Foto: Arquivo Pessoal
Após sete anos estudando, toda a dedicação e o esforço de Igor Castagnetti Silva, 29 anos, foram recompensados com a tão sonhada aprovação no curso de Medicina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O estudante está entre os aprovados do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2024, divulgado na última quarta-feira (31). Recentemente, o Diário contou a história de Igor, um dos estudantes de Santa Maria que alcançaram a nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
– Estou muito feliz com o resultado. As expectativas estão altas para começar o curso. Sempre foi um grande sonho meu estudar na UFSM – destaca Igor.
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Assim como outros milhares de vestibulandos, Igor só conseguiu conferir o resultado na quarta-feira, devido a sobrecarga do sistema de consulta no site. Ele conta que durante esse tempo de espera a expectativa e a ansiedade estavam "a mil".
Formado em Psicologia pela Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma) e aluno egresso da Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria Rocha, ele sonha em ser médico para atender pacientes em hospitais públicos, como o Universitário de Santa Maria (Husm).
– O SUS é muito importante e eu percebo que faltam profissionais da área da Medicina. Sou usuário do SUS e quero atender as pessoas como eu gosto de ser atendido, com um serviço humanizado – contou estudante à reportagem na época.
Comemoração
Nas redes sociais, Igor vibrou com a aprovação:
“Ninguém faz nada sozinho e sem a minha família eu não seria absolutamente nada. Dedico a todos vocês a minha conquista.
Foram 7 anos tentando. Estudando enquanto eu trabalhava, enquanto eu descansava, enquanto eu acordava, jantava,almoçava. Dormindo pensando em estudar. Acordando pensando em tudo aquilo que eu precisava ainda revisar. Acumulando matéria. Simulado. Errando questão. Errando matemática, gramática, semântica. Sentindo que eu estava vivendo todos os anos como se fossem o mesmo ano, vivendo todos os dias como se fossem o mesmo dia. Uma punição auto imposta pior do que a de Sísifo.
Como se o tempo passasse e eu não saísse do lugar. Foram muitos domingos ensolarados trancado dentro de casa escutando as pessoas serem felizes do lado de fora da janela.
Em 2016, vivi uma das maiores decepções da minha vida. Estudei sozinho, por conta própria, e passei na EsPCEx.
Na época, minha mãe trabalhava como faxineira e me deu todo o dinheiro que ela recebeu no mês de trabalho para ir de avião pro Castelo Rosa. Minha atual esposa, na época namorada, me deu todo o dinheiro da bolsa de estágio que ela recebia para eu pagar os exames da inspeção médica.
Em 2016, quando eu recebi o INAPTO na inspeção de saúde da EsPCEx, eu fiz uma promessa pras pessoas que provavelmente nunca mais vou ver de novo, naquele castelo rosa, eu fiz uma promessa para mim, para minha família, para memória do meu pai:
Se eu não puder ser Oficial, serei Médico.
Custasse o que fosse custar. Demorasse o tempo que fosse demorar. Eu não ia desistir enquanto não alcançasse o meu objetivo.
Em 2018, no Sisu 2019.2, eu passei em Medicina na Universidade Federal da Fronteira Sul. Minha família não tinha condições financeiras de prover o meu sustento e eu tive que ver, mais uma vez, mais um grande sonho ser tirado de mim por motivos que fugiam do meu controle: ver tudo aquilo que eu sempre sonhei, novamente, escorrer por entre os meus dedos sem que eu pudesse pegar.
Voltei para Santa Maria e continuei. Persisti. Sofri. E, então, eu entendi tudo que eu não tinha entendido e aceitei.
Hoje, neste momento, estou vivendo o início dos dias mais felizes da minha vida e sinceramente nada mais importa.”
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Nota mil na redação
A argumentação sobre a desigualdade de gênero no serviço doméstico colocou o santa-mariense no seleto grupo que atingiu a nota máxima na redação do Enem 2023. Apenas 60 candidatos no Brasil alcançaram a pontuação máxima nessa prova. No Rio Grande do Sul, foram seis.
Quebra de estigmas
O psicólogo atua no serviço público de Santa Maria. Ele é servidor da prefeitura e atende adolescentes e adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na rede pública de saúde. Ele, inclusive, é uma pessoa com TEA. Igor acredita que a nota mil e a aprovação em Medicina podem ser bons exemplos para superar preconceitos e estigmas sociais a respeito do transtorno.
– É importante que os pais percebam que o diagnóstico não é o fim do mundo. Se os filhos tiverem acesso à educação e serviços, eles podem muito bem chegar ao Ensino Superior. Cada caso é um caso, mas não podemos generalizar achando que todas pessoas com TEA não conseguirão entrar no mercado de trabalho formal e ingressar na graduação – ressaltou o psicólogo, que descobriu o transtorno quando já era adulto.
Igor ainda afirma que o olhar humanizado de familiares, amigos e professores facilita muito a vida de quem tem TEA.