa Maria têm sido baixos. Em 2021, não há registro de doação de órgãos na cidade. Em todo o Estado, em cerca de 30% dos casos de potenciais doadores após a constatação de morte encefálica, a recusa familiar é o motivo para a não captação dos órgãos.

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Em Santa Maria, conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), quatro hospitais tiveram pelo menos uma captação de órgãos desde 2019: o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), o Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, antigo Hospital de Caridade, o Hospital São Francisco e o Hospital da Unimed, considerado um hospital transplantador. Em nenhum dos hospitais houve captação em 2021. No São Francisco, a única captação aconteceu em 2020. No Husm, foram feitas 11 notificações de possíveis doadores, mas o processo não teve continuidade. No Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, foram quatro. Conforme dados do Estado, são dois os principais motivos para isso: contraindicações médicas (47% da não efetivação), descobertas na série de exames e procedimentos protocolares realizados antes da captação para garantir a condição de doador, e recusa de familiares (29%). A diminuição da captação de órgãos é uma tendência nacional, por conta da pandemia, da lotação das UTIs e risco de contaminação. A queda nas doações foi de cerca de 20% em relação ao período anterior a pandemia, conforma a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).

- Até estamos tendo boas respostas das famílias em relação a aceitar a doação. Mas temos muitos pacientes com comorbidades, por exemplo, o que não permite a doação. No último mês, tivemos três pacientes que teriam condições de doações, que a família aceitou, mas descobrirmos contraindicações médicas - explica Cíntia Lovato Flores, enfermeira do Husm e integrante da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Husm, que existe desde 2000.

FILA DE ESPERA

Só no Rio Grande do Sul, são 2.234 receptores ativos à espera da doação de um órgão, conforme dados de agosto da SES-RS. A maior demanda é por rins (1.076 pessoas). Mas o número de doadores está em queda. O ápice foi em 2017, com 295 doadores efetivos. Em 2020, ano de pandemia, o número de doações foi o mais baixo desde 2011, com 182. Neste ano, já foram 107 doadores e restam apenas quatro meses para contabilização.

- Temos uma necessidade enorme desses transplantes. Há uma fila enorme. A gente não consegue, a nível nacional ou estadual, dar conta do número de pessoas que necessitam de um órgão - relata Cíntia.

A CIHDOTT do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo existe há mais de 20 anos, mas teve a demanda impactada pela pandemia. Em 2019, foram 6 doadores efetivos. Em 2020, esse número caiu para 1 e em 2021 ainda não houve doação.

- A pandemia impactou muito na captação de órgãos. Houve uma redução importante até em função das restrições relacionadas ao acesso das famílias para visitar seus doentes e dificuldade de informações pelo fato de que os doentes graves nas UTIs recebem informações via telefone - explica Luciele Shifelbain, médica coordenadora da CIHDOTT do hospital.

Como a pandemia tem impactado no processo de doação de órgãos

Na última segunda-feira, foi comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. A data foi instituída por lei em 2007 justamente para trazer o tema para o debate público.

- O tabu relacionado a doação de órgãos reflete o tabu relacionado a morte, as pessoas não falam sobre a morte e o morrer, não pensam nisso, "afinal só acontece com os outros". É importante que as pessoas conversem sobre o assunto não só relacionado a doação de órgãos, mas como cada um gostaria de ser tratado quando não puder tomar decisões sobre a sua saúde e os tratamentos que gostaria de ser submetido ou não - argumenta Luciele.

A decisão pela doação ou não dos órgãos é exclusiva dos familiares.

- Há a necessidade do consentimento familiar. Então, é preciso falar aos familiares a vontade de ser um doador. Se o familiar, no momento que colocarmos que uma pessoa é um potencial doador de órgãos, disser que não, não podemos abrir o protocolo. Então é importante deixar isso sempre claro aos familiares - explica Carine Gomes, responsável pelo setor de Enfermagem e CIHDOTT do Hospital São Francisco.

NOTIFICAÇÕES E CAPTAÇÕES DE ÓRGÃOS POR ANOS EM HOSPITAIS DE SANTA MARIA

Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo

  • 2019 - 15 notificações, 6 doadores efetivos com 18 órgãos captados (12 rins, 5 fígados e 1 coração)
  • 2020 - 10 notificações, 1 doador efetivo com 2 órgãos captados (2 rins)
  • 2021 - 4 notificações, sem doador efetivo

Hospital Universitário

  • 2019 - 15 notificações, 8 doadores efetivos com 26 órgãos captados (16 rins, 5 fígados, 1 coração, 4 pulmões)
  • 2020 - 9 notificações, 2 doadores efetivos com 5 órgãos captados (4 rins, 1 fígado)
  • 2021 - 11 notificações, sem doador efetivo

Hospital São Francisco

  • 2020 - 1 notificação, 1 doador efetivo com 2 órgãos captados (2 rins)

Hospital Geral da Unimed

  • 2020 - 1 notificação, 1 doador efetivo com 2 órgãos captados (2 rins)

TOTAL DE DOADORES EFETIVADOS NO ESTADO

  • 2015 - 245
  • 2016 - 284
  • 2017 - 295
  • 2018 - 238
  • 2019 - 243
  • 2020 - 182
  • 2021 - 107 (até agosto)

Motivos da não efetivação da doação de órgãos após morte encefálica no Estado (2021)

  • Contraindicação médica - 167 (48%)
  • Negativa Familiar - 99 (28%)
  • Parada Cardiorrespiratória - 16 (5%)
  • Diagnóstico de morte encefálica não confirmado - 59 (17%)
  • Outros - 9 (3%)

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