Largue um pouco esta tela!

Carla Torres

Largue um pouco esta tela!

De livros a documentários, de papos de boteco a palestras, de desabafos a conselhos, a ideia é frequente: “mude enquanto há tempo!”. Uma das últimas apresentações dela para mim foi em um workshop. A ministrante, que atua na área da saúde, relatou que chama sua atenção a frequência com que as pessoas reconhecem durante os atendimentos: “Queria ter feito diferente!”. 

A atividade se desenvolveu rápido naquele dia, não cheguei a perguntar nada sobre esses relatos, que serviram mais como uma provocação a nós, participantes, mas fiquei com eles na cabeça: “fazer diferente”, “mudar enquanto é tempo”. No caso da oficina, o ponto em que a ministrante tocava eram hábitos ruins, que poderiam provocar ou acentuar dificuldades de comunicação ao longo da vida.

Como as provocações ficaram martelando na minha cabeça, pensei que deve ser porque tenho coisas que preciso ou quero mudar e às quais não dou a devida atenção. E muito já ouvi na vida e muito se falou sobre despertar de consciência em edições do programa Jogo de Cintura, o tema não é distante para mim. Mas acho que naquele dia, durante o workshop, pode ter caído diferente porque eu não havia preparado a “pauta”, ou porque nunca havia encontrado a ministrante antes ou porque o tópico me era completamente inesperado no momento. 

Pouco depois daquele dia, eu começava no programa Companhia CDN uma série de entrevistas sobre autores locais, cujos livros são lançamentos recentes ou nem tanto. O importante é conhecer seus trabalhos e valorizar a produção local, que é tão rica. Mesmo antes da série, eu já havia conversado com escritores locais em algumas edições do programa, mas agora a intenção é fazer deste tipo de conversa algo mais frequente. Uma entrevista por semana é a meta. Aliás, se você escreve e já lançou ou vai lançar seu livro, entre em contato comigo pelo meu instagram @carladoyletorres. Daqui a pouco, os ouvintes da CDN também podem descobrir seu trabalho e sua história de vida.

E por falar em descobertas, justamente em função dessas entrevistas, tenho (re)descoberto o prazer das longas leituras em páginas impressas. É que depois de tantos e-books, acessos a bibliotecas e leituras de artigos on-line, especialmente nos últimos dez anos, os livros em papel voltam a tomar conta de minha vida. Sim, sabemos que a sustentabilidade convoca cada vez mais à economia de papel e de uma série de outras coisas, mas tem sido literalmente tão confortável folheá-las e lê-las assim… Ah, aquelas em tom amareladinho, que luxo! Desculpem, mas não tem nenhum dispositivo que me convença do contrário.

Lembro agora da última ida ao oftalmologista, quando soube que meu astigmatismo aumentou de 0,75 em cada olho para 1,00 e 1,25. O médico me disse que a pandemia foi um fator importante para esse aumento. “As pessoas estão exigindo cada vez mais do olho, Carla. Todo mundo está lendo muito mais em tela, mais tempo e mais conteúdo” – disse-me ele. Sim, mudamos muito, aceleramos processos nesses agora quase três anos pandêmicos. E, sim, neste período muitas pessoas passaram a ler quase exclusivamente e-books, PDF’s da vida, sites ou vivem mais as verdades das redes sociais do que a realidade do mundo fora delas (isto é uma outra discussão). Pois, mesmo que as leituras sigam cheias de pixels, que o tempo de tela tenha aumentado para todo mundo, sempre há a possibilidade de fazer alguma coisa por si diante daquela provocação lá do começo do texto: “Faça diferente! Mude enquanto é tempo!”. 

Pergunto-me às vezes se, caso eu tivesse dado mais tempo de descanso a meus olhos durante a pandemia, se teria mantido estável o astigmatismo. Estou finalmente começando a mudar isto. Não posso – e ninguém pode mais – abandonar totalmente as tantas telas que nos cercam, mas tenho puxado para mais perto de novo as páginas em papel, os olhos de quem está logo ao lado e os morros que são tão lindos aqui na região norte de Santa Maria. Tenho olhado mais a vida sem filtro perto e longe e ela pode ser cheia de (re)descobertas, mesmo!

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