Um hangar de 1.018 metros quadrados está sendo construído no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para abrigar duas aeronaves cedidas pela Força Aérea Brasileira (FAB). Ambas foram desativadas por não apresentarem condições seguras para decolar, e serão usadas como objetos de estudo pelos alunos dos cursos de Engenharia Aeroespacial e Engenharia de Telecomunicações, além de ficarem disponíveis para visitação da comunidade.
Tratam-se de modelos históricos, marcantes para os amantes de aviação e para as conquistas brasileiras na área. Uma das aeronaves é o avião caça AMX A-1, o mais usado no esquadrão da Base Aérea de Santa Maria, que foi doado ainda em dezembro de 2021, e está guardado na Base. Histórico da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), o modelo estreou em 1984 e foi um marco para transferência de tecnologia com empresas da Itália.
Na foto, o avião caça A-1, mesmo modelo doado à UFSMFoto: Marcelo Zanetti (Arquivo Pessoal)
O outro, ainda está em fase de tramitação para ser doado, e está guardado em São Paulo. É o modelo Bandeirante (EMB-110), usado para transporte e patrulha do Exército. Ele foi o primeiro modelo de aeronave da Embraer, inaugurado em 1972. Com a fabricação já encerrada, o bandeirante teve uso civil e militar.
Além das aeronaves, outras toneladas de peças e partes de aviões descartadas no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo estão sendo separadas para serem enviadas para o hangar. Foram solicitados motores, caixas pretas, asas, trens de pouso, computadores de bordo e outras materiais do parque.
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Até o momento, os alunos aprendem em simuladores ou experimentos simples. Para ter contato com aviões reais os alunos precisam se deslocar até a Base Aérea de Santa Maria, em uma parceria que permite a demonstração prática dos sistemas das aeronaves. Com a doação dos materiais, os alunos poderão ter contato direito com as peças, aprendendo a montar, consertar e projetar, como explica o professor Marcelo Zanetti, que está à frente do projeto desde a criação:
— Trazer aeronaves inteiras para a UFSM permite que os alunos montem, desmontem e estudem as peças e os materiais, além de estudar e avaliar toda a parte eletrônica. Isso vai ser um ganho enorme para os nossos cursos, e vai elevar a satisfação dos alunos em relação ao ensino que a gente consegue prover para eles — comenta o professor Zanetti.
Aeronaves inteiras no campus
O projeto 3D do hangar mostra como ficariam guardadas as aeronaves.
A doação de materiais aéreos sem uso ainda é uma atividade recente, por conta da baixa demanda dos cursos de engenharia aeroespacial no país. O mais comum é que as aeronaves sem uso sejam eternizadas como monumentos, marcantes em alguns pontos de Santa Maria. Com a parceria com a UFSM, as aeronaves prolongarão sua utilidade, servindo de porta de entrada para os acadêmicos e futuros profissionais da área.
Por estarem condenadas para voo, Zanetti explica que as atividades máximas permitidas serão o acionamento dos motores e subsistemas para estudo. Mas o deslocamento em terra será possível:
— Nunca foi nossa intenção que as aeronaves sejam exclusividade dos alunos. A gente sonha em fazer eventos em datas comemorativas da aviação, por exemplo, para receber a comunidade que queira conhecer — adianta o professor.
O Hangar
Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Com início em janeiro deste ano, a obra do hangar fica localizada na rua Sul 5, na área destinada ao Centro de Tecnologia (CT) da UFSM, próximo ao laboratório de motores, utilizados pelos alunos do curso. O prédio tem aproximadamente 40 metros de comprimento, por 25 metros de largura e seis metros de altura. As medidas foram calculadas conforme o tamanho das aeronaves, com portões que permitem o deslocamento sem necessidade de desmontá-las.
No projeto, estão previstos área para oficinas de montagem de aeronaves experimentais e salas de apoio para os alunos. Também haverá uma área reservada para o túnel de vento, dispositivo de motor com hélice usado para estudo do comportamento aerodinâmico de um perfil de aeronave ou de asa. Atualmente, ele está alocado em uma sala no CT, e atrapalha a rotina dos outros estudantes por conta do barulho quando acionado.
A execução da obra tem custo de R$ 2,67 milhões, com responsabilidade da empresa Everest Engenharia e Arquitetura. A previsão é de que a obra seja finalizada em janeiro de 2023, e assim que liberada, receberá as peças e aeronaves em seu espaço.
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Eduarda Costa, [email protected]