Fotos: Nathália Schneider (Diário)
Próximo a chamada "Ponte do Cadena', na Avenida Borges de Medeiros, empresário construiu uma contenção para evitar a erosão do solo e assoreamento do arroio
É um problema antigo. Com 14 km de extensão somente na área urbana e atravessando pelo menos 13 bairros, o Arroio Cadena, que até 1930 abastecia a população de Santa Maria, passou a receber esgoto sanitário e inúmeros resíduos descartados pela população. Com o tempo, o arroio passou a contar com mais lixo e entulho do que água corrente.
Em 2020, contudo, um empresário da cidade começou uma empreitada para tentar mudar o cenário, pelo menos no trecho do arroio próximo à seu estabelecimento comercial, na Avenida Borges de Medeiros. Sem depender do trabalho do poder público, Ademir Gaidarji, de 58 anos, procurou profissionais e construiu um muro para evitar o desmoronamento de terra próximo à chamada Ponte do Cadena, na Região Oeste da cidade. Ele gastou cerca de R$ 500 mil na primeira fase das obras e R$ 400 mil na finalização.
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O empresário garante ter todas as licenças municipais para a execução do projeto. Agora, ele também fará o plantio de árvores no entorno do local, em compensação às que precisaram ser retiradas para a obra. Ademir espera que sua atitude possa inspirar outros cidadãos e, até mesmo, o poder público.
– A nossa empreitada aqui começou há uns quatro anos. Corri atrás de todas as licenças ambientais, fui junto à prefeitura, me cerquei de profissionais, engenheiros civis e ambientais e apoiadores. Depois, parti para a limpeza do arroio, que estava muito poluído e a água mal fluía no leito. O pessoal jogava muito lixo.
Conforme Ademir, com o passar do tempo, devido à poluição, o descarte irregular de resíduos e às chuvas, a água vinha tomando cada vez mais terreno ao lado de seu estabelecimento comercial, até que, em um temporal, parte da terra caiu, o que intensificou o processo de assoreamento do trecho do curso d'água, que pertence à bacia hidrográfica do Rio Vacacaí-Mirim.
CONTENÇÃO
A primeira etapa da obra consistiu na construção de um muro de gabião (espécie de cerca de fiso de aço, flexível e de grande durabilidade e resistência) com cargas de pedra, de cerca de 150 metros de extensão e quatro metros de altura. Isso ajuda a conter a erosão do solo.
– Para dar um fim a essa situação e tentar moralizar um pouco esse arroio que já foi tão importante, eu decidi dar um bom exemplo e a comunidade me abraçou. Também é uma forma de retribuir o apoio das pessoas ao meu trabalho. Também resolvi fazer essa contenção para mudar um pouco o cenário dessa Avenida, que estava bem desacreditado e feio.
Ademir Gaidarji acredita que, à medida que a população tomar conhecimento de sua ação, talvez mais pessoas queiram começar a investir também em melhorias no Arroio Cadena. Para o empresário, o poder público não precisaria fazer grande investimento, mas um apoio técnico bastaria:
– Quem sabe criar incentivos, desconto nos impostos de quem, dentro da lei, pode fazer um pouco por todos. O poder público é cercado de técnicos que podem apoiar. Muitas pessoas da sociedade têm essa vontade de ajudar, mas emperram na burocracia. Não é fácil tirar uma licença ambiental hoje em dia, por exemplo. Também sei que uma obra como essa não é barata. Então é preciso uma parceria, alguém que entenda, dialogue com quem já fez e puxe a frente – finaliza Ademir Gaidarji.
Procurada para comentar a ação do empresário e fornecer dados sobre a atual situação do Arroio Cadena, a Secretaria do Meio Ambiente informou que a demanda foi encaminhada à superintendência de Monitoramento e Fiscalização dos Serviços de Água e Esgoto. O órgão pediu tempo para responder com mais precisão os questionamentos e não havia encaminhado respostas até a publicação dessa matéria.