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Novos quebra-molas na Faixa Nova geram polêmica e impactos no trânsito

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

A instalação de dois quebra-molas na RSC-287, a Faixa Nova de Camobi, ainda em outubro, gerou questionamentos, acidentes e impactou na rotina de quem utiliza a via diariamente. As estruturas reduziram significativamente a velocidade dos veículos no trecho, compreendido entre o complexo esportivo Dalla Favera e o Atacadão, e foram construídas dentro do pacote de recuperação asfáltica em trechos mais críticos da Faixa Nova e ERS-509 (Faixa Velha), orçado em torno de R$ 2,5 milhões.

O Diário pediu ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) os estudos que embasaram a construção dos quebra-molas. Contudo, a entidade não enviou o material. A instalação de lombadas no Brasil é proibida desde 1998. Entretanto, existem exceções, regulamentadas pela Resolução 600 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), editada em 2016.

Em resumo, a lombada deve ser a última alternativa e só pode ser instalada após estudo técnico. A colocação da ondulação transversal ainda depende de autorização expressa do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via, após estudo de outras alternativas de engenharia de tráfego. Ainda conforme a regulamentação, em rodovias, como é o caso da Faixa Nova, pode ser instalada só a lombada do Tipo A, com comprimento mínimo de 3,7 metros e altura máxima de 10 centímetros.

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Conforme Carlos Félix, professor da UFSM e doutor em Mobilidade Urbana, as lombadas convencionais são eficientes ao reduzir a velocidade na maioria das condições de tráfego. Porém, também implicam em uma série de outros impactos:

- Atraso de veículos de emergência, a penalização de pessoas com necessidades especiais, além da demora do tráfego em geral. Além de uma perspectiva mais ampla, contemplando a área de influência e as mudanças que podem ocorrer com a migração do tráfego para outras vias, podendo aumentar acidentalidade nestas e à indução de uso do solo e a ocupação urbana inadequada - explica Félix.

ALTERNATIVA
O especialista ressalta a necessidade de um estudo técnico de engenharia de tráfego que demonstre que outras alternativas não foram suficientes. É também o que diz a resolução do Contran. O estudo precisa evidenciar que o local apresenta índice significativo ou risco potencial de acidentes em que o fator determinante é o excesso de velocidade.

Entre as alternativas para a redução da velocidade dos veículos estão dispositivos delimitadores ou canalizadores do fluxo, como tacha, tachão e balizadores, e até medidas físicas e de geometria na via, como rotatórias, estreitamento de pista, faixas de alinhamento, superfícies diferenciadas e ilhas centrais. Podem ser eficientes também medidas de reforço na sinalização e fiscalização permanente, com instalação de equipamento medidor. Félix também aponta para o conceito de "Traffic Calming", que seria a combinação de várias medidas, normalmente as mais executadas, previstas em manuais nacionais e internacionais que buscam diminuir a velocidade do tráfego.

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O comandante da 3ª Companhia do Comando Rodoviário da Brigada Militar, capitão Gustavo Dubou, acredita que a instalação das lombadas é fundamentada. Ele ainda defende que as estruturas auxiliam na maior segurança nos trechos. Além dos dois acidentes registrados nos primeiros dias, não foram notificadas novas ocorrências.

- A única mudança é que o pessoal reduz a velocidade. Quanto menor a velocidade, maior a segurança - comenta.

Mesmo com a redução da velocidade, não são observadas alterações no fluxo da rodovia. Ainda segundo Dubou, o ponto de instalação é acertado a partir de estudos do Daer. Ele considera que há outros pontos que podem receber as elevações, mas isso deve ser estudado e feito com cautela:

- Acredito que o Daer não vai instalar lombadas porque quer. Tem fundamento técnico, outros estudos. Para nós, lombadas seriam sempre bem-vindas, mas claro que não a cada 5 metros.

PARA SAMU, SEM PREJUÍZO. PARA ÔNIBUS, HÁ IMPACTOS
Para o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Santa Maria, Nilvo Garcia da Rosa, a instalação dos quebra-molas na Faixa Nova não trouxe impactos ao serviço. Preferencialmente, as ambulâncias que vão ao Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) utilizam a Faixa Velha, por ter pista dupla e tráfego mais livre. A Faixa Nova é usada só em ocorrências nos arredores da via.

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

- Por mais que tenha prioridade, a ambulância precisa obedecer à legislação de trânsito e, obrigatoriamente, reduzir a velocidade onde é indicado. A Faixa Velha, por exemplo, não tem quebra-mola, mas tem fiscalização em lombada eletrônica. A ambulância também precisa reduzir a velocidade para não levar multa - explica Nilvo.

Apesar do registro de dois acidentes nos quebra-molas instalados na Faixa Nova, Nilvo afirma serem raros atendimentos de acidentes causados pelas ondulações transversais.

Para o diretor da Associação dos Transportadores Urbanos (ATU), Edmilson Gabardo, a instalação de quebra-molas na Faixa Nova é prejudicial.

- Aumenta o tempo de viagem, prejudica a suspensão dos ônibus. Um ônibus vai passar 10 vezes por dia em cada quebra-mola, então tem esse prejuízo na manutenção. Via de regra, nas estradas que têm quebra-molas, em função da frenagem dos veículos, o asfalto em seguida deteriora, abrem buracos.

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Como alternativa, ele sugere a instalação de lombadas eletrônicas, que puniriam só motoristas que trafegam em alta velocidade e não prejudicariam quem anda dentro da lei. Gabardo também cobra o alargamento do acostamento da Faixa Nova nos pontos de ônibus, para evitar que eles parem na faixa de rodagem.

DEPOIS DE ACIDENTES, OUTROS MOTORISTAS SE QUEIXAM DE MUDANÇAS
Os dois novos quebra-molas foram instalados no dia 19 de outubro no trecho entre o complexo esportivo Dalla Favera e o Atacadão. Inicialmente, a sinalização era só vertical (placas ao lado da via). A pintura das ondulações foi feita apenas na tarde do dia 20. Neste período, dois acidentes foram registrados no local. Um motociclista, entregador de gás, de 36 anos, perdeu o controle da moto ao passar por um dos quebra-molas e caiu. Ele foi atendido por bombeiros e Samu e levado à UPA com escoriações pelo corpo e suspeita de fratura em um dos braços. Já na manhã do dia 20, outro motociclista perdeu o controle da moto ao cruzar pelo quebra-mola. Ele foi levado à UPA. O Daer atribuiu os acidentes ao excesso de velocidade dos motoristas. O limite é 60 km/h.

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O entregador Bruno Carneiro, que trabalha com uma moto, passa várias vezes ao dia pelo local. Ele não entende quais foram os critérios adotados para o posicionamento dos quebra-molas:

- Poderiam ter colocado um pouco mais para cima, perto do Atacadão, onde o movimento de pedestres é bem maior, tem uma faixa de pedestres também - diz.

Para um frentista de um posto de combustíveis de Camobi, às margens da Faixa Nova, o trânsito não teve grandes mudanças após a instalação do quebra-molas, porém ouviu reclamações de alguns motoristas pela instalação das ondulações. Em uma loja de peças, a principal reclamação ouvida foi de motociclistas surpreendidos com a obra.

Na terça-feira, a Faixa Nova foi palco de outro acidente, nas proximidades do Trevo da Maringá, local com trânsito intenso de pedestres, mas sem quebra-molas. Um homem, de 55 anos, foi atropelado por um Palio que andava no sentido Camobi-Centro enquanto atravessava a rodovia, próximo do cruzamento com a Rua Vereador Lauro Machado Soares. Ele foi socorrido e levado ao Husm. A vítima apresentava ferimentos no rosto e na cabeça.

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Foto: Pedro Piegas (Diário)
Homem foi atropelado na terça-feira em trecho da Faixa Nova

O QUE DIZ O DAER

"A implantação dos dispositivos (quebra-molas) ocorreu após avaliação da Superintendência Regional de Santa Maria no trecho considerado crítico. O cruzamento da Faixa Nova com a Rua Vereador Lauro Machado Soares (perto do Trevo da Maringá) terá reforço na sinalização, e a previsão é de que estas intervenções sejam feitas entre hoje e a próxima semana, porém sem implantação de lombadas. Ainda nesse cruzamento, o Daer estuda a possibilidade de proibir a conversão à direta, tornando obrigatória a utilização das rótulas próximas para os devidos acessos"

* colaboraram Felipe Backes e Leonardo Catto

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