Como um clube de futebol em atividade pode impactar a economia de uma cidade

O futebol ultrapassa as quatro linhas e o caráter de ser apenas uma atividade esportiva. É nele que famílias depositam possibilidades de mudanças financeiras, que a economia de um bairro ou até de uma cidade gira e que amigos se unem. Diante disso, pesquisadores se propõem a pensar e discutir estas realidades. Esse é o caso do doutorando da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Thaimon Socoloski, 34 anos. Em sua tese, ele aborda a questão do território e identidade do futebol no Rio Grande do Sul. Nesta reportagem, o foco é como o futebol, principalmente quando o clube está em uma boa fase, pode impactar a dinâmica e a economia de uma localidade. 

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Thaimon é mestre e bacharel em Geografia pela UFSM. Natural de Gaurama, município próximo a Erechim, ele reside há 15 anos em Santa Maria. Por conta disso, já se sente até inserido nas dinâmicas do futebol local. Apesar do foco nas pesquisas acadêmicas anteriores ter sido outro, o gosto pelo esporte sempre foi algo presente: 

– Sempre fui ligado com o futebol por conta da minha família. Também joguei futebol, quando mais novo e sempre tive muito interesse no esporte. Aí, surgiu a ideia de trabalhá-la no doutorado. O futebol tem uma dinâmica, uma dimensão socioespacial, que nos possibilita compreender aspectos da economia, cultura, e conseguimos abordar isso de diferentes maneiras. Trabalhamos com o futebol como construtor de territórios e de identidade também.

Do trabalho

Na pesquisa de Thaimon, são três as principais áreas: o espaço geográfico, mercado de trabalho e a globalização. Segundo um levantamento do pesquisador para o trabalho, dos 20 estádios mais antigos do Brasil, cinco deles estão no Rio Grande do Sul. 

– Na primeira frente, discuto o espaço geográfico, a territorialidade do futebol. A materialidade do estádio é muito característica e, dentro disso, há diferentes dinâmicas. Em um segundo momento, discuto o mercado de trabalho do jogador de futebol, principalmente na questão salarial, contratos e o intenso fluxo de jogadores entre os clubes interioranos. Depois, discutimos também a questão da globalização, o futebol em disputa pelo capital, a partir da entrada de marcas e também de multinacionais nas aquisições dos clubes – explica ele.

Thaimon deve levar uma parte da pesquisa para o IV Simpósio Futebol, de 5 a 7 de agosto, em Florianópolis, Santa Catarina. 

Como impacta 

A partir da Geografia, é observado que um estádio é uma grande construção, uma materialidade na paisagem. Diante disso, há dinâmicas que se alteram em dias de jogos, conforme descreve o pesquisador: 

– Vamos ter dinâmicas diferentes nos bairros. Um exemplo é de que o Bairro Noal (onde está localizado o estádio do Inter de Santa Maria) é diferente daquele conhecido em dias normais, quando não há jogo. Isso afeta o anel periférico, que vive o futebol, sobretudo quando há grandes públicos. O estádio consegue criar essa atmosfera ao redor dele.

Em dia de jogos, então, é possível observar uma dinâmica dos torcedores ao se deslocarem para acompanhar a partida e, sobretudo, do consumo nos comércios próximos, como bares, restaurantes e ambulantes. Além disso, há a compra dos produtos do clube. Se cria também uma afetividade com aquele local e o lugar do torcedor na arquibancada: 

– Santa Maria tem alguns diferenciais de outras cidades do Estado. Todo ano na cidade chegam muitos estudantes por conta da UFSM e de outros segmentos também. Muitas dessas pessoas, claro que precisamos levar em conta que a identidade com o futebol não acontece de forma homogênea para todo mundo, vão frequentar os estádios. Elas entram então nessa dinâmica econômica também.

Ainda conforme o pesquisador, um clube ascendendo a uma divisão ou ativo impacta economicamente nas idas ao estádio, ao consumir produtos do time, bem como nos patrocínios e visibilidade: 

– Outra coisa que é preciso levar em conta é que os quadros associativos desses clubes interioranos não podem ser comparados aos clubes da Capital, por exemplo. Eles dependem bastante dos sócios, da venda de ingressos, dos patrocínios. Quando um clube do interior sobe para a elite do futebol estadual, por exemplo, há uma mudança de calendário, maior procura para acesso ao estádio e mudança nos contratos dos jogadores, muda também culturalmente. Há um simbolismo com um time em Santa Maria na Série A do Campeonato Gaúcho.

Os clubes em Santa Maria

Santa Maria possui dois clubes em atividade: o Inter-SM e o Riograndense. O Alvirrubro disputa, pela primeira vez, depois de cinco anos, as semifinais da Divisão de Acesso, em busca de uma vaga para a série A do Campeonato Gaúcho. O Riograndense buscou por mais um ano tentar jogar a Terceira Divisão. A desistência ocorreu em maio deste ano por questões financeiras, agravadas pelas chuvas no Estado. 

Para o presidente do Inter-SM, Pedro Della Pasqua, uma mudança de olhar para o futebol é necessária no município. Diante disso, conforme explicado, a direção busca valorizar aqueles que estão com eles durante essa trajetória. O dirigente também reforça o apoio da torcida, ir ao estádio, de ser sócio e de consumir os produtos do clube: 

– Estamos fazendo um investimento muito grande no patrimônio e na infraestrutura do clube. Futebol é um esporte caro, ainda mais se formos fazer em um padrão, como este que estamos fazendo. Estamos pensando no ônibus, na concentração, na alimentação, cuidando dos nossos atletas. Isso que precisamos fazer e demanda dinheiro. Continuamos com ingressos na casa dos R$ 20, queremos aproximar, cada vez mais, nosso torcedor. Buscamos mudar muitos paradigmas da cidade. Acreditamos que, com uma boa campanha e com um acesso, isso pode mudar. Não penso isso só do Inter-SM, mas também do Riograndense e futebol de salão. Me criei no meio do esporte e quero que Santa Maria volte a ser referência – acrescenta Della Pasqua. 

A presidente do Riograndense, Maria de Lourdes Pinto Trindade, também concorda com o impacto financeiro de um clube para o município: 

– Os clubes participando dos estaduais gera um movimento para todos os setores econômicos da cidade. São excursões, delegações que acompanham e isso impacta na cidade. É importante a situação do Inter de Santa Maria, um passo da primeira divisão, isso gera um grande movimento para a cidade, com grandes clubes vindo a Santa Maria. Fazer futebol é muito caro, com muitos gastos, infelizmente por falta de aporte financeiro, precisamos desistir da equipe profissional. O Riograndense continua com a base e tentando formar atletas para que, no futuro, tenhamos condições com jogadores profissionais – explica Maria de Lourdes. 

O clube conta com atletas nas categorias de base do sub-7 até o sub-17. 

Uma partida apenas

O Inter-SM enfrenta o Pelotas no próximo domingo (28) na partida de volta da semifinal da Divisão de Acesso. Caso vença por qualquer placar, estará na elite do futebol gaúcho no próximo ano.

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