data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Pedro Piegas
Ana Cassiane Rodrigues Maia, a menina de Santa Maria que dá aulas pra vizinhança, conquistou a admiração de muitos
Uma brincadeira levada a sério por uma criança de 11 anos surpreendeu diversas pessoas e mobilizou ações em Santa Maria. Em 7 de abril, neste mesmo jornal, retratamos a história de Ana Cassiane Rodrigues Maia, a menina que, em meio ao isolamento social, encontrou uma alternativa para que os vizinhos do bairro mantivessem os estudos em dia, dando aulas à beira da rua.
Ocorre, que nas duas últimas semanas, os "alunos" de Ana Cassiane não sentam mais no chão pedregoso nem apoiam os cadernos sobre as pernas. A sala de aula sem paredes mudou para uma garagem. Também tem sido mais fácil aprender o conteúdo sentados em cadeiras, apoiar o novo material em classes e vislumbrar em um quadro-negro, agora intacto, letras, números e por que não, sonhos.
- Ganhamos material escolar, jogos e doces. Foi inesquecível, eu tremia - conta ela.
style="width: 100%;" data-filename="retriever">Antes, as aulas eram na rua e as crianças sentavam no chão
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É que o gesto da menina foi além da Vila Conceição, no Bairro Caturrita, onde ela vive com a família.
As professoras Rosane Gonçalves e Simone Matiuzzi, dos bairros Nonoai e Medianeira, o microempresário Júlio César, no Bairro Camobi, encontraram uma maneira de potencializar a iniciativa. Rosane e Simone contribuíram principalmente com material escolar, máscaras e luvas. Julio doou o mobiliário. E não parou por aí. Nos últimos dias, professores de instituições de ensino, diversas pessoas nas redes sociais e público em geral buscaram pelo endereço de Ana Cassiane, que serviu de inspiração para encarar uma das travessias mais difíceis que a humanidade já enfrentou: a pandemia do coronavírus.
- Mesmo com poucas condições, ela tem uma vontade enorme de ensinar - observa Simone.
Rosane acrescenta que Ana Cassiane, mesmo sendo uma criança, provou que é possível extrapolar temas didáticos e proporcionar momentos de alegria e reforço da autoestima.
- Os governantes deveriam levar em consideração que, na escola, não se aprende somente conteúdos. O lugar de aprendizagem é também local de cultura e escada para um futuro melhor- analisa Rosane.
style="width: 100%;" data-filename="retriever">Agora, as crianças têm classes, quadro negro e a aula é em uma garagem
"Nem sei quantas ligações recebemos de pessoas querendo nos ajudar", diz mãe de Ana
A doença já fez endereço entre os santa-marienses, e a cidade segue envolta de estatísticas, incertezas e apreensão. O alento é que, mesmo em tempo que coronavírus, ainda há espaço para novas ideias, respeito, responsabilidade, além de esperança de dias melhores.
- Doei os materiais porque o que essa menina fez é um exemplo para todos nós. Como cidadão, me senti na obrigação de fazer alguma coisa - resume Júlio César.
Cristiane de Andrade Rodrigues, 31 anos, mãe da menina, nem sabe ao certo quantas ligações recebeu, quantas pessoas bateram na porta da família doando equipamentos e brinquedos, tampouco quantos comentários nas redes sociais a história da filha suscitou.
Porém, a reverberação do "trabalho" da menina é o que mais interessa a Cristiane:
- Enquanto eles estão debaixo dos nossos olhos, não estão por aí. A gente sabe sobre o que falam, que é uma brincadeira rodeada de respeito e vontade de aprender. Também tem responsabilidade, estão com máscaras e usam álcool gel, sabem o que está acontecendo (pandemia). À noite, sentamos em família, ficamos vendo as repercussões no Facebook e nos emocionamos. Para uma mãe, isso é lindo. Agradecemos todas as doações, mas as mensagens de reconhecimento pelo que Cassi tem feito é o que mais nos toca. Só queremos que ela e as outras crianças um futuro brilhante.