Quase três meses após a morte do jovem Gabriel Marques Cavaleiro, 18 anos, foi realizada na sexta-feira, no Fórum de São Gabriel, uma audiência da Justiça Militar para o depoimento de testemunhas. A sessão foi presidida pela juíza Viviane de Freitas Pereira.
Foram ouvidas quatro pessoas, entre elas a adolescente que testemunhou a abordagem policial, o momento em que ele foi colocado na viatura e a suposta agressão. Ninguém pôde ficar no salão do júri no momento em que a menina era ouvida por áudio. Em seguida, Antônio Costa Pacheco, 67 anos, tio de Gabriel e que hospedou o sobrinho em sua casa, respondeu aos questionamentos da juíza, do Ministério Público e da defesa dos policiais. Ele contou como foram os últimos momentos com o sobrinho antes dele desaparecer.
A terceira testemunha foi Paula Lima da Silva, moradora da casa onde Gabriel foi abordado em frente. Ela falou como viu Gabriel pela primeira vez e que o jovem teria dito que ele estava perdido e embriagado. Ela contou que chamou a polícia com a intenção de ter segurança e de ajudar o jovem a achar a casa do tio.
– Um deles (policiais) foi questionar Gabriel mais uma vez e o jovem fez um gesto, e um dos policiais bateu nele e ele caiu para trás. Eu achei desnecessário e fiz uma foto. Em momento algum ele tentou agredir alguém. Ele foi algemado, tomou dois ou três golpes de cassetete e foi colocado no porta-malas. Um dos PMs disse para mim que iriam levá-lo até a delegacia para que ele encontrasse um familiar. Depois, eles saíram – explica Paula.
A testemunha disse que tem medo e se sente ameaçada por estar envolvida no caso. Ela não teria como identificar os policiais. Contou, ainda, que a filha e a afilhada dela têm sido xingadas na escola.
– Eu preciso de ajuda. A minha vida não está 100%, assim como a vida da família do Gabriel também não está – disse.
O quarto a falar foi Reus Antônio dos Santos, dono do bar em que o jovem aparece em imagens de câmeras de segurança chegando para comprar uma bebida. A quinta testemunha que deveria depor era um homem que estava na rua e que também foi abordado pelos policiais. Ele não foi ouvido, pois o advogado da família da testemunha entregou uma documentação informando que ele é dependente alcoólico e que não teria condições de depor.
Os réus, os soldados Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso e o sargento Arleu Cardoso Jacobsen chegaram ao Fórum em um comboio de viaturas da Brigada Militar por volta das 12h. A audiência da Justiça Militar apura os crimes de ocultação de cadáver e falsidade ideológica. A segurança no local foi reforçada.
Fotos: Mauricio Barbosa
O pai de Gabriel, Anderson da Silva Cavalheiro (foto acima), 40 anos, foi ouvido na primeira audiência do processo militar no Tribunal de Justiça Militar em Porto Alegre, no dia 1º de novembro. Ele esteve junto da esposa, Rosane Marques, 47 anos, mãe de Gabriel.
– A gente tá aqui em busca da justiça. Esses depoimentos que a gente acompanhou, como do sr. Antônio, foi sofrido Foi a primeira vez dele num tribunal, e ele tava muito debilitado. A gente acredita na justiça, e queremos que a justiça seja feita. Acredito que o processo tá sendo rápido, e acho que não tem justificativa pros réus não serem punidos. Os fatos estão aí, e contra provas não há argumentos – declarou Anderson.
No dia 8 de novembro, o Instituto-Geral de Perícias e a Polícia Civil farão uma reconstituição. No dia 14, uma audiência ocorrerá na Justiça Militar de Santa Maria. Um processo que apura homicídio também corre na Justiça comum, e a primeira audiência está marcada para 7 de dezembro.
O caso
Gabriel desapareceu por volta da meia-noite de 12 de agosto, no Bairro Independência. Segundo o relato de uma moradora, ela teria chamado a Brigada Militarapós o jovem ter forçado a grade da casa dela e tentado entrar no local. Policiais foram até o endereço, abordaram, algemaram Gabriel e o colocaram no porta-malas da viatura. Depois disso, o jovem não foi mais visto.
O corpo de Gabriel foi encontrado em 19 de agosto, em um açude na localidade de Lava-Pé. Os três policiais militares que abordaram o jovem foram presos naquele mesmo dia e encaminhados ao Presídio Militar de Porto Alegre, onde estão presos desde então. O laudo do exame de necropsia apontou que Gabriel morreu devido a uma hemorragia interna na região do pescoço, provocada por uma agressão, e que não haviam indícios de afogamento.
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