Um dos secretários da linha de frente na defesa do governo José Ivo Sartori (PMDB), o titular da Segurança Publica, o santa-mariense Cezar Schirmer, em entrevista ao Diário, falou sobre o cenário político atual, as chances de reeleição do governador, o descontentamento do grupo eleito para presidir o PMDB na cidade sobre sua possível interferência na convenção municipal, além do fato de o partido não ter candidaturas locais à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados.
Confira os principais trechos:
ENTREVISTA
Diário de Santa Maria – No cenário atual do país, o senhor acha que está faltando renovação de lideranças políticas?
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Cezar Schirmer – Acho que o país está vivendo uma revolução, mas uma revolução diferente das que se antecederam no Brasil e no mundo. No passado, um movimento dessa natureza, movimento revolucionário, ensejava vítimas físicas. Vamos pegar um exemplo mais palpável:A revolução Francesa foi boa para a França e para o mundo? Certamente foi. Mas quem viveu naquele momento, a Revolução França foi um desastre, era uma coisa terrível. Imagina: matavam rei, matavam rainha, enfim, guilhotina.
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Essa intranquilidade, essa insegurança, sai governo, entra governo, terror, diretório, convenção, era um momento de grande efervescência. Quem viveu na França naquele momento, vivia angustiado, perplexo, sem perspectiva como nós, hoje no Brasil, mas no médio prazo aquilo foi muito saudável e positivo para o Planeta, para a França e para o mundo. O que está acontecendo no Brasil é a mesma coisa. Diferentemente do passado em que as revoluções geravam mortes físicas, essas geram mortes cívicas. Há dois anos, se eu dissesse que o presidente da Câmara (Eduardo Cunha) vai estar preso, o Lula vai estar condenado, a Dilma vai estar cassada, o Temer vai estar dando explicação, os maiores empreiteiros vão estar na cadeia, o banqueiro vai estar na cadeia, o empresário X vai estar na cadeia, tu dirias: esse cara enlouqueceu. Imagina o que isso tem de educativo e de transformador na vida brasileira. Então, esse é um momento ruim, mas para o futuro do Brasil é uma maravilha.
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Diário – Mas não para logo...
Schirmer – Certamente não, esse é um processo de transformação que é longo, não é do dia para a noite, mas é muito saudável o que está acontecendo, é altamente positivo. Então, temos de ter uma visão mais otimista do futuro do país, não a curto prazo. A curto prazo, eu não sei se já batemos o fundo do poço, ou tem mais poço ainda para descer, mas não vai ser eterno isso. Logo, em algum momento, nós vamos reverter esse quadro.
Diário – O que o senhor acha de um partido com o tamanho do PMDB em Santa Maria não ter candidaturas locais a deputado estadual e federal?
Schirmer – Minha opinião é que deveria ter. Partido que não tem candidato, abdica do seu futuro.
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Diário – O senhor não pensa em concorrer, já que não surgiram outros nomes?
Schirmer – Não, já fui. Ser político neste momento, ser candidato, ser deputado, há um quadro de generalização muito grande, há um sentimento geral de que ninguém presta. Está muito ruim fazer vida pública nessas circunstâncias.
Diário – Como está a sua relação com a nova direção do PMDB, presidido pela ex-vereadora Magali Marques da Rocha? O grupo da presidente eleita não gostou da forma como o senhor teria interferido a favor do outro candidato, Valmor Franciscatto, na convenção ocorrida em agosto?
Schirmer – Não interferi nada, falei com duas ou três pessoas. Eu achei que o partido poderia se renovar aqui e colocar um jovem, que era o Valmor. Ele me procurou uns três meses antes da convenção e me perguntou se eu já tinha candidato. Eu disse que não e ele perguntou se eu o apoiava. Disse sim, voto em ti. Na verdade, eu telefonei para duas ou três pessoas.
Diário – Mas e a relação com a nova presidente?
Schirmer – A Magali foi minha secretária, minha chefe de Gabinete, gosto muito dela. Não foi uma disputa entre pessoas, foi uma visão de partido. Eu acho que o PMDB é um grande partido, que tem de ter candidato a deputado estadual e a federal, acho que também tem de pensar no seu futuro. Isso é uma avaliação minha. Um partido dessa dimensão não pode ser um partido que se trate sem a compreensão da sua dimensão. Agora, acho que tem de abrir para novos quadros. Nada contra a atual direção, a maioria dos que estão na direção do partido são pessoas das minhas relações pessoais e trabalharam comigo na prefeitura. Eu normalmente tenho posição e tive. Isso não altera minha vida partidária, minha relação.
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Diário – O senhor acha que a candidatura à reeleição do governador Sartori pode ser competitiva diante do desgaste com parcelamento de salários, problemas na segurança e de medidas amargas tomadas pela sua gestão?
Schirmer – Eu acho que nenhum governador enfrentou os problemas estruturais do Rio Grande, chegamos ao fundo do poço do ponto de vista das finanças. Nos últimos 40 anos, só cinco anos o Estado teve superávit, dois quando eu fui secretário da Fazenda do Pedro Simon. Outros governadores venderam a CRT, outro aumentou imposto, outro vendeu as ações da CEEE, outro avançou nos recursos dos depósitos judiciais. Cada um teve uma alternativa para não enfrentar o problema na sua dimensão total. Nós que já fomos pioneiros, vanguarda, enfim, um Estado exemplar do ponto de vista dos serviços públicos, hoje estamos nos arrastando. Então, o governador Sartori tinha duas opções: ou continuava com esse quadro, e era difícil continuar com esse quadro e não tinha muitas alternativas, ou enfrentá-lo. Ele está enfrentando.
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Você diz que são medidas amargas, mas quem conhece vida pública, quem sabe a situação do Rio Grande sabe que elas são necessárias. O governador teve a coragem de tomar essas providências, nem todos têm essa compreensão. Infelizmente até a própria Assembleia Legislativa não tem essa compreensão necessária para enfrentar essa realidade. Poder público, como nós o conhecemos no passado: gastador, arrecadador, inoperante, com desperdício e, às vezes, até com corrupção, como temos visto aí, sem apresentar resultados à população, graças a Deus acabou. Então, quem mais cedo compreender essa realidade, quem mais cedo tomar medidas, mais forte sairá à frente. Então, o governador está cumprindo um papel muito relevante e de grande responsabilidade e coragem. Não sei o que vai acontecer num futuro próximo, mas num futuro distante tenho absoluta certeza que ele vai ser considerado um grande governador.
Diário - Mas e a candidatura agora?
Schirmer – Acho que ele pode se reeleger sim, vai ter chance, na televisão e nos debates, de mostrar o que fez e por que fez e aonde vamos chegar.
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Diário – O senhor está acompanhando o governo Jorge Pozzobom (PSDB)?
Schirmer – Cada um faz o que é possível fazer, não é meu papel olhar para trás, não vou criticar ninguém.