Quem cala, consente

Revista 'MIX' mergulha em um tema tratado à meia-luz: o suicídio

Patric Chagas

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"Há sempre como interferir positivamente em algum elo da cadeia beneficiando todo o sistema". Lida fora de contexto, a frase do jornalista André Trigueiro pode ser interpretada das mais variadas formas. Mas, nesse caso, ela trata da importância de que cada um faça sua parte para que se retire o manto de silêncio que encobre um tema ainda hoje tratado à meia-luz.

Reconhecido e premiado por sua atuação no jornalismo ambiental, atualmente, Trigueiro se coloca à frente de outro importante debate. Desde 1999, o escritor se dedica à pesquisa sobre suicídio. Esse, inclusive, foi o principal motivo da vinda dele a Santa Maria, onde participou da 42ª edição da Feira do Livro. O jornalista, de 48 anos, lançou seu mais novo livro: Viver É a Melhor Opção — A Prevenção do Suicídio no Brasil e no Mundo. Além de apresentar alternativas para que se combata os mais 800 mil casos de autoextermínio registrados anualmente em todo o planeta, a obra demonstra a urgência de quebrar esse silêncio para que, assim, a sociedade reconheça o tema como um problema a ser enfrentado.

As mortes autoinfligidas são quase sempre atos doentios, sem qualquer glamour ou resquício de heroísmo. Elas abalam e multiplicam o sofrimento dos que ficam. E esse drama, por mais distante que pareça, é considerado uma questão de saúde pública no Brasil e no mundo. Para se ter uma ideia da dimensão do impacto, basta uma olhada rápida no primeiro Relatório Global para Prevenção do Suicídio. O documento, divulgado em setembro do ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresenta dados estarrecedores sobre o assunto. São 2,2 mil casos consumados por dia, um cada 40 segundos, representando 1,4% de todas as mortes no mundo. Em 2012, 803,9 mil pessoas cometeram suicídio. O número é quase o dobro dos registros oficiais de óbitos por homicídio ou em conflitos armados, que fizeram 437 mil vítimas no mesmo período.

Mesmo sendo uma pessoa bem informada e atualizada, talvez o leitor esteja se sentindo incomodado com o fato de ignorar esses dados. Mas há uma explicação. O suicídio é tabu e, por isso, se mantém-se distante do radar curioso da sociedade. Com o temor de incentivar suicidas em potencial, a imprensa não destina o devido espaço ao problema. E, assim, jogado para baixo do tapete, perpetua-se o nocivo estigma que rodeia o tema.

Como afirma Trigueiro em seu livro, "do ponto de vista científico, a maioria absoluta dos casos, aproximadamente 90%, é ligada a patologias de ordem mental diagnosticáveis e tratáveis". O cálculo é simples: se de cada 10 casos, nove são preveníveis, significa que há muito o que se fazer para que essas vidas não sejam perdidas. Para psicólogos, psiquiatras e pesquisadores, é justamente com a informação que se faz a prevenção.

"O suicídio não pode ficar escondido. Falar sobre suicídio é uma questão importante, como foi importante falar sobre a Aids. Foi enfrentando o tabu e o preconceito que se abriu caminho para um modelo de atendimento eficiente ao paciente soropositivo em todo o mundo, inclusive no Brasi" afirma o psiquiatra Carlos Felipe D'Oliveira, um dos mais respeitados suicidólogos do país, em entrevista a Trigueiro.


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