Passou o Natal em família e, agora, está se preparando para celebrar a chegada de 2015 com entes queridos que vieram de longe para as comemorações? Pois é no período com o maior número de festas do ano que se verifica também o maior consumo de bebidas alcoólicas. E se todos sabem que não se deve misturar álcool e trânsito, por que, então, tantas pessoas ainda insistem em dirigir depois de tomar uma ou algumas doses de bebida? Por que não conseguem pensar nas famílias que, vitimadas por acidentes provocados pelo álcool, só compartilharão lágrimas nesses dias que deveriam ser só de alegria?
O psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química e presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), explica que há uma série de fatores que levam as pessoas a acreditar que nunca terão problemas ao beber e, depois, dirigir _ um grande engano e uma "combinação mortal".
_ O álcool, no início, causa uma sensação de relaxamento e também afasta as inibições. No trânsito, a pessoa se sente mais relaxada, acredita que dirige bem e que nada vai acontecer. Além desse pensamento, há também a diminuição dos reflexos provocados pela bebida alcoólica. Há pessoas que pensam da seguinte forma: "várias vezes eu bebi socialmente, dirigi e cheguei em casa. Não vai ser desta vez, não bebi muito, dirijo bem e meu carro está bom."
Segundo o psiquiatra, é na hora em que o motorista tem esse pensamento que ele cria uma situação extremamente vulnerável para ele, para quem está do lado dele e para as pessoas que estão em outros carros e não têm nada a ver com a situação.
O delegado César Renan dos Santos, titular da Delegacia de Trânsito de Santa Maria, defende que as pessoas têm uma consciência individual de que os acidentes nunca acontecerão com elas:
_ Muitos costumam dizer "isso nunca aconteceu comigo" ou "é a primeira vez que eu estou em uma delegacia".
O delegado alerta para o sábio conselho: se vai a um evento e pretende beber, vá de táxi ou de carona, desde que o motorista, obviamente, não tenha bebido.
Final de ano que ninguém deseja
De acordo com a Delegacia de Trânsito de Santa Maria, até o dia 23 de dezembro, havia o registro de 46 acidentes de trânsito contabilizando 47 mortos na cidade. Desses acidentes, pelo menos 16 podem ter sido provocados por uso de bebida alcoólica. O último deles ocorreu no dia 30 de novembro, e envolveu duas motocicletas e uma caminhonete Strada. Uma pessoa morreu e três ficaram feridas.
Era madrugada de domingo quando Bruno Ravasi da Silva saiu de casa, no bairro Santa Marta, com destino a Dilermando de Aguiar. Ele ia até uma festa, para dar carona para os amigos. Na volta, na BR-287, a cerca de 6 quilômetros da Ulbra, a moto em que estavam Bruno e sua carona, Daniela Rocha dos Santos, 19 anos, foi atingida pela caminhonete, que vinha no sentido contrário. A Strada também batei em outra motocicleta, onde estavam o Luan Alexander Ribeiro Correa, 22, e a namorada, Jaqueline Oliveira Ineu, 15.
Luan morreu no dia do acidente. Jaqueline e Bruno ainda estão internados no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e no Hospital de Caridade. Os dois têm um longo processo de recuperação pela frente.
O condutor da Strada fez o teste do bafômetro, que acusou positivo para ingestão de álcool. Além das penas administrativas (carteira de habilitação apreendida, sete pontos na carteira e multa de R$ 1.915,38), ele pode responder na esfera criminal. Foi indiciado pela polícia por homicídio com dolo eventual e três tentativas de homicídio e está preso preventivamente na Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm).
_ Graças a Deus, minha família não está chorando uma morte, mas sofremos com a morte do meu genro. Mas quantas outras famílias, além da do Luan, estão chorando? As pessoas têm que pensar nas vidas dos outros também. Que as pessoas bebam em casa, ou andem de táxi, mas que sejam conscie"
