reportagem especial

VÍDEO: sem possibilidade da Romaria tradicional, a fé está online

Natália Müller Poll

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Foto: Renan Mattos (Diário)

Noventa anos de devoção é o que mantém viva a conexão entre fiéis e a Igreja Católica em época da Romaria Estadual de a Medianeira. Nem mesmo a pandemia do novo coronavírus foi capaz de frear uma das celebrações religiosas mais importantes do Rio Grande do Sul.

Em 1930, quando a revolução que marcou o fim do período da República Velha batia à porta da região, um grupo de mulheres organizou a primeira romaria, clamando por livrar a cidade das batalhas. Quando nenhum tiro atingiu o Coração do Rio Grande, a gratidão foi inteiramente à Mãe Medianeira.


Em âmbito estadual, esta é a 77ª edição do evento que, depois de arrastar multidões ao longo dos anos, agora, ocorre com público limitado e sem a tradicional procissão. A missa ocorrerá apenas na Basílica, para um público de 350 pessoas.

Remodelada, a 77ª Romaria Estadual da Medianeira entra para a história e perpetua a fé em outras dimensões. O padre Ruben Natal Dotto, coordenador da celebração, fala sobre a importância de manter o evento em tempos difíceis, ao invés de cancelá-lo:

- A romaria não será igual aos outros anos. Ela será histórica e especial porque, nesse contexto, representa o cuidado individual e com o próximo. Assim, as celebrações vão ajudar as pessoas a se fortalecerem na fé e na esperança.

MÃE MEDIANEIRA CONECTA DEVOTOS

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

No domingo, os devotos terão a oportunidade de escolher se participam da procissão de carro ou de casa, acompanhando a transmissão ao vivo, pela internet e pela TV - modalidade que vem conquistando mais fiéis a cada dia (veja na página 5 como acompanhar os eventos de forma online).  

Além disso, é uma possibilidade de resgatar devotos que estavam distantes ou conquistar novos.

Para os conectados, já é possível escolher onde, quando e por qual meio desejam realizar suas atividades religiosas. As transmissões da Trezena nos últimos dias são exemplos disso.

É possível acompanhar ao vivo, mas também em outros horários e por meio de qualquer dispositivo que tenha o aplicativo do Facebook instalado.

Toda a adaptação exige um processo, e com o Santuário da Basílica Medianeira não foi diferente. Em janeiro, as cerimônias religiosas começaram a ser transmitidas pela internet.

Mas foi a pandemia que profissionalizou esses procedimentos e voltou olhares para as redes sociais digitais.

Atualmente, a igreja conta com um produtor audiovisual e uma assessora de comunicação que trabalham diariamente na produção de conteúdo específico para os fiéis.

Conforme o padre, isso manteve a proximidade entre Igreja e devotos que precisaram se manter em isolamento nos últimos meses.

- Essa dimensão foi necessária à vida das pessoas. Ajudou a evitar a depressão e o vazio existencial. Ao cultivar a oração, consegue-se curar o mal, adquirir equilíbrio psicológico e administrar as emoções para enfrentar a situação atual em que vivemos - explica. 

A IGREJA NAS REDES

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Foto: Renan Mattos (Diário)

Assim como acontece em diversas crenças, os católicos também vivem momentos de mudanças e adaptações nas práticas religiosas. A Igreja Católica é historicamente conhecida pela tradição dos seus costumes e os fiéis vêm, cada vez mais, saindo da zona de conforto.

A pandemia do novo coronavírus fechou portas de templos mundo afora. Mas a internet mudou esse cenário e fez com que algumas dessas igrejas nunca estivessem tão abertas aos devotos.

Aceitar que a Casa de Deus estava inacessível poderia ser um problema para os frequentadores assíduos das missas e demais atividades presenciais. Mas, conforme o produtor audiovisual Maico Moro, atual responsável pelas transmissões ao vivo do Santuário Basílica da Medianeira, a adaptação ao meio virtual vem crescendo cada vez mais no meio religioso.

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Foto: Renan Mattos (Diário)

ONLINE

O projeto de transmitir as missas pela internet começou a tomar forma no final de 2019 e foi colocado em prática no início deste ano.

Moro explica que a pandemia reforçou a necessidade de utilizar o ambiente virtual.

- Com as pessoas mais tempo em casa, a busca por conteúdo na internet aumentou. Tem muita visualização. Além dos devotos da cidade, as lives têm alcançado públicos de outras cidades do Estado, do Brasil e também de outros países - relata o produtor das transmissões.

Nos últimos dias, as transmissões das tradicionais Trezenas, penitencial e móvel, chegaram a alcançar mais de 500 acessos simultâneos e um total 185 mil visualizações. Moro acredita que esses números apontam a relevância da igreja na web:

- Eu noto que, cada vez mais, as pessoas procuram saber sobre as lives. Não alcançaríamos esse número de pessoas somente com as atividades presenciais.

Atualmente, todas as lives feitas na Basílica da Medianeira são transmitidas por três páginas. Conforme o produtor, a previsão é que, em breve, as lives também sejam transmitidas pelo Youtube e pelo Instagram.

PRODUÇÕES

Além do público de fora da cidade, a igreja vem aumentando o engajamento tanto do público jovem - que já realiza parte de suas atividades por meio das redes sociais - quanto de um público de mais idade. A assessora de comunicação da Arquidiocese de Santa Maria, Karina Freitas, explica: 

- Temos notado que as transmissões incentivaram uma boa parte da população que não fazia uso das redes sociais a utilizá-las para atividades religiosas. Nas trezenas, por exemplo, até quem não está na cidade ou não quer se deslocar à Basílica consegue acompanhar.

Para manter os fiéis conectados e engajados, conteúdos especiais são produzidos para as redes sociais, além do jornal informativo impresso, que tem circulação em outros países.

- Na semana que antecede a Romaria Estadual da Medianeira, as atividades nas nossas mídias digitais são mais intensas. Em março, já começam os preparativos para a celebração. Neste ano, gravamos vídeos com o dom Hélio e o padre Ruben e planejamos os conteúdos de acordo com o lema e o tema da Romaria, explicando sobre como tudo vai funcionar no dia - explica a assessora. 

OS SENTIDOS DA CRENÇA

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Peregrinar e dar graças à Mãe Medianeira é tradição anual da professora e psicóloga Caroline Mitidieri Selvero, 39 anos, e sua mãe, Vera Lucia Cueto Mitidieri, 68.

Com o trabalho atual sendo feito à distância desde o início da pandemia, Caroline fez do seu lar, seu escritório e, também, o seu templo de orações. Todos os dias, por volta das 18h, ela senta em frente ao seu computador, na companhia dos seus dois cachorros, Antonieta e Theodoro, para acompanhar o terço pelo canal do YouTube do grupo Canção Nova. Ao mesmo tempo, em Quaraí, Vera Lucia para o que está fazendo para compartilhar o mesmo momento com a filha, que não vê há nove meses.

De forma remota, as duas mantêm a fé viva e praticam aquilo que sempre fizeram de forma presencial. E assim como o terço das 18 horas foi adaptado, a peregrinação da Romaria da Medianeira também será:

- Eu participo da Romaria desde 1999, quando me mudei para Santa Maria para estudar. Em 2003, sofri um acidente e corri risco de morte, então, a minha mãe pediu à Nossa Senhora Medianeira pela minha melhora. Quando eu já estava fora de risco, quis agradecer e fui à Romaria de muletas mesmo. Nunca deixei de estar presente e neste ano vou acompanhar pela internet.

DE BERÇO
A mãe é a grande responsável pelo envolvimento de Caroline com a religião. Participante ativa da comunidade católica em Quaraí, Vera Lucia sempre foi envolvida em grupos que compartilham a palavra de Deus. Ela já ministrou aulas de Ensino Religioso e catequizou a filha quando criança.  

- Procurei ensinar para minha filha que os maiores valores de nossa vida são os espirituais, morais. E que a fé deve caminhar junto conosco para superar os desafios. Temos muita devoção e confiança na Nossa Senhora - conta Vera Lucia.

ORAÇÃO QUE ACOLHE
Mesmo sem se sustentar em evidências, a espiritualidade é o conforto para muitas pessoas quando se deparam com o desconhecido. E a pandemia segue sendo um grande desconhecido. A ausência de tratamento para a doença e a falta de vacina fez com que a medida de prevenção mais eficaz fosse o distanciamento social, que foi tratado por alguns, como a solidão. Vera Lucia e Caroline encontraram na oração, a ponte de conexão entre as duas e um suporte para os dias de isolamento.  

Nesse contexto, crer em algo maior e mais poderoso, pode ser a chave para o bem estar psicológico. O psicólogo Cleuber Roggia destaca a importância da religião andar de mãos dadas com a psicologia: 

- Mesmo não tendo o mesmo viés, ambas são semelhantes, já que o momento da oração é um encontro consigo mesmo, assim como na terapia.

Ele explica que o momento é de ressignificação e que a religião também vem mudando as formas de se relacionar.

- Assim como as práticas religiosas se moldaram ao rádio e a televisão, elas vem se moldando à internet. Para os fiéis, o mais importante mesmo é perpetuar a fé, e participar como for possível - conta Roggia.

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