Sobe para 115 o número de áreas de risco em Santa Maria; cerca de 4 mil pessoas vivem nestes locais

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Barranco que desabou e atingiu uma casa na Rua dos Canários, no início de maio

De acordo com a última atualização da Defesa Civil, nos últimos 10 meses, aumentou o número de áreas de risco em Santa Maria. Atualmente, 115 pontos da cidade estão sujeitos a alagamento, inundação e deslizamento de terra. Segundo o superintendente da pasta, Adão Lemos, cerca de 4 mil pessoas residem nestes espaços. Os dados, na verdade, vem crescendo há, pelo menos, um ano. Em agosto de 2022, eram 107 locais de risco no município e, em fevereiro do ano passado, 81.

– Trabalhamos com uma palavra chave que é risco, ou seja, tudo que tem a palavra risco é com a Defesa Civil. Independentemente da situação e do local dentro das vias urbanas municipais, seja das vias estaduais ou até mesmo federal, desde que estejam dentro do limite de Santa Maria – detalha Lemos.

Adão Lemos explica que dentre o total das 115 áreas, 60 já receberam algum tipo de melhoria ou conserto, ou seja, estão parcialmente resolvidas. Isso porque, apesar da resolução, os locais podem vir a apresentar problemas futuramente e, por conta disso, são mantidos no monitoramento da Defesa Civil.

Rua dos CanáriosFoto: Eduardo Ramos (Diário)

Em Santa Maria, a pasta da prefeitura trabalha com os riscos hidrológicos (alagamentos e inundações) e os geológicos (deslizamentos de terra). A partir destas categorias, cada caso ainda é classificado de acordo com o grau de risco (baixo, médio e alto).

Os oito pontos que foram incluídos no levantamento são referentes a alagamentos (veja abaixo).

Áreas incluídas no mapeamento da Defesa Civil

Bairro Urlândia

Rua Irmão Robertão
Rua Eugênio Mussoi
Vila Santos

Bairro Camobi

Rua Progresso

Bairro Boi Morto

Rua Rádio Guarathan

Bairro Nova Santa Marta

Avenida São Marcelino Champagnat
Rua dos Grumatãs

Distrito de Boca do Monte

Rua Euclides da Cunha

– Para fazer o mapeamento verificamos o local e as coordenadas. (Também identificamos) o raio de ação, ou seja, quantas casas, quantas pessoas (com deficiência ou dificuldade motora) e quantos metros (são atingidos pelo risco). Verificamos se essas casas são de madeira ou feitas com materiais frágeis, o que pode aumentar o risco. Classificamos por tipo de risco e que tipo de intervenção pode ser utilizada. Por exemplo, tem locais que uma limpeza de bueiro ou a troca de uma tubulação simples resolve (microdrenagem). Outras são situações mais complexas, que envolvem a (instalação de) galerias ou uma obra maior (macrodenagem). Tem outras situações que envolvem desassoreamento – esclarece Lemos.

O Plano Municipal de Contingência de Proteção da Defesa Civil

Além da atualização do mapeamento das áreas de risco de Santa Maria, atualmente, a Defesa Civil também está trabalhando nas melhorias do Plano Municipal de Contingência de Proteção da Defesa Civil.

– O plano é um conjunto de ações e de responsabilidades feitas de maneira planejada e antecipada para o enfrentamento de situações de emergência. É um plano de contingência porque leva em conta eventos naturais hidrológicos, eventos naturais meteorológicos, eventos climatológicos e geológicos – informa Alexandre Lima, chefe do gabinete do prefeito.

Barranco que desabou e atingiu uma casa na Rua dos Canários, no início de maioFoto: Eduardo Ramos (Diário)

Conforme Adão Lemos, uma equipe técnica, composta dentre outros profissionais, por geólogos e engenheiros florestal e civil, estão atuando no desenvolvimento do plano. Na prática, a ideia é, a partir de um olhar aprofundado, estabelecer respostas mais funcionais para os problemas decorrentes das áreas de risco.

O último plano é de outubro de 2022 e a previsão é que os trabalhos para a nova edição comecem neste mês e a versão final seja feita ainda neste ano.

Cenário atual da Defesa Civil de Santa Maria

Principais demandas atendidas: poda/corte/supressão de árvores; entrega de água; vistorias em áreas de risco e assistência para a população desses locais
Equipe: 14 profissionais e dois estagiários
Equipamentos: caminhão pipa, caminhão caçamba, caminhão baú, três viaturas operacionais, drone e estoque de lona/telhas – conforme o chefe de gabinete do prefeito, Alexandre Lima, a Defesa Civil teve um “up operacional” nos últimos meses
Localização: Defesa Civil está dentro do Ciosp e trabalha em conjunto com outros órgãos de segurança
Plano Municipal de Contingência de Proteção da Defesa Civil: está em atualização

A visão dos moradores diante do problema crônico de deslizamentos na Rua dos Canários

Com relação aos deslizamentos de terra, a Rua dos Canários é uma das áreas mais críticas do município, tendo, atualmente, 72 residências monitoradas pela Defesa Civil. Quem transita por lá, pode perceber que muitas casas estão instaladas em morros, foram feitos cercamentos improvisados para impedir deslizamentos, lonas estão colocadas em alguns pontos e pneus são utilizados para aterrar o terreno e impedir desabamento.

Pneus são utilizados para evitar deslizamentosFoto: Eduardo Ramos (Diário)

Outra alternativa que é comum encontrar são valetas, colocadas pelos próprios moradores, para desviar a água da chuva. João Antonio Ilha, 55 anos, trabalha com jardinagem, é uma das pessoas que adotou esse mecanismo para prevenir problemas. Ele, que construiu a residência em um barranco há cerca de 35 anos na Rua dos Canários, relata que quando chegou não havia muitos moradores, mas com o tempo foi acompanhando a ocupação cada vez maior da área:

– Eu morava para fora e estava ruim (residir) lá e acabamos vindo pra cá para trabalhar porque na cidade era melhor. (Na época) tinha pouca gente e poucas casas, depois de uns tempos que foram vindo mais moradores. Às vezes, quando chove bastante, temos um pouco de medo, mas aqui (onde moro) geralmente é tranquilo. Lá em cima (do morro) eu fiz uma valeta para a água correr e não vir aqui para as casas – conta.

O morador João Antonio Ilha, 55 anos, construiu a residência em há cerca de 35 anos na Rua dos CanáriosFoto: Eduardo Ramos (Diário)

João ainda diz que nunca teve problemas com deslizamentos e que não pretende se mudar.

Essa, contudo, não foi uma escolha para um dos moradores da Rua dos Canários, quando no início de maio, em função das chuvas, um barranco acabou cedendo e atingiu sua casa, que teve perda completa.

Esta é apenas uma das muitas ocorrências já registradas no Bairro Itararé. Em conversa com alguns moradores na manhã desta segunda-feira (5), o relato é similar: todos recordam de algum episódio que causou danos materiais e perigo para os vizinhos.

A sensação de medo também é sentida por alguns moradores. A dona de casa Adriana de Lima, 50 anos, residia na Rua dos Canários e mudou-se para o Campestre em função de problemas de saúde. No Campestre, ela enfrentou alagamento. Assim, quatro anos atrás, Adriana acabou voltando para o Bairro Itararé. O que ela notou foram que as demandas ainda continuam as mesmas e que os riscos são iminentes:

– (Quando está chovendo) ficamos acordados durante toda noite, ficamos de olho, esperando para ver se acontece algo. Se desabar o barranco, cair a casa, temos que sair correndo, se der tempo, claro. É horrível isso. (Já solicitei ajuda) e até agora nada, não aparece ninguém. Meu marido colocou alguns pneus para aterrar e ver se dava uma amenizada. Morávamos no Campestre, mas tínhamos problemas com água e a casa não era nossa também. Depois, o que deu para comprar foi essa (casa) aqui.

No local que Adriana reside passa uma rede de esgoto, que atualmente está à céu aberto, causando odor desagradável para a família. Esse terreno é dividido com a filha, a dona de casa Morgana de Oliveira de Lima, 29 anos.

Adriana de Lima mostra esgoto à céu aberto que passa pela sua residênciaFoto: Eduardo Ramos (Diário)

– É bem perigoso por causa que quando chove tudo alaga, as casas desmoronam. Minha casa aqui mesmo é no barranco e tem o problema com essa valeta do esgoto. Queríamos que alguém viesse nos dar uma orientação, para se inscrevermos nas casinhas (Minha Casa, Minha Vida), por exemplo. É bem difícil para todo mundo que mora aqui. Eu pretendo (sair daqui), mas precisamos de assistência para isso. (Meu terreno) ainda não cedeu porque estamos arrumando, estamos tentando achar maneiras para evitar que isso aconteça. Eu e meu esposo fomos na barragem do Campestre, pegamos os pneus para aterrar e amenizar a situação aqui, e também para limpar a barragem porque está bem suja – relata Morgana.

Morgana de Oliveira de Lima, 29 anos, vive em área de risco na Rua dos Canários há quatro anosFoto: Eduardo Ramos (Diário)

Promessa é de realocação das famílias

De acordo com o chefe de gabinete do prefeito, Alexandre Lima, a realocação destas pessoas que vivem em áreas de risco não depende unicamente da prefeitura, mas envolve também outros entes, como o governo federal ou o poder judiciário para os casos das famílias que se recusam a deixar o espaço.

Adão Lemos também ressalta que além da Rua dos Canários, no Bairro Itararé, outras áreas críticas de deslizamento que envolvem problemas de habitação estão nos bairros Campestre, Km 3 e Presidente João Goulart.

Ainda conforme o superintendente, a Defesa Civil tem uma listagem com 60 residências que precisam ser realocadas:

– Temos uma promessa do nosso prefeito de que em torno de 90 casas serão construídas. Nós não sabemos ainda quando, mas que a prioridade vai ser para essas 60 residências em locais de risco alto. Futuramente, vamos ter a possibilidade de poder dar uma moradia digna e segura para esses moradores, automaticamente também impossibilitar que novas invasões aconteçam nesses locais e a natureza tome conta também de recompor (o ambiente do local) – prevê Lemos.