Lavoura

Safra de arroz ainda não registra perdas devido à seca

Diogo Brondani

Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
Lavouras como a de Jeferson estão com um bom desenvolvimento, no entanto, se faltar chuva, pode haver perdas

"Nem tudo que brilha é ouro na safra que a gente sonha". Esse verso é um trecho da letra da música Ouro dos Arrozais, do tradicionalista Elton Saldanha. O músico refere que, muitas vezes, o dourado das lavouras de arroz e uma boa colheita não significam valorização da safra. E é com esse olhar que os produtores miram a safra 2017/2018, que tem tudo para ser boa.  

Na Região Central, a área de lavouras nos 34 municípios de abrangência do Núcleo de Assistência Técnica e Extensão (Nate) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) de Santa Maria deve ser de mais de 143 mil hectares. Puxando a lista dos maiores produtores em área plantada da região, a Terra dos Marechais, São Gabriel, é responsável por 29 mil hectares cultivados, seguido por Rosário do Sul e São Sepé. Santa Maria é o nono município da lista, com uma área cerca de quatro vezes menor do que São Gabriel (veja quadro).

Conforme o engenheiro agrônomo do Nate, Gionei Alves dos Santos, as lavouras já estão todas semeadas.

- Aquelas que foram semeadas no final de setembro e princípio de outubro encontram-se em período de desenvolvimento reprodutivo. E 30% da área total está com tratos culturais finalizados apenas sob monitoramento para possíveis intervenções referentes a pragas e doenças. O restante das lavouras, em torno de 70%, encontram-se em desenvolvimento vegetativo, necessitando ainda a segunda intervenção para adubação nitrogenada em cobertura - diz ele.

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A expectativa para este ano é de uma safra normal, conforme Santos, já que os tratos iniciais foram feitos nos períodos recomendados de desenvolvimento da cultura. Em linhas gerais as lavouras estão limpas, com adubação de cobertura e controle de invasoras satisfatórios. 

- Importante colocarmos que estamos sofrendo efeito de La Niña e poderemos ter algum problema de disponibilidade de água para aqueles que necessitam irrigar com água de rios e arroios. Esperamos que os meses fevereiro e março sejam com bastante oferta ambiental de temperatura e radiação solar, pois estes aspectos são fundamentais para que as cultivares consigam expressar os potenciais superiores de produtividade - projeta ele.

Segundo o agrônomo, na safra passada, a média de produtividade da Região Central foi de 7,3 mil kg/hectare. Foi considerada safra normal, já que houve a influência de El Niño e a semeadura ficou com significativo percentual fora da época preferencial, devido às enchentes de outubro de 2016.



SAFRA DEVE TER RENDIMENTO PLENO SE NÃO FALTAR ÁGUA

A expectativa ainda é de boa safra para o arroz. Há muitas condições, principalmente climáticas, que apontam para isso, principalmente quando se fala em temperatura, luminosidade e radiação solar sobre as lavouras. Todos estes fatores, aliados à suficiência de água, apontam para uma boa colheita. O rendimento só não será pleno devido ao atraso no plantio.

- Se tivermos águas nos reservatórios, não haverá problema. O grande definidor do potencial de produção é a época de semeadura, no início de novembro. Se não faltar nada na lavoura, ela será a resposta de todas as práticas de manejo. Só que nesse ano de 2017, em função das chuvas, quem não se preparou da melhor, até por falta de recurso em função da crise, poderá ter perdas. Mas reforço, ainda depende de como será o mês de fevereiro, que, se tiver água, deve compensar essa possível perda - diz o professor do Departamento de Fitotecnia da UFSM, Enio Marchesan.

Conforme ele, a colheita deve começar entre o fim de fevereiro e o começo de março.

- Isso depende muito do zoneamento agroclimático, que define, para cada município, fatores de radiação, temperatura e outros pontos para o desenvolvimento e amadurecimento da planta. Mas março é o período forte da colheita, quando a lavoura atinge os o ciclo entre 120 e 135 dias após o plantio - diz.

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Quanto ao rendimento, ele crê que os produtores deverão alcançar média perto da normal:

- A média de produção deve ficar em 7,5 mil quilos por hectare. Existem lugares que podem chegar a 9 mil kg/ha, o que é um ótimo rendimento, mas isso em áreas menores, mais concentradas. No entanto, isso consequentemente aumenta o custo da lavoura, já que exige maior investimento em produtos como fertilizantes e estimulantes.

O principal motivo da desvalorização do produto no mercado, segundo o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz) Henrique Dornelles, seria competitividade de arroz fora de padrão vindo de fora do país. 

- Já denunciamos ao Ministério da Agricultura, inclusive com provas que o próprio ministério constatou serem verdadeiras, as irregularidades praticadas no mercado que acabam desvalorizando o nosso produto. Ou seja, tem indústria nacional, de marcas conhecidas, negociando arroz do Paraguai, totalmente fora de padrão de consumo, e embalando como se fosse tipo 1. Essa competição desleal que deprime o preço à medida que provoca uma guerra por preço no mercado. O mercado é podre para o produtor e sujo para o consumidor - dispara Dornelles.

Segundo ele, se o Ministério da Agricultura não der resposta sobre o assunto até o dia 20 de janeiro, a Federarroz acionará o Ministério Público.


NA FAMÍLIA CAUDURO, CUSTO FEZ A LAVOURA REDUZIR

Pelo menos dois motivos mantêm o cultivo de arroz na família Cauduro, no distrito de Arroio Grande, em Santa Maria. O primeiro é por causa de todo o investimento já feito em equipamentos para a agricultura. O segundo é que a atividade praticada há gerações é que tem menos riscos quando comparada com o plantio de soja e criação de gado, por exemplo. Quem diz isso é o produtor Jeferson Luís Malgarin Cauduro, 42 anos (foto ao lado). Na propriedade da família, são cultivados cerca de 50 hectares. Mas essa área é pequena quando comparada aos 300 hectares que já foram plantados há alguns anos. 

- Chegamos a ter seis funcionários trabalhando. Mas o alto custo para mantê-los e a baixa valorização do arroz não permitiram que seguíssemos adiante. Safras ruins também acabaram influenciando para que diminuíssemos a área plantada - destaca o agricultor.

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Cauduro diz que o alto investimento em equipamentos como plantadeiras, caminhões, tratores, galpões e silos ainda o faz apostar no arroz. Mesmo assim, ele ainda vê a atividade com bons olhos quando se trata das garantias, principalmente climáticas.

- O arroz ainda é o mais resistente em caso de falta de água ou excesso. O gado perde peso e demora para recuperar em caso de falta de pasto pela estiagem. A soja, se ficar muito tempo sem chuva, não se recupera mais. O arroz ainda tem o recurso da irrigação. Já com excesso de água, uma enchente, por exemplo, o arroz tem mais chance de sobreviver caso a lavoura seja alagada. O gado tu consegues levar para um lugar alto. Já a soja, depois que a água tapou, tu não recuperas mais - avalia o produtor, que, mesmo assim ainda aposta no plantio de soja em São Vicente do Sul.

Na sua lavoura de arroz, a expectativa é colher cerca de 160 sacos por hectare, em torno de 9,6 mil kg/hectare. A expectativa dele é que, após a colheita, o preço da saca de 60 quilos, que hoje é cotada na casa dos R$ 35, fique em torno de R$ 50 para que possa cobrir as despesas.

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