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Professora aposentada relembra décadas de atuação na educação de São Sepé e Formigueiro

Aos 90 anos, completados em 1º de janeiro de 2019, a professora e alfabetizadora aposentada Maria de Jesus Souza Cardoso, conhecida como Maroca, alegra-se em ter ajudado muitas crianças do Interior de São Sepé e de Formigueiro a ler e escrever. Ela se orgulha em ver a maioria dos alunos formados. Por 46 anos, Maria foi casada com Luiz Vieira Cardoso, falecido há 20 anos. Os dois tiveram oito filhos: Fátima, falecida há 39 anos, Lourdes, falecida há 58 anos, Salete, Maira, Nara, falecida há 20 anos, Lenio, Dania, Alfran e Ana Paula, filha do coração. No Bairro Nonoai, onde mora há 38 anos, ela estampa felicidade junto dos filhos, dos 17 netos e dos 11 bisnetos, todos representados em porta-retratos espalhados pelas paredes da casa. Nascida e criada em São Sepé, a professora foi a última da família a se mudar para Santa Maria. Ela é a primogênita do carpinteiro Doralino Francisco de Souza e da dona de casa Inocência Gusmão de Souza, que tiveram 11 filhos. Em entrevista ao Diário, entre outras memórias, ela conta como estudou para o concurso de alfabetizadora.

Diário - A senhora vivia no interior de São Sepé. Como se preparou para o concurso de professora?

Maria de Jesus Souza Cardoso - Estudava à luz da lua. Sentava-me à janela e ficava lendo os livros e decorando os conteúdos. Passei muitas noites fazendo isso. Como as crianças eram pequenas, não queria acordá-las com as luzes acesas. Meu pai era muito pobre, nos deu estudo até a quinta série. Mas sempre fui curiosa. Quando terminei a escola, continuei lendo livros e passei a alfabetizar, de forma particular, em casa. Naquela época, só tínhamos o inspetor de educação Antônio Prates para resolver os assuntos escolares. Ele viajava de Cachoeira do Sul para São Sepé, de tempos em tempos. E, em uma dessas viagens dele, fui até o salão onde o ônibus parava, porque não tínhamos rodoviária, para esperá-lo. Com o inspetor, consegui todas as informações que precisava sobre o concurso de professores. Além de me instruir, o inspetor Prates ficou de me avisar quando haveria a prova.

Foto: Arquivo Pessoal
Dona de casa tem 90 anos de idade

Diário - Com tanto esforço, como foi passar no concurso?

Maria - Foi muito bom. Realizei a prova em fevereiro de 1953. Em março do mesmo ano, fui nomeada. Estava com tanta expectativa que achei que não passaria. Foi ótimo poder coordenar minha turma. Dava aulas na sala de casa durante toda a manhã e, à tarde, ia para a lavoura ajudar meu marido. Depois de anos, surgiram as escolas rurais e eu me aposentei dando aulas no Colégio Acácio Vieira. Também visitava as crianças para fazer curativos, verificar se estavam com febre, além de cuidar daquelas que se queimavam. Aprendi, na prática, a prestar primeiros socorros. Adorava estar junto das crianças para ensiná-las. Muitas delas não tinham condições financeiras. Mas, devido à alfabetização que tiveram, conseguiram se formar. Isso é um grande orgulho para mim.


Foto: Arquivo Pessoal
Maria de Jesus com o marido Luiz Vieira Cardoso, em 1955. Eles foram casados por quase cinco décadas

Diário - A senhora é bastante religiosa?

Maria - Sim. Coloquei o nome nas minhas três primeiras filhas de Fátima, Lourdes e Salete, para lembrar as três aparições de Nossa Senhora. Sou devota de Nossa Senhora de Lourdes e frequento a Capela de Nossa Senhora da Salete, que pertence à Igreja da Ressureição (Santuário Nossa Senhora de Lourdes). Por cinco anos, fiz parte da pastoral do idoso. Porém, há dois, parei de ir à igreja, devido à dificuldades que tenho em caminhar. Pertenço à Legião de Maria, onde ocupei vários cargos. Hoje, também por cuidados com a saúde, atuo só como membro. Nesta caminhada, tive oportunidade de levar muitas pessoas ao grupo. Minha família sempre foi muito católica. Eu e minha irmã caminhávamos, do interior até o centro de São Sepé, para ir às missas de domingo.

Diário - Como define as mudanças na educação, ocorridas da época em que lecionou até hoje?

Maria - Algumas mudanças foram para melhor, outras não. A língua portuguesa foi a que mais mudou, não é mesmo? Antigamente, escrevia de uma maneira. Hoje, tento fazer o certo, mas, às vezes, escrevo como aprendi. A matemática era minha matéria favorita, tanto para estudar quanto para lecionar. Antes, decorávamos muito, agora, é preciso entender o conteúdo, sem decorebas.

Foto: Arquivo Pessoal
Há 20 anos, a aposentada participa do grupo de caminhada do Monet

Diário - E sua relação com Santa Maria. Como é?

Maria - Não troco essa cidade por nada. Ela é muito abençoada. Adoro morar aqui. Pela manhã, não tenho mais o bom dia dos alunos, mas, conto com o sorriso dos vizinhos. Logo que meu marido terminou a casa em Santa Maria, não tive coragem de deixar nossa chácara e não trouxe mudança. Depois, encantei-me como o acolhimento da cidade. Terminei de criar meus filhos aqui, já que, aos 50 anos, tive o filho mais novo. Também ajudei a criar os netos e bisnetos.

Diário - O que a senhora mais gosta de fazer?

Além de estar na companhia dos meus bichinhos, Gata, Tigrão, Preto e Niquita, adoro ter minha família por perto e ver a casa movimentada. Gosto, também, de viajar em grupo com as amigas. Viajar é bom, mas não há nada melhor do que voltar para casa.

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