A atriz nascida na nossa região conversou com a Revista MIX nesta semana, dias depois da estreia do novo projeto, O Rei da TV, disponível no Star+. O trailer da produção já ultrapassou a marca de 7,5 milhões de visualizações no YouTube e se tornou o mais visto da história entre produções brasileiras. Com direção geral de Marcus Baldini, a série é estrelada por José Rubens Chachá e Mariano Mattos Martins, que interpretam Silvio Santos, e Leona Cavalli, no papel de Íris Abravanel.
Realizada pela Gullane, O Rei da TV conta, em oito episódios, a incrível história de Silvio Santos, o jovem de origem humilde, genial e ambicioso que foi atrás de seu sonho e se tornou o empresário e comunicador mais bem sucedido da TV brasileira, além de um dos empresários mais reconhecidos do país. Leona interpreta Íris Abravanel, esposa de Silvio. Confira a entrevista.
“Ser do Rio Grande do Sul não foi um problema, mas, me afaste dele, sim”
Revista MIX – Como foi viver a esposa do ícone da comunicação Silvio Santos neste novo projeto que estreou no streaming recentemente?
Leona – Fazer Iris Abravanel, como personagem, foi um desafio, porque ela é uma pessoa contemporânea, conhecida do público. Isso pede uma interpretação autêntica, sem qualquer tipo de tentativa de imitação. Ao mesmo tempo, fiz uma grande pesquisa, através de entrevistas e depoimentos, para conhecê-la melhor e ter uma referência mais próxima do real.
MIX – Como você encara essa nova fase em que atores atuam em TV, streamings, teatro, cinema, entre outros. Você vê com bons olhos?
Leona – Acho ótima e inevitável essa nova fase, com abertura de novos canais, streamings e outros suportes. Isso alcança cada vez mais público e abre mais possibilidades de atuação, trabalho e informação.
MIX – Você tem alguns personagens marcantes na carreira da TV. Quais você destaca e por qual motivo?
Leona – Destaco a Dalia, por ser personagem da minha primeira novela, Duas Caras, de Aguinaldo Silva, que vivia um caso de amor a três, com dois homens (um deles gay). Algo que, atualmente, seria extremamente polêmico, e que, curiosamente, na época, não foi. A Zarolha, de Gabriela, de Walcyr Carrasco, inspirada na obra de Jorge Amado, uma prostituta romântica que teve muita empatia com o público. A Gilda, de Totalmente Demais, de Rosane Svartman e Paulo Halm, que trazia à tona o tema da violência doméstica e que reprisou há pouco com muito sucesso e, a mais recente, Tereza, de Órfãos da Terra, de Thelma Guedes e Duca Rachid, uma cantora que se envolvia com um refugiado. Todas na Globo. E uma na Record, também marcante, a Ariela, de Apocalipse, de Vivian de Oliveira. Foram personagens de grande repercussão nacional com o público e que, entre outras, amei fazer.
MIX – Em que momento você decidiu ser atriz profissional?
Leona – Atuo desde os 6 anos, quando fiz minha primeira pecinha infantil na escola, lá em Rosário do Sul. Depois entrei para Faculdade de Artes Cênicas na UFRGS, em Porto Alegre, e fiz vários cursos de interpretação e história da arte. Mas considero minha estreia profissional com o espetáculo Hamlet, direção de Zé Celso Martinez Correa, em que interpretei a personagem Ophelia, em 1993, na reabertura do Teatro Oficina, em São Paulo.
MIX – Ser e estar no interior do Rio Grande do Sul foi um problema ao decidir ser atriz profissional? Como se deu a sua saída da Região Sul para ganhar o Brasil?
Leona – Ser do Rio Grande do Sul não foi um problema, mas me afastar dele, sim. Existe uma bela tradição de teatro no Estado, com ótimos atores e atrizes. Mas, como o meu desejo era viver somente da atuação, senti que o campo profissional seria mais amplo em São Paulo ou Rio de Janeiro, e acabei me mudando. Isso foi difícil, pois tive que morar longe da minha família, criar uma nova vida, desapegar de comodidades e ir em busca de uma realização.
MIX – Sua relação com o Sul é forte? Você ainda vem para o Estado?
Leona – Sempre que possível, vou a Porto Alegre e a Rosário. Não tanto quanto eu gostaria, mas, pelo menos uma vez por ano, para matar a saudade.
MIX – E com Santa Maria você tem alguma ligação, família, amigos. Já veio à Cidade Cultura a trabalho?
Leona – Adoro Santa Maria, tenho amigos de família aí e, na infância e adolescência, frequentava muito a cidade. Mas ainda não fui a trabalho. Tomara que aconteça!
MIX – Além da série sobre a vida de Silvio Santos, quais são seus próximos projetos?
Leona – Além da série, que acabou de estrear, estou ensaiando o monólogo Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam. Uma obra clássica do século 16, incrivelmente atual, ainda inédita no teatro brasileiro. A direção é de Eduardo Figueiredo, com estreia em 1º de dezembro, no Sesc Belenzinho, em São Paulo. E, no começo do ano que vem, estreia um filme que fiz, com direção de Rogerio Gomes, A Cerca. Adorei atuar nele, especialmente, por ser a primeira personagem gaúcha que faço, e por ter sido rodado no Sul.
MIX – Você tem vontade de fazer algo que ainda não fez?
Leona – Tenho vontade de dirigir um filme. Estou escrevendo um roteiro e espero que, em breve, consiga realizar. Também quero escrever mais livros. Já escrevi dois, o Máscaras de Penas Penadas, sobre meus processos criativos, e o Belabelinha, uma Bonequinha, sobre uma personagem infantil que criei.
MIX – Para você, quem quer viver de cultura precisa de…?
Leona – Quem quer viver de cultura precisa cultivar seus sonhos e não desistir jamais deles. Além disso, precisa ter muita persistência, disciplina e amor, para realizá-los.
Trabalhos marcantes
Com Marina Ruy Barbosa, nos bastidores de “Totalmente Demais”Com Humberto Martins, nos bastidores de “Gabriela”, no BatalhãEm “Carandiru” (2003), interpretou a mulher de Claudomiro (Ricardo Blat). Ela trai o marido com um policial, o que acaba levando-o à prisãoEm “Totalmente Demais” (2015), Leona viveu Gilda, mãe de Elisa, vivida por Marina Ruy Barbosa, e casada com Dino, interpretado por Paulo RochaEm “Gabriela” (2012), viveu Risoleta, a Zarolha, como ficou conhecida. Uma das prostitutas mais famosas do Bataclã era romântica e sonhava em casar No teatro, viveu a artista mexicana Frida Khalo, no espetáculo “Frida y Diego”, em 2015, de Maria Adelaide AmaralEm “Orfãos da Terra” (2019), novela vencedora do Prêmio Emmy internacional, viveu Teresa, cantora e mãe de Bruno, vivido por Rodrigo SimasO primeiro trabalho em uma novela foi em 2007, em “Duas Caras”. Ela viveu Dalia e formou um trisal com os personagens de Thiago Mendonça e Alexandre SlavieroEm 1996, estrelou o aclamado “Um Céu de Estrelas”. A atuação foi reconhecida com os prêmios de Melhor Atriz com o Troféu APCA, Prêmio Cine Sesc, Festival Internacional de Trieste e Festival de Brasília
Em quase 30 anos, foram 32 trabalhos na TV, 19 personagens no cinema, 21 no teatro, três como diretora e quase 20 prêmios. Além disso, Leona escreveu dois livros. Toda a história de sucesso começou quando a gaúcha resolveu cursar Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, na sequência, foi morar em São Paulo. Lá, surgiram oportunidades em montagens importantes, de autores como Garcia Lorca, Oswald de Andrade e até Shakespeare.
Na época, a atriz ainda usava seu nome de batismo, Alleyana. O sobrenome já era “Cavalli”, que vem de seus padrinhos.
Em 1996, começou a fazer cinema e não poderia ter sido de maneira mais espetacular. Dirigida por Tata Amaral em Um Céu de Estrelas, Leona recebeu grande aclamação da crítica. No filme, ela interpretou a cabeleireira Dalva, que vive um relacionamento sombrio e violento com o marido. Toda a ação do longa, considerado um dos melhores da década, se passa no interior da casa dos personagens, o que contribui para aumentar o clima de tensão e asfixia.
Pelo trabalho, Leona venceu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de Melhor Atriz em Cinema, um dos mais importantes do Brasil; o Candango de Melhor Atriz, no Festival de Brasília; e o troféu de Melhor Atriz, no Festival Internacional de Trieste, na Itália, além de ter recebido sua primeira de quatro indicações ao Prêmio Guarani.
No início dos anos 2000, veio a aclamação no teatro. O clássico Toda Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues – autor da peça de estreia de Leona no teatro – rendeu a ela o Prêmio Shell de Melhor Atriz. Em 2002, foi elogiada por seu retrato de Blanche DuBois na peça Um Bonde Chamado Desejo, vencendo o Prêmio Qualidade Brasil de Melhor Atriz.
A estreia de Leona Cavalli na televisão foi uma participação especial na série Os Normais, da TV Globo, em 2002. No mesmo ano, atuou no filme Amarelo Manga, dirigido por Claudio Assis. Por seu desempenho, recebeu novamente aclamação da crítica, vencendo o Prêmio Guarani de Melhor Atriz Coadjuvante e sendo indicada ao Grande Otelo de Melhor Atriz.
Suas atuações nos filmes Carandiru, de 2003, e Contra Todos, 2004, renderam indicações da Academia Brasileira de Cinema e ao troféu Grande Otelo. Leona emendou uma série de participações nas novelas As Filhas da Mãe, Da Cor do Pecado, Começar de Novo, Bang Bang e Belíssima. Em 2007, interpretou Justine, na minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes, seu primeiro papel de destaque na televisão, pelo qual venceu o Prêmio Qualidade Brasil de Melhor Atriz de Minissérie.
No mesmo ano, interpretou Dalia, na novela Duas Caras, de Aguinaldo Silva. A personagem vivia um relacionamento com dois homens e a trama polêmica se destacou na época. Outro papel de sucesso de Leona foi a prostituta Zarolha, do remake de Gabriela, em 2012.
O papel sensual rendeu a ela um convite para posar nua na revista Playboy, aos 42 anos. O ensaio, mais artístico, foi um sucesso. Outros personagens de destaque foram a pediatra Celina, em A Vida da Gente, de 2011, a vilã Gláucia, de Amor à Vida (2013), e Gilda, a batalhadora mãe da protagonista interpretada por Marina Ruy Barbosa no sucesso da faixa das 19h, Totalmente Demais, em 2015. Leona também atuou na Record, na novela Apocalipse, e, em 2019, interpretou Teresa, em Órfãos da Terra, da TV Globo, seu papel mais recente em novelas.