Comércio

Briques perdem espaço para vendas pela internet, mas ainda resistem

Diogo Brondani

Foto: Charles Guerra (Diário)
A estudante Maria Vitória veio de Uruguaiana para estudar Direito em Santa Maria. Para mobiliar a casa, foi com a mãe Vanessa até um brique, por ser mais barato

Em tempos em que se faz quase tudo de forma cômoda pela internet, as negociações de compra e venda de objetos, até mesmo de móveis e eletros usados, estão em alta. Além de sites especializados como Mercado Livre e OLX, o Facebook tem sido a grande ferramenta de negócios, principalmente por meio de grupos criados especificamente para isso, que permitem a negociação direta entre as pessoas, sem precisar passar por um intermediário, como o brique.

Enquanto as ofertas aparecem a cada minuto, os donos de briques de móveis novos e usados precisam se reinventar para conseguir manter a clientela. Quem atua no ramo diz que a alta dos negócios foi há cerca de 15 ou 20 anos, mas que, de uns tempos para cá, os briques estão fechando suas portas.

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Na região central de Santa Maria, o Diário visitou oito briques que ainda resistem. Para isso, os proprietários dizem que é preciso inovar.

- Passamos a oferecer também os móveis do tipo popular novo, com garantia e montagem grátis. Hoje, 50% dos produtos da loja são novos. É um diferencial que a gente tem para seguir no ramo - afirma a dona de um dos briques, Clair Ferraz, 61 anos, que atua há 20 no setor.

- Há cerca de 10 anos, a gente ganhava dinheiro. Hoje, a gente trabalha apenas para pagar as despesas - diz Vanessa Barros, que tem uma loja no Centro.

- Um dos grandes problemas é que compramos à vista e vendemos a prazo. Além disso, a venda pela internet tira a margem de lucro que nós, que somos atravessadores, temos - avalia Célio Cherobini, 35 anos, que tem um estabelecimento há 10 anos.

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- Para o meu negócio, os produtos que as pessoas vendem ou compram pelo Facebook ao invés de vir na minha loja não atrapalham em nada. Trabalho há 22 anos, já temos um nome consolidado e só negociamos produtos bons. Os nossos clientes não deixam de vir até a loja - afirma Débora Dutra, 51 anos, complementando que há um aumento de cerca de 70% nas vendas a cada início de ano em função dos estudantes que chegam para morar na cidade.

ALIADA
No entanto, há aqueles que não veem a internet como concorrente e, sim, como aliada.

- Também compramos e vendemos pelo Facebook. É um meio que nos ajuda, principalmente a vender para fora da cidade - revela a dona de um dos estabelecimentos, Maria Helena Argenta, 73 anos.

Como esses estabelecimentos também compram itens usados, alguns deles tomam precauções para não cair em golpes, como comprar eletrodomésticos e eletrônicos que não funcionam ou que têm procedência duvidosa. 

- Um cara veio aqui me oferecer uma TV. Chegou de táxi, usando uniforme de uma empresa de vigilância. Eu o recebi na boa-fé e, tempos depois, fui chamado no Fórum para responder por receptação de produto furtado. Foi um erro meu, que não avaliei o produto com calma e não pedi nota fiscal ou recibo da TV - conta Cherobini.

Dona Maria Argenta também tem alguns métodos que mantem visando a segurança:

- Às vezes, o pessoal vem querendo vender ferramentas, máquinas para trabalho, botijão, ou eletrônicos com valor muito abaixo, e nós não compramos.

DOIS PERFIS DE CLIENTE

Dois tipos de clientes são tidos como o carro chefe dos briques que ainda resistem. São os estudantes que chegam ou vão embora da cidade, assim como os militares, que compram ou vendem todos os móveis da casa de uma vez só. O outro tipo é o cliente local que busca apenas um item em específico.

- Quando chegam, os estudantes vêm aqui e compram o básico. Fogão, geladeira, cama e móveis de primeira necessidade. Quando vão embora, nós vamos na casa ou apartamento e procuramos comprar todos os móveis, oferecendo um valor pelo pacote completo. É mais vantajoso para eles e para a gente também. No caso dos militares, muitos fazem o mesmo. Mobíliam toda a casa com itens usados, e, quando são transferidos, compramos deles de volta - revela Mônica Barros da Silveira, 31 anos, proprietária de uma loja na Avenida Presidente Vargas. 

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Dentre estes exemplos estava Maria Vitória Bastos da Silva, 17 anos, que veio de Uruguaiana para estudar Direito em Santa Maria. Na metade de fevereiro, ela foi com a mãe, Vanessa Bastos, 45 anos, em busca de móveis para a sua nova casa.

- Vale a pena comprar os produtos de segunda mão, em bom estado, claro, porque a estadia na cidade é temporária. Além disso, é bem mais em conta do que comprar novo nas lojas do Centro - diz a estudante.

Além desse tipo de cliente, o outro é o consumidor que, geralmente mora na cidade e vai até o brique em busca de artigos individuais.

- É o cliente que vem atrás de um balcão de pia porque a porta daquele que ele tem em casa caiu, ou de um sofá porque o dele já está gasto - destaca o comerciante Célio Cherobini.

GARANTIAS SÓ PARA ELETRODOMÉSTICOS
Apesar de a Receita Estadual informar que, mesmo briques precisam emitir nota fiscal, pois devem também pagar ICMS com alíquota menor do que em produtos novos, nem todos esses estabelecimentos costumam dar nota. Em alguns, é feito um recibo em nome do comprador, especificando o item negociado, e só é emitida nota quando é vendido um produto novo.

Em geral, nos briques, os móveis usados não têm garantia, já que o cliente vê o estado atual dele na loja, segundo a comerciante Vanessa Bastos. No caso dos eletrodomésticos, todos são testados junto do consumidor. Contudo, os briques costumam dar uma garantia de 60 dias. Esse fator tem feito muitos pararem de negociar eletrodomésticos usados e manter apenas a venda de móveis.

VANTAGENS E RISCOS DE COMPRAR PELA INTERNET
Quanto está pedindo? Aceita troca? Quem acompanha os grupos de brique pelo Facebook sabe que esses são os comentários mais comuns em postagens de compra e venda. A facilidade e a rapidez em negociar pela rede social são os motivos que levam o músico Leandro Rogério Bueno, 50 anos, a comprar e vender artigos pelo Facebook.

- É um meio único, diferenciado, rápido e fácil de vender. Já fiz vários negócios, de móveis, de compra e venda de instrumentos e até carros. Quando tu anuncias um produto, a resposta é instantânea. Não dá tempo de responder todos os comentários. Na hora de comprar, a gente procura ir até a casa da pessoa e testar os produtos - recomenda.

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Outra vantagem é quanto aos preços, pois é possível de achar produtos com pouco tempo de uso e valores mais em conta do que nas lojas.

Em uma das postagens, uma geladeira da marca Consul é oferecida pelo valor R$ 350. O vendedor ainda oferece frete grátis e a possibilidade de parcelar a compra no cartão de crédito. Uma geladeira nova da mesma marca, muito semelhante à anunciada, custa no site de uma loja de eletrodomésticos R$ 1.139. Porém, como a negociação é direta, o risco é de haver um defeito com o produto e o vendedor se negar a resolver o problema, ou de o produto ser originário de furto e o comprador responder por receptação.

CUIDADOS NA COMPRA DE USADOS

  • Móveis em madeira ou compensados - O primeiro ponto a observar é se o móvel não está com cupim e se não foi remendado com parafusos ou pregos além daqueles que fazem parte da estrutura. Outro ponto é quanto ao número de vezes em que o móvel foi desmontado, pois, em função disso, pode apresentar peças desencontradas ou prateleiras que não encaixam. Verifique se não há inchaço da madeira devido à umidade.
  • Gavetas - Outra indicação é analisar as gavetas, verificando se correm bem e dando preferência às que usam corrediça, em vez de encaixe de plástico. Abrir as portas para testar dobradiças e equilíbrio do móvel, ver se não se inclina ou balança com o movimento, e se as peças não estão empenadas.
  • Camas - Pés e estrado são as principais partes da cama que devem ser observadas. Verifique se não estão danificados, e se o móvel tem sustentação, se existe firmeza na junção entre as peças. No estrado, cheque se as ripas estão inteiras, e se não há rachaduras na madeira.
  • Sofás - Atente para a limpeza e acondicionamento, firmeza da estrutura e estado da espuma dos assentos e encostos.
  • Eletrodomésticos - A primeira dica é confirmar se o equipamento está em bom estado e em pleno funcionamento, sem qualquer problemas. Solicite um termo de garantia de, no mínimo, 60 dias, da pessoa a qual você está comprando. Também analise a potência, pois se o aparelho for antigo, pode consumir bem mais energia.

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