Nossos professores estão em greve. De novo. Desde que me conheço por gente, o magistério gaúcho faz greves periódicas em que pleiteia basicamente a valorização do próprio trabalho e, claro, da atividade educacional. Desde 1980, já foram mais de 15 movimentos paredistas, alguns grandes e coesos, outros nem tanto.
Na greve atual, reivindicações absurdamente simples estão na pauta: o pagamento pontual e integral dos salários, além do reiterado pleito por melhores condições de trabalho. Não se reivindica nenhum reajuste absurdo, nenhum privilégio exclusivo nem sequer um auxílio-moradia de R$ 4,7 mil por mês.
Todavia, muito embora os pedidos sejam triviais e justos, arrisco-me a um vaticínio pessimista: a greve de 2017 não será exitosa, assim como não foram as tantas outras que marcaram as últimas décadas. O fracasso recorrente dos professores em se fazer ouvir se dá, não por sua inépcia ou incoerência, mas por absoluta falta de apoio popular e midiático às suas reivindicações.
Em sua luta, os professores estão desamparados, e isso não é de hoje. A luta pela educação, historicamente, não é encampada pela grande imprensa ou pela sociedade em geral. A mesma mídia que, no último dia 15, veiculou belas homenagens alusivas ao Dia do Professor, insiste em retratar os docentes grevistas como inconsequentes e irresponsáveis.
Nas conversas privadas, muitos daqueles que nas redes sociais publicaram dizeres elogiosos e mensagens de carinho aos professores, mudam o tom quando o assunto são suas reivindicações e iniciam um rosário de críticas personalistas e desdenhosas sempre que esses cometem a ousadia de lutar por algo que não diz respeito apenas a si.
Uma greve, senhores, é algo ruim, mas desconsiderá-la é muito pior. Uma greve não é apenas um período de ócio deliberado ou uma picardia inconsequente. É a única maneira que uma categoria, desde sempre ignorada, que não conta com o poder da caneta nem do dinheiro, tem de dizer à sociedade o quanto se sente massacrada e quão urgente é o atendimento de suas reivindicações.
Professores fazem greve, não por perversão, mas porque não têm o poder de, na base do ''canetaço'', conceder benefícios a si próprios, como outros por aqui fazem. Uma greve de professores, mais do que um simples ato eleitoreiro, como querem fazer crer alguns, é uma súplica, um brado que deveria ser retumbante, mas não é. Não é porque quem deveria ouvir se finge de surdo.
É uma pena que a população não tenha percebido que a defesa da educação passa necessariamente pela adesão às pautas daqueles que fazem a educação. É uma pena que o discurso pela valorização dos professores e da educação seja apenas isso: um discurso. É uma pena que a alardeada preocupação com a educação pública não passe de hipocrisia descomprometida. É uma pena que eu não tenha motivo nenhum para deixar de ser pessimista. Bom, sigo pessimista, mas sigo solidário. Nossos professores merecem.