Sete meses após acidente com bola que saiu de estádio do Inter-SM, motociclista aguarda amputação da perna

Sete meses após acidente com bola que saiu de estádio do Inter-SM, motociclista aguarda amputação da perna

Foto: Arquivo Pessoal

O motociclista que caiu na Avenida Liberdade após passar por cima de uma bola que saiu do Estádio Presidente Vargas em partida do Inter-SM, em Santa Maria, aguarda a amputação da perna após mais de sete meses de tratamento no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). O procedimento foi indicado pela equipe médica diante de um quadro de infecção persistente, que, segundo relatos da família e do próprio paciente, não respondeu aos procedimentos realizados até o momento. A cirurgia chegou a ser cancelada em datas anteriores e, conforme o hospital, está agendada para a próxima semana.


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Desde o acidente, ocorrido em maio, Cássio Dutra dos Santos, 60 anos, passou por uma série de internações, cirurgias e retornos ao hospital. Inicialmente, ele teve a perna fraturada e recebeu fixadores externos, descritos por ele como “ferros” colocados na perna. Em um segundo momento, foi submetido a um novo procedimento, com a colocação de uma placa metálica. No entanto, o material teria infeccionado, o que exigiu a retirada da placa e uma nova cirurgia de raspagem interna. Mesmo após essas intervenções, o quadro não apresentou melhora.


Ao longo do tratamento, Dutra relata que contraiu uma bactéria resistente, que acabou se espalhando pelo interior do osso. 


– Eu não posso dizer que foi aqui (no Husm, que contraiu a bactéria) ou não, mas a princípio sim, por todo esse tempo, já faz sete meses que eu estou desse jeito. 


Segundo ele, a indicação médica é clara quanto à necessidade de amputação para evitar que a infecção avance para o restante do corpo. 


– Eu tenho que amputar a perna porque está preenchida de bactéria e ela está subindo. Então, eu tenho que cortar ela para poder me livrar antes de ela subir para todo o corpo – relatou.


A espera pela cirurgia, no entanto, tem sido marcada por cancelamentos e falta de informações, conforme a família. O paciente conta que, em uma das tentativas, o procedimento foi suspenso apenas no fim do dia, após ele permanecer em jejum por horas. 


– No dia 23 de dezembro, eles alegaram que a minha cirurgia era para o final da tarde, mas que eles já tinham terminado (os procedimentos) e não tinham mais condições de fazer a cirurgia. Eles cancelaram. Eu passei o dia inteiro sem comer, sem nada, e só me avisaram de noite. E agora estou pela espera de uma cirurgia. Que seja o mais rápido possível, antes que dê problema com o resto do corpo – disse.


Foto: Reprodução e Arquivo Pessoal


A filha de Cássio, Fabiane Pereira, diz que a longa internação transformou completamente a rotina da família, exigindo revezamento constante no hospital e provocando impactos diretos na renda doméstica. Segundo ela, o acompanhamento diário é indispensável, o que obrigou o irmão a se afastar do trabalho para permanecer ao lado do pai durante o dia, enquanto a mãe assume os cuidados no período da noite, conciliando a permanência no hospital com a jornada profissional. Em situações em que nenhum familiar consegue estar presente, a família precisa arcar com custos extras para garantir que Cássio não fique sozinho. 


– Meu irmão e minha mãe estão sempre acompanhando ele. É extremamente difícil porque o meu irmão não consegue trabalhar. Meu pai precisa de uma pessoa o dia inteiro aqui. Então, quando meu irmão tem algum compromisso, temos que pagar alguém para ficar. Minha mãe fica à noite porque trabalha de dia – afirmou.


Além das dificuldades práticas e financeiras, Fabiane também aponta fragilidades na comunicação entre a família e a equipe médica responsável pelo caso. Ela afirma que cancelamentos de procedimentos ocorrem sem explicações claras e que os profissionais nem sempre retornam para esclarecer dúvidas ou detalhar o estado de saúde do paciente, o que aumenta a angústia de quem acompanha a evolução do quadro há meses. 


– No hospital eles não falam nada porque ninguém diz nada. Eles só cancelam e não dão explicação. o médico que deveria vir não vem para não dar explicação. As únicas notícias que temos são por meio dos enfermeiros. Eles vem até aqui, conversam, mas os médicos mesmo não falam absolutamente nada – disse.


Segundo Fabiane, na ausência de informações oficiais mais detalhadas, são os enfermeiros que acabam oferecendo algum tipo de retorno à família, seja por meio de conversas informais ou orientações pontuais sobre o estado clínico do pai. Ela relata que esses profissionais demonstram atenção e empatia, mas reconhece que também estão limitados em relação às decisões médicas. Ainda assim, a família questiona a avaliação de que o caso não seja tratado como urgente, considerando o risco de avanço da infecção.


Apesar do cenário delicado e da incerteza em relação aos prazos, Dutra afirma que tenta manter a tranquilidade e o foco na preservação da vida. Ele diz que, após meses de tratamento sem evolução, passou a encarar a amputação como uma alternativa necessária para evitar complicações ainda mais graves. Ao mesmo tempo, ele relata o peso financeiro do afastamento do trabalho e dos gastos acumulados ao longo do tratamento, o que levou a família a pedir apoio para custear despesas básicas relacionadas à internação. Interessados podem colaborar pela Chave Pix: (55) 98414-3927, no nome de Jussara Pereira dos Santos.


Mesmo diante da gravidade do quadro clínico e das mudanças impostas pela possibilidade de amputação, Dutra relata que tem buscado manter o equilíbrio emocional durante a internação. Segundo ele, a principal angústia não está na cirurgia em si, mas na espera prolongada pela realização do procedimento, que considera essencial para conter o avanço da infecção e reduzir os riscos à saúde. Para ele, a definição de uma data e a efetivação da cirurgia representam não apenas um passo médico, mas também um alívio psicológico após meses de incertezas e sucessivos adiamentos.


– Eu estou bem. Tranquilo. Eu penso em amputar a perna por conta da saúde. Porque eu ainda vou ter uma perna e talvez eu consiga colocar uma perna mecânica, mas pelo menos eu estou vivo. Graças a Deus. (A ansiedade) é pela cirurgia. Se eu fizer hoje, está bom. Se eu fizer amanhã, está bom. Eu só gostaria que os médicos me ajudassem, que me dessem uma atenção. Porque, para mim, quanto mais rápido, melhor.


Posicionamento do Husm

Em nota, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), responsável pela administração do Husm, informou que o paciente segue recebendo assistência e explicou o motivo do cancelamento da cirurgia em dezembro:


"O paciente está sendo tratado com antibióticos e recebendo toda a assistência de médicos e da equipe multiprofissional. O caso está sendo acompanhado por profissionais de área de Segurança do Paciente, que está analisando, entre outros pontos, a origem da infecção. Sobre a cirurgia, não foi realizada no dia 23/12 porque outros casos urgentes e mais graves surgiram e tiveram de ser priorizados. No entanto, o procedimento já está agendado para a próxima terça-feira (30/12)."


Relembre o caso

O acidente ocorreu no dia 17 de maio, durante a estreia do Inter-SM na Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho, contra o Lajeadense, no Estádio Presidente Vargas. Na ocasião, Dutra trafegava de motocicleta pela Avenida Liberdade, ao lado do estádio, quando uma bola saiu do campo, provocando a queda dele, que não conseguiu desviar, e a fratura na perna. Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado ao Husm. À época, a direção do Inter-SM confirmou o fato, prestou apoio no local, recolheu a motocicleta para o interior do estádio e informou que manteve contato com os familiares para assistência e acompanhamento da situação.


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