UFSM

Especialistas analisam a baixa votação nas eleições para reitor e DCE

José Mauro Batista


Foto: Charles Guerra / Newco SM

As recentes eleições envolvendo a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) tiveram participação muito aquém do número de eleitores. Na eleição para reitor, ocorrida nos dias 27 e 28 de junho, 22,7 mil não foram votar, entre professores, servidores e estudantes. 

Na eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE), apenas 4,9 mil de um universo de 24,2 mil universitários foram às urnas. Há quatro anos, a escolha do reitor teve 1,7 mil votantes a mais que na deste ano. Já para o DCE, houve aumento de 345 votantes em relação ao ano passado. Mesmo assim, diante do universo de votos, os números reforçam a pequena presença nas urnas.

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Uma das explicações é que a baixa participação dos alunos se deve ao final de semestre com a realização das provas. E essa, inclusive, é uma das razões apresentadas pelo reitor reeleito, Paulo Burmann. Mas não é a única. Ainda durante o processo eleitoral, Burmann admitiu que a campanha estava muito menos visível que a de 2013. O candidato Dalvan Reinert classificou como "campanha silenciosa".

Mas o principal motivo apontado por representantes de segmentos ouvidos pelo Diário é a descrença das pessoas, de modo geral, nas instituições e no próprio regime democrático (confira ao lado). 

Doutor em sociologia, Marcos Rolim evita analisar os números das eleições para a Reitoria e para o DCE por estar afastado há tempos da instituição e, por isso, distante de informações que possam levá-lo a uma avaliação local. Militante do movimento estudantil e do PT nos anos 80, Rolim culpa a esquerda brasileira por esse esvaziamento.

– Seguramente houve um esvaziamento muito grande e há vários fatores. Hoje não há perspectiva utópica, como ocorria durante a luta contra a ditadura, quando havia um inimigo comum que unificava as pessoas – avalia Rolim, que vê os indivíduos mais interessados nos seus próprios problemas do que em soluções para a coletividade.

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O professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSM Dejalma Cremonese acredita que o final de semestre prejudicou um pouco a participação dos estudantes e que o voto facultativo também influenciou. Ele reconhece, no entanto, que a crise política fragilizou a democracia e afastou as pessoas.

– Mas o homem é, por natureza, um animal político e a participação sempre é melhor, seja para a universidade, para a cidade ou para o país – afirma Cremonese.
O presidente da comissão eleitoral da eleição para reitor, Jorge Alves, também acredita que o descrédito na política nacional acaba influenciando em eleições como as da UFSM e até mesmo a do Cpers.

Os números 

Votação para reitor
– 34.594 eleitores aptos a votar em 4 campi da UFSM e polos de Educação a Distância (EaD)
– 11.819 eleitores, entre professores, técnico-administrativos e alunos foram às urnas
– 22.775 eleitores não foram votar para reitor
– 1.784 votantes a menos que há 4 anos

Votação para o DCE 
– 24.235 estudantes dos cursos de graduação dos 4 campi e dos colégios técnicos aptos a votar
– 4.962 estudantes foram às urnas votar na eleição do DCE
– 19.273 estudantes não foram votar na eleição do DCE
– 345 votantes a mais no pleito deste ano em relação a 2016

Foto: Fernando Ramos / Agência Rs

Não dados de pleitos anteriores para comparação

Konrad, doutor em História e pesquisador de movimentos sociais e políticos, é cauteloso ao avaliar a participação em eleições na universidade. Segundo ele, a ausência de dados de pleitos anteriores impossibilita comparação e, consequentemente, opinar sobre a situação específica. 

No entanto, Konrad acredita que em relação aos estudantes, em nenhuma das eleições a participação ficou dentro da margem histórica. Já professores e servidores, observa o historiador, tiveram presença significativa na eleição para reitor.

– O estudante tem passagem mais rápida e essa talvez possa ser a razão maior da pouca participação. E há também o individualismo, grande parte dos estudantes está mais preocupada com a sua carreira – avalia ele.
Estudante de Jornalismo e integrante da coordenação-geral do DCE, Cristina Haas é otimista, com base nos números da eleição do órgão neste ano:

–Houve um aumento, mesmo que pequeno, de votantes. E isso se deve às ocupações e à assembleia que reuniu entre 5 e 7 mil estudantes. no ano passado.

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A repercussão 

¿Há um mergulho da grande maioria das pessoas na dimensão privada da existência para resolver seus problemas. Elas não identificam na esfera pública plataforma pela qual lutar¿

Marcos Rolim, doutor em Sociologia e militante estudantil nos anos 80 da UFSM (não quis falar especificamente sobre as duas eleições ocorridas na UFSM por estar afastado há muito tempo da instituição, mas concordou em dar a sua opinião sobre o desencanto da população, sobretudo dos estudantes)

¿O Movimento Estudantil varia de acordo com a conjuntura nacional, mas o movimento estudantil está se rearticulando e conseguindo puxar algumas mobilizações¿
Cristina Haas, integrante da coordenação geral do DCE, abordando especificamente a votação para o Diretório Central dos Estudantes

 ¿Há um descrédito muito grande nas instituições e o voto, na UFSM, é facultativo. Houve um certo esgotamento democrático e o engajamento é incipiente!
Dejalma Cremonese, professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSM

¿A participação dos estudantes ficou dentro do padrão, não fugiu da margem histórica. Há um mito construído sobre maior participação em eleições passadas. De qualquer forma teríamos que fazer pesquisa, termos dados para comparação¿

Diorge Konrad, doutor em História e professor da UFSM

¿Acho que o momento político do país, não da universidade, e o descrédito da população, talvez se reflita em eleições pequenas como essas, inclusive a do Cpers. Mas no DCE, houve aumento.¿

Jorge Alves, presidente da comissão eleitoral da consulta para a Reitoria da UFSM

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