Leonardo Sagrillo: Carta de um advogado

Redação do Diário

Confira o texto da coluna Opinião da edição impressa do Diário de Santa Maria desta quinta-feira (12):

Leonardo Sagrillo SantiagoAdvogado e Professor

Anos atrás, respondi uma entrevista para um aluno sobre a minha profissão. Compartilho aqui a resposta. Acredito que esses questionamentos também são indispensáveis para a compreensão do exercício da advocacia.

A primeira pergunta me fez voltar no tempo e proporcionou que eu pensasse novamente, afinal de contas, “por que sou advogado?”. Há cerca de 16 anos, eu não sabia qual seria minha especialidade dentro do Direito. Ingressei nessa jornada por acaso e quando corria o primeiro ano de faculdade, por curiosidade, em determinado dia sentei nas confortáveis cadeiras do salão do júri do Fórum de Santa Maria. Eu não fazia ideia, mas naquele dia eu havia escolhido em que área do Direito atuaria.

No plenário, ao lado de uma pessoa execrada pela mídia, acusada pelo Estado, eu enxergava um profissional do direito que argumentava, que falava e que advogava. Não sabia seu nome, não conseguia identificar sua idade, o que na verdade não importava para aquele curioso estudante de Direito que ainda não havia encontrado o rumo profissional, mas que estava impressionado com a força e a dedicação que ele dispunha para desenvolver a defesa. Naquele dia, longe dos livros que passei a estudar anos mais tarde para a conclusão do curso de Direito, da especialização e do mestrado, pude compreender, em sua essência, o que era “ad vocatus”.

O advogado é o profissional do Direito chamado para estar ao lado do ser humano. O criminalista, por excelência, é o profissional contratado para falar por quem não tem voz, argumentar por quem não tem força, defender quem não tem mais coragem. Essa é a função do advogado criminalista, defender. Essencialmente o advogado criminalista defende pessoas acusadas pelo Estado, pessoas que, por uma situação ou outra, carregam nas costas o peso de uma persecução penal.

Os critérios para um profissional defender alguém vão depender somente do advogado. Existem advogados que não defendem acusados por determinados crimes, optam por não atuar em determinados processos, escolhem não se expor em determinadas demandas. Mas isso quer dizer que existem pessoas indefensáveis? Definitivamente não. Uma pessoa acusada pelo Estado precisa, para que o processo tenha validade, ser defendida por um advogado.

Existem, sim, momentos difíceis para o advogado. Há alguns anos recusei uma defesa criminal, não pelo fato, em tese, praticado, não pela pessoa, não pela exposição, mas simplesmente porque eu não havia me convencido do que acabara de ouvir do acusado que queria me contratar. A forma com que ele havia me contado os fatos impossibilitou minha atuação no processo, pois daquela forma, eu não teria tranquilidade para lhe oferecer uma defesa efetiva.

Outra vez, aceitei pegar um caso porque o acusado havia concordado em contar tudo no dia do julgamento. No plenário, com tranquilidade, pedi sua condenação pelo que havia feito, lutando apenas para afastar outros arbítrios que haviam lhe imputado.

Enfim, cabe responder como me senti. Em paz. Quando escolhi ser advogado, optei, acima de tudo, por ser ético. Isso, sim, não tem dinheiro no mundo que pague.

Para encerrar esta explanação, preciso contar que o acusado do primeiro júri que assisti foi absolvido pelo Tribunal do Povo e foi para casa com sua família, graças à coragem, ao conhecimento e ao esforço de um defensor ético, comprometido com a causa e que entendeu seu espaço dentro do processo.

Clique aqui para ler o texto de Daniel Tonetto para Opinião desta quinta-feira (12).

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