Um dos raros momentos em que se vê Beto Fantinel, 35 anos, parado é quando ele senta à beira do fogão a lenha na casa dos pais. O hábito é quase um ritual familiar: parar por ali e resgatar memórias. As lembranças da relação próxima com os avôs, as polentas feitas à moda antiga e a infância, repleta de peraltagens mesmo a quilômetros da cidade, estão entre as histórias mais contadas no último dia 10 de outubro.
Foi na zona rural que ele foi alfabetizado, aprendeu a andar de bicicleta, jogar bola e criar os próprios passatempos em uma época sem acesso à internet.
– Dividi a sala com crianças de outras séries e cheguei a ser o único aluno do segundo ano (do Ensino Fundamental) na mesma sala de aula de uma escolinha que nem existe mais. Ficava a dois quilômetros daqui de casa e lembro de ir todo dia, a pé. Quando chovia, era complicado, mas sempre gostei de estudar, tive facilidade e meus pais apoiavam. Depois fui estudar na cidade. Quando guri, inventávamos de tudo. O ápice era trazer vários colegas para passar o fim de semana aqui, assistir filme, fazer pipoca e tomar vinho escondido do pai (risos). Foram tempos bem divertidos – conta.
Entre uma prosa e outra, o inquieto Beto sai à porta e caminha pelo pátio, vai até a cerca e cumprimenta algum vizinho da comunidade que passa de carro, de trator ou a pé. Afinal, na localidade de Linha do Moinho, em Dona Francisca, todo mundo conhece e reconhece Beto. Por ali, todos viram o menino crescer e, neste ano, ser reeleito deputado estadual com 49.771 votos.
Vida pública
Foi na adolescência que Beto começou a pavimentar a carreira política. Nos tempos de escola, chegou a líder do grêmio estudantil. Depois, formado em Técnico Agrícola pelo no Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e formado em Ciências Sociais na mesma universidade, foi secretário-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE). No Estado, o protagonismo ganhou destaque quando chegou a presidente da Juventude do MDB gaúcho.
Na cidade natal, elegeu-se vereador e foi secretário de Saúde. Antes de assumir uma cadeira na Assembleia Legislativa, em 2021, morou em Brasília, onde foi assessor parlamentar do Ministério da Cidadania. Anterior a tudo isso, porém, alguns episódios da infância, os quais envolviam reunir pessoas para poder ser ouvido, remetem à veia persuasiva de Beto.
– Gostava de brincar de ser padre. Vestia a camisola da mãe, pegava bíblia e pedia atenção. As pessoas choravam, se emocionavam de verdade. Acho que persuasão e jeito com o público e, de certa forma ajudar as pessoas, começou ali. Mas foi por pouco tempo, pois vida religiosa não era para mim. Por incentivo do pai e da mãe, sempre foquei nos estudos. Nas férias da faculdade, até ajudava na colheita do fumo, geralmente entre novembro e fevereiro, mas a prioridade sempre foi estudar – lembra o deputado.
Atualmente, mesmo após anos de rotina dividida entre a Capital gaúcha e o município da Quarta Colônia, o deputado parece estar saindo de casa pela primeira vez. Isso se percebe no abraço demorado do pai e nos conselhos da mãe que, na última quinta-feira, preocupada com a vida frenética e com a alimentação do filho, preparava uma sacola com biscoitos, queijo colonial e ovos para que ele levasse a Porto Alegre. Lá, ele divide o dia a dia com a noiva Fernanda e com o coelho de estimação Frederico. Já na casa do Interior, ele dedica parte do tempo que tem quando chega lá com os cachorros Guri, Pérola e Vida. A propósito, pautas voltadas à causa animal são discutidas por ele na Assembleia. Assuntos relacionados à educação, como escola em turno integral e a digitalização do ensino; a agricultura, com políticas de valorização ao produtores e o enfrentamento da estiagem; e à saúde, quanto à redução de filas de espera e valorização dos profissionais também são bandeiras.
– Independentemente do tema ou do projeto, sempre disse que, para mim, política existe quando for um instrumento para a transformação da vida das pessoas, seja dos mais humildes aos empresários. O dia que eu perder a capacidade de tentar transformar realidades, deixo de ser político – afirma.
Trajetória
Roberto Fantinel nasceu em 16 de maio de 1987, em Dona Francisca, uma das cidades da Quarta Colônia de Imigração ItalianaPassou a infância e a adolescência na localidade de Linha do Moinho, onde cresceu na companhia dos pais Davina e Arnildo e da irmã RosângelaEm 2004, foi líder do Grêmio Estudantil da Escola Estadual de Ensino Médio Maria Ilha BaischFoi secretário-geral do DCE da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 2006Em 2017, foi presidente da Juventude do MDB gaúchoEm 2007, foi secretário-adjunto de Saúde de Dona Francisca e, no ano seguinte, elegeu-se vereador aos 21 anos, sendo o segundo mais votado no municípioEm 2012, foi candidato a prefeito da cidade-natal, mas não se elegeuNa eleição de 2018, somou 29.753 votos para deputado estadual, ficando como suplente do partido. Ele assumiu o cargo em janeiro de 2020Na eleição deste ano, fez 20.018 votos a mais, conquistando 49.771 no total, sendo o segundo deputado mais votado do partido
Na região e no Estado
Santa Maria – R$ 2,3 milhões para o Hospital Casa de Saúde para compra de um tomógrafo e restauração da fachadaItaara – R$ 650 mil que inclui a aquisição de uma retroescavadeira e repasses à Secretaria de SaúdeSão Martinho da Serra – Articulação para inclusão da ERS-516 nas obras do governo do RS, com investimento de cerca de R$ 15 milhões
Do próprio lar à casa do povo
Luiz Marenco: “vou fazer a política conforme faço a música, e não fazer a minha música com a política”
Valdeci Oliveira: “política se faz para o bem coletivo. Continuo respeitando minha origem e tendo coerência naquilo que faço”
As origens e os compromissos dos três deputados eleitos da região central do RS