caso kiss

Primeira vítima a depor no júri da Kiss teve 40% do corpo queimado e ficou 46 dias internada

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Passada a manhã reservada para o sorteio de jurados, os depoimentos dos sobreviventes do incêndio na boate Kiss começaram por volta de 14h15min no Foro Central I, em Porto Alegre. A primeira a depor foi a ex-funcionária Kátia Giane Pacheco Siqueira. A vítima teve 40% do corpo queimado no incêndio e ficou 46 dias hospitalizada. Durante a fala, ela se emocionou algumas vezes ao relembrar a madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 e o doloroso tratamento médico. 

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Por estar grávida, a acusação, que fez a indicação de Kátia para depor, pediu que ela fosse a primeira vítima a ser ouvida, o que foi acatado pelas outras partes. Em depoimento, ela afirmou que trabalhava na cozinha e no bar da boate há cerca de seis meses quando o incêndio aconteceu. Na época em que ela foi contratada, disse que sempre manteve contato com Ângela, irmã de Elissandro Spohr, o Kiko, ex-sócio da boate.

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Ainda de acordo com Kátia, a boate funcionava de quinta-feira a sábado. A movimentação variava de 300 a 400 pessoas, em dias "sem movimento" e nos dias mais cheios "não dava para caminhar lá dentro", afirmando que, em determinadas situações, o público na boate já chegou a 1,2 mil pessoas. O dia do incêndio era de grande movimento, segundo ela. 

- Era um labirinto. Eu mesma, que trabalhava lá, não consegui sair - resume a vítima, ao ser questionada sobre a estrutura da boate. 

Em outro momento, a vítima falou sobre a lotação dentro da casa noturna:

- Quanto mais pessoas tivessem dentro da boate, melhor. Tanto pela parte da casa, de querer ter mais movimento, quanto da parte dos adolescentes. Se estava lotada, era sinal de que a festa estava boa. 

Acompanhe a transmissão ao vivo do primeiro dia do júri do caso Kiss

Ao contar sobre a madrugada da tragédia, Kátia não conseguiu controlar a emoção:

- Eu estava na cozinha e a luz caiu. Eu escutava gente gritando "fogo" e gente gritando que era briga. Na hora, eu não enxergava nada. Quando senti que era fogo, eu me desesperei. Eu estava com outra menina, a Janaiana, que acabou morrendo. Eu tentava sair pela porta da frente, e as pessoas ficavam empurrando no sentido contrário.

A ex-funcionária contou, ainda, que desmaiou logo após o incêndio começar. Um tempo depois, ela acordou e gritou pedindo ajuda.

- Eu acabei desmaiando lá dentro e acordei com as pessoas perguntando se tinha alguém ali onde eu estava. Duas pessoas tentaram me tirar, mas tinha gente em cima de mim, então, tentaram me puxar, mas não conseguiram. Eu me agarrei nas penas de uma pessoa e só assim conseguiram me tirar de lá - relembra.

Kátia também disse que se recorda do uso de artefatos pirotécnicos em outros eventos dentro da boate. 

INTERNAÇÃO

A sobrevivente relata que, assim que saiu da boate, foi encaminhada para um hospital de Santa Maria. Depois, devido à gravidade das lesões, foi transferida para Porto Alegre.

- Tentei ligar para minha mãe e meus tios, já nos hospital. Nisso, começou a me dar falta de ar. Avisei a menina que estava perto que eu não conseguia respirar. Me colocaram na maca e fui para o Hospital de Clínicas em Porto Alegre, onde fiquei 21 dias intubada, com 40% do corpo queimado. Tive parada cardiorrespiratória e quase morri. No total, fiquei 46 dias em hospitais - contou. 

Nos anos seguintes ao incêndio, Kátia fez tratamento psicológico e psiquiátrico. Na pele, ela carrega diversas marcas de queimadura, principalmente no braço. 

- Mas, toda vez que ia na consulta, me perguntavam sobre o acidente. Só que, em vez de melhorar, eu regredia. Coloquei na cabeça que não iria pensar no assunto, não assistia mais reportagens da boate. Quando me perguntavam das queimaduras, eu falava que era só um acidente. O que me preocupou mesmo foi ter que testemunhar agora, relembrar tudo de novo. Eu estou aqui chorando e pensando na minha filha, que está na barriga, e que está sentido toda a minha dor - revelou.

RELAÇÃO COM OS RÉUS

Dos quatro réus, a sobrevivente recorda ter encontrado apenas Elissandro Spohr do lado de fora da boate, durante o incêndio:

- Eu vi o Elissandro lá fora. Meus braços ardiam, porque a pele estava caindo, e minha visão estava embaçada. Dois colegas perguntavam como eu estava, falei que estava bem. Eles mandaram eu ir ao hospital. Ele (o Elissandro) perguntou o que estava acontecendo lá dentro e se eu estava bem. Disse que ia ver o resto das pessoas, e saiu.

Em relação ao outro sócio, Mauro, Kátia disse que "ele não aparecia muito", mas que em uma quinta-feira à tarde, em dia de pagamento, viu ele na boate. 

- Quem cuidava da parte do pagamento era a Ângela, irmã do Kiko - comentou. 

SAÍDAS

Perguntada se havia indicação sobre a saída, Kátia disse que havia luz de emergência na porta de saída da boate, mas não se recorda se havia indicação de saída. Segundo a vítima, havia luz de emergência também no banheiro.

COMANDAS

Questionada pela promotora sobre o procedimento da casa em relação às comandas, a vítima disse que havia uma multa para quem perdesse o documento: 

- Havia um valor a mais se perdesse a comanda. Tinha de pagar. 

Em determinado momento, a promotoria mostrou um cartaz apreendido, de divulgação da banda Gurizada Fandangueira, em que havia o desenho de fogos. Questionada se já havia visto o cartaz, Kátia disse que não. Quando o MP perguntou se era hábito apresentações com fogos, e se havia assistido algum show da banda, ela disse que não lembrava. 

PERGUNTAS DA DEFESA
Após os questionamentos realizados pela acusação e pelo juiz, os advogados das quatro defesas puderam fazer perguntas para a sobreviventes. Leonardo Sagrilo, da defesa de Elissandro Spohr, diz que foi o réu quem teria tirado Kátia de dentro da boate. A informação é do depoimento de 2013 de Natália, esposa do ex-sócio. Kátia diz que não se lembra quem a tirou de dentro da boate.

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