Grande dia!

O dia em que um “gigante pela própria natureza” escolhe seus representantes só pode ser um grande dia. E este ano, tivemos dois desses em um mesmo mês – ufa! O dia em que um povo participa de uma eleição na qual o voto de cada pessoa, rica ou pobre, tem o mesmo valor só pode ser um grande dia. O dia em que a imprensa pode abordar tudo isto de modo livre e independente só pode ser um grande dia!

“Todo poder emana do povo que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O 1º artigo da Constituição Federal de 1988 deixa claro a que ela veio. Para além de legitimar um direito e, por outro lado, um dever de toda cidadã e de todo cidadão para a construção coletiva e responsável de nosso país, o voto direto celebra uma conquista histórica após anos de um regime militar. Como todas as eleições desde então, a deste 30 de outubro legitimou nosso arbítrio como nação, mas também se tornou marco nacional por vários motivos.

Esta é a primeira vez que um presidente não consegue se reeleger. Também é a primeira vez que um mesmo candidato é eleito para o cargo pela terceira vez, e ainda como o mais votado da história do Brasil, com mais de 60 milhões de votos. Igualmente, é a primeira vez que temos uma eleição tão acirrada, com diferença de menos de 2% entre quem ganhou e quem perdeu. E por falar em perder e ganhar num cenário tão apertado, a vitória absoluta segue a ser da democracia, que tem raiz no grego antigo e significa “poder do povo” ou “governo do povo”. Povo que, afinal, é livre para mudar drasticamente de lado e de resultado a cada eleição.

Enquanto isso, entre os maiores desafios para a sobrevivência da democracia estão a necessidade de atravessarmos um período eleitoral sem desinformação (as famigeradas fakenews) e, claro, a capacidade de convivermos pacificamente com as escolhas alheias. Imaginei aqui uma eleição nesses moldes, focada em campanhas com apresentação detalhada de propostas de governo e realização de produtivos debates; um pleito que tenha como foco políticas públicas efetivas, assim como a lúcida avaliação de medidas já implementadas, para, então, escolher entre manutenção, reformulação ou encerramento delas. Que sonho! Grandessíssimos dias!

Para encaminhar as reflexões finais desta coluna, uma de minhas mais curtas e com menos travessões – consegui! – digo que fazer parte da cobertura ao 2º turno das eleições pelo Grupo Diário representou também um grande dia para mim. No desafio imenso de um turno de cinco horas ao vivo, pude conviver intensamente com os colegas jornalistas, desde os mais jovens até os mais experientes. Para quem está mais afastada do dia a dia da redação, concentrada na radiorrevista de final de semana Companhia CDN e no programa diário de comportamento Jogo de Cintura, o contato com a diversidade desta ampla equipe é renovador. 

Por fim, grande dia e grande oportunidade também para todos nós, cidadãs e cidadãos entendermos, de uma vez por todas, que para evoluir é preciso capacidade de diálogo. Numa mesma família, num mesmo local de trabalho ou de convívio social há, mais do que nunca, divergências de opiniões político-partidárias que podem ser extremas. Vamos continuar existindo, e isto é nosso direito, não algo que deve ser entregue à própria sorte. E vamos seguir a depender uns dos outros em algum aspecto, em alguma medida, em algum momento. Mais do que nunca, é hora de conversar. Se fosse para nos atacarmos com palavras, paus, pedras, tiros e outras coisas, não precisaríamos de democracia, nem de eleições, nem de civilização.