Consumo

Com alta dos juros, pagamento à vista volta a valer a pena

Juliana Gelatti

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A diferença entre o preço à vista e o valor a prazo em compras no comércio em geral sempre existiu. Mas andou em voga, por alguns anos, o parcelamento "sem juros" (na verdade, a taxa era cobrada também no valor à vista), e a população, já acostumada a parcelar, aproveitou. Esse tempo passou e, hoje, o acréscimo no pagamento em prestações chega a dobrar o preço final dos produtos.

Apenas de janeiro para fevereiro, as taxas de juros para o consumidor do comércio subiram 3,03%. Em um ano, o aumento foi de 35%, conforme pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Por isso, é importante abrir o olho, comparar as taxas de juros nas diferentes lojas e, sempre que possível, pagar à vista.

Pesquisa em nove lojas

Para atestar esse aumento nos juros, o Diário fez um levantamento em panfletos promocionais de nove lojas situadas na Rua do Acampamento. Em todos eles, aparece em destaque o valor de cada parcela. Em tamanho menor, o preço do produto à vista e o total das prestações. Embora escondidos, são esses dois valores que deveriam atrair a atenção dos consumidores. Mesmo para quem não tem condições de pagar na hora e, precisando do produto, recorre ao parcelamento, é importante fazer essa comparação.

Conforme o economista que coordena a Clínica de Finanças do Centro Universitário Franciscano, Alexandre Reis, esse aumento nas taxas de juros do comércio é um sinal de que o mercado está se adaptando aos ajustes feitos pelo governo federal desde o início do ano. Dois anos atrás, a taxa básica de juros, a Selic, era de 7,25% e, hoje, é de 12,75%. Como é um dos principais critérios para as instituições financeiras definirem a própria cobrança, os juros ao consumidor também aumentaram.

– Para a empresa, que às vezes precisa parcelar suas próprias compras ou pedir empréstimos, o juro também está alto. Nessa diferença de preços, a gente vê claramente um incentivo ao pagamento à vista. A empresa está valorizando quem desembolsa todo o valor na hora, pois ela mesma tem gastos cada vez maiores e precisa de capital de giro, para pagar funcionários, contas de luz, de combustível – explica Reis.

A diferença é bastante visível em produtos como móveis e eletrodomésticos. Mesmo que tenham terminado os incentivos fiscais que abatiam impostos para impulsionar as vendas desses itens, os preços não aumentaram muito, conforme mostram os índices de inflação. Em Santa Maria, o grupo de produtos que inclui esses artigos tem permanecido estável. Já as chamadas despesas pessoais, que incluem os juros do cartão de crédito, estão em ascensão, de acordo com o Índice do Custo de Vida de Santa Maria.

Leia com atenção e compare preço no prazo

A falta de cuidado com as compras a prazo é o principal fator que leva ao superendividamento dos consumidores. O diagnóstico é do projeto de prevenção ao superendividamento, do Procon de Santa Maria e da Unifra. De acordo com o coordenador e professor Vitor Hugo do Amaral Ferreira, falta informação e disciplina para o pagamento parcelado.

– Cerca de 60% das pessoas que procuram nossa ajuda para renegociar dívidas têm problemas com cartão de crédito (inclusive os de lojas e supermercados) ou compras a crediário. Como não há tanto critério para a concessão do crédito, a pessoa compra além do que podia, depois paga apenas o mínimo da fatura e no mês seguinte a conta é muito maior – relata Ferreira.

O coordenador do Procon, que também é professor do curso de Direito, explica que, hoje em dia, há uma liberdade maior para a definição das taxas de juros pelas lojas. Ao contrário do que ocorria anos atrás, a Justiça não tem mais dado ganho de causa a consumidores que processavam empresas e financeiras em relação à cobrança de juros abusivos.

– A única obrigação da empresa é informar o consumidor e deixar claro quanto está cobrando. Quem discordar não compra – "

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