Precisa atendimento em saúde? Vai ao médico de família!

Quem acompanha o crescimento do número de brasileiros em Portugal e que considera, quem sabe um dia, sair do Brasil, tem muita curiosidade sobre a saúde pública em terras lusitanas.  Aqui, existe saúde pública, chama-se SNS Sistema Nacional de Saúde. Mas o serviço não é totalmente gratuito. Alguns atendimentos e procedimentos são cobrados, claro que o valor é acessível e bem menor do que o praticado pelo serviço privado.

Quando cheguei aqui, eram cobradas taxas moderadoras por diversos serviços. Em junho de 2022, o governo extinguiu a cobrança da maioria. Ainda é preciso pagar quando se vai até o serviço de urgência e emergência dos hospitais públicos, sem ter sido encaminhado pelo médico de família. A taxa varia entre 14 e 20 euros (cerca de 100 reais), podendo ser taxado também alguns procedimentos e exames, sendo que o valor máximo permitido é de 40 euros (200 reais). Existem vários grupos que estão isentos das cobranças, como grávidas, crianças e jovens até 17 anos; bombeiros, desempregados inscritos no Centro de Emprego, entre outros.

Tanto para os portugueses quanto para estrangeiros, é preciso se inscrever em um Centro de Saúde, normalmente o mais próximo da casa do paciente ou onde tenham vagas disponíveis. Com documento de identificação e devidas autorizações para morar no país, no caso dos imigrantes, faz-se um cadastro. Para cada pessoa é designado um médico de família. Ou seja, um clínico geral que vai fazer o atendimento básico. O médio tem uma ficha com todos os dados dos pacientes. No nosso caso, nós quatro temos o mesmo médico de família. Vamos até o posto para consultas das crianças ou dos adultos. Se necessário, o paciente é encaminhado a um especialista. Eu, por exemplo, fui a uma consulta devido a uma dor na coluna cervical, o médico pediu exames e como constatou que se tratava de uma hérnia de disco, fez o meu encaminhamento para um especialista. Aí entra uma questão que preocupa o sistema – os pedidos de atendimento com especialistas demoram. Minha consulta levou 6 meses. Algumas especialidades tem ainda mais tempo de espera.  No posto de saúde onde temos cadastro também são feitas as vacinas – eles enviam correspondência avisando que tem vacina por fazer e marcam dia e hora; consultas ginecológicas (ginecologista ou urologista só para casos que requeiram um profissional especialista).

Em maio, a Isabella, minha caçula, estava brincando em um parque infantil ao lado de casa e caiu da escada do escorregador. Um tombo de mal jeito e… braço quebrado. Ela disse que não conseguia mexer e um socorrista que estava no local com o filho sugeriu que eu chamasse o INEM – serviço de ambulância e primeiros socorros. Fomos de ambulância ao hospital, onde foi feito um raio X que constatou a fratura. Como era bem próximo ao ombro, não colocaram gesso, apenas indicaram uma tipoia e pediram para ficar imobilizado por 1 mês sendo que na metade deste tempo ela foi ao hospital fazer novo raio X para avaliação. Tivemos apenas o gasto com a tipoia, porque como ela é criança não paga taxa moderadora. Não preciso nem dizer que passei um mês de olho nela – inclusive durante a noite – pois como garantir que não mexesse o braço, usando apenas uma tipoia? Mas… deu certo e como tudo deixa uma lição, agora ela não corre (ou corre menos) nos parques e também sabe escrever o nome e fazer traços básicos com a mão esquerda.   

Desde o início da pandemia, tem uma linha de atendimento telefónico chamada SNS 24 que orienta os pacientes – serve tanto para suspeitas de Covid como para outras patologias. Se o médico que fizer o atendimento à distância verificar que se trata de uma emergência, encaminha o paciente ao hospital e sendo encaminhado pelo SNS24 as taxas moderadoras também não são cobradas.

E é basicamente assim que funciona o sistema de saúde pública por aqui.