especial mês da mulher

Polícia investiga dois crimes de feminicídio em Santa Maria

Camila Gonçalves

Foto: Deni Zolin (Arquivo Diário)
Corpo de Andressa foi encontrado no porta-malas do carro dela, em 2016

Entre os casos de feminicídio em Santa Maria, dois deles ainda não tramitam na esfera judicial. Um deles só foi esclarecido este ano, o de Andressa Thomazi Schimidt (foto abaixo), 30 anos. Na noite de 15 de agosto de 2016, o corpo dela foi encontrado no porta-malas de seu carro por um morador do Bairro Tancredo Neves, a duas quadras do Ginásio Oreco. A jovem, filha do ex-vereador e radialista Paulo Sidinei Schimidt, estava desaparecida desde 13 de agosto daquele ano.

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Andressa, que completaria 31 anos na noite em que foi encontrada morta, foi vista pela última vez em um bar na Avenida Borges de Medeiros. Um rapaz que conhecia Andressa, e agora indiciado pelo crime, Dalilo Marion Junior, comunicou o desaparecimento à polícia. A família buscava pela jovem quando um morador da Tancredo Neves estranhou o fato de um carro estar estacionado há dois dias na frente de sua casa, sem qualquer movimentação.

Testemunhas contaram que o veículo teria sido abandonado no local entre 4h e 6h. A família de Andressa viu a publicação na internet e avisou a Brigada Militar e a Polícia Civil, que foram até o local. A descoberta do corpo no porta-malas foi feita na presença da família, que identificou Andressa. A jovem apresentava manchas de sangue no nariz. O carro não tinha sinal de arrombamento, e a chave estava com a vítima.

O inquérito policial tem 460 páginas. Foram ouvidas 48 testemunhas. Os laudos periciais apontaram asfixia como causa da morte. A demora de mais de um ano para conclusão do inquérito dependia de resultados de perícias, explicou o delegado. O suspeito, que é bacharel em Direito, nega a autoria do crime.

A mãe de Andressa, Rúbia Thomazi, 55 anos, diz que o suspeito não era namorado de Andressa. A jovem morava com a mãe na época. Rúbia chegou a conhecer Dalilo, já que ele esteve na casa deles. 

-Eles eram conhecidos, tinham saído duas ou três vezes.

Andressa deixou dois filhos, que hoje têm 4 e 16 anos. O mais velho mora com Rúbia.

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SUICÍDIO APÓS O CRIME
Na manhã de 5 de fevereiro deste ano, um casal foi encontrado morto em Camobi. A investigação policial trabalha com a linha de feminicídio seguido de suicídio. Segundo informações da Polícia Civil, Rosicler Terezinha Vieira, 49 anos, e Alfredo Machado da Silva, 56, foram encontrados pelo filho, já mortos, em uma casa na Rua Doutor David Rubinstein, na Cohab Fernando Ferrari, pouco depois das 8h.

O adolescente estranhou que a mãe ainda não havia acordado e foi até o quarto dos pais. A principal suspeita da polícia é de que o marido de Rosicler, identificado como Alfredo Machado da Silva, teria assassinado a esposa a tiro e, após, atirado contra si.

A delegada Elizabete Shimomura, que respondia pela Delegacia da Mulher, disse que Rosicler havia registrado um episódio de ameaça em 2006, em que o marido teria sido o autor.

A delegada iria ouvir a irmão e os filhos da vítima. Ela ainda aguardava resultado dos exames de necropsia e residuográfico realizados pela perícia para concluir o inquérito. A família não quis falar sobre o caso à reportagem do Diário.

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Caso Andressa 

  • Indiciado - Dalilo Marion Junior, 29 anos (responde em liberdade)
  • Inquérito foi remetido ao Judiciário na última quinta-feira, indiciando o suspeito por feminicídio qualificado (motivo fútil, asfixia e mediante recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima)
  • Delegado titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) de Santa Maria, Gabriel Zanella, pediu, também na quinta-feira, a prisão preventiva de Dalilo. Em duas outras oportunidades, a prisão já havia sido pedida e negada pela Justiça

Caso Rosicler

  • Suspeito - Alfredo Machado da Silva, 56 anos (foi encontrado morto no dia do crime) 
  • Inquérito ainda não foi concluído, mas indica que Alfredo cometeu feminicídio e atirou contra ele mesmo depois
  • Investigação é conduzida pela Delegacia da Mulher e ainda depende de resultados de exames periciais

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ANTES DA LEI DO FEMINICÍDIO
Em 6 de setembro de 2013, a bancária Betania Furlan Miolo (foto), 33 anos, foi morta em frente à casa onde morava com o ex-marido, em uma rua paralela à ERS-509 (Faixa Velha de Camobi). O ex-marido, Eldemir Luiz Miolo, hoje com 40 anos, foi acusado pelo crime. Na época, o crime foi considerado homicídio qualificado, mas não por feminicídio, já que a lei que enquadra mortes por condição de gênero, não existia.

Betania havia ido levar o filho de 6 anos na casa da sogra, que morava nos fundos do prédio. Eldemir a aguardava em frente à residência e, depois de uma discussão, ele teria tentado obrigá-la a entrar no carro dele. Um vizinho teria ouvido a discussão e os gritos de socorro de Betania, mas foi alertado por Eldemir a não interferir. Foi, aí, que ele disparou um tiro que acertou o abdome de Betania. Depois disso, ainda atirou quatro vezes atingindo a cabeça da ex-mulher.

O irmão de Betania, o advogado Marcelo Furlan, contou que os dois estavam juntos desde que ela tinha 16 anos. Eles se casaram em 2000 e, em 2013, ela havia decidido que queria se separar de Eldemir. Eles tinham dois filhos, de 17 e 11 anos.

- Aparentemente, estava tudo resolvido, eles tinham conversado. Mas meu pai parece que tinha sentido que aquilo iria acontecer. Ele me dizia que tinha medo - conta o irmão de Betania. 

Eldemir está solto e mora em frente ao local onde o crime aconteceu, em Camobi. A família de Betania mora no mesmo bairro. Para Marcelo, o que mais castiga a família é conviver com a possibilidade de encontrar o acusado de assassinar Betania na rua. 

- A minha mãe já cruzou com ele na rua. Ela ainda estava com as crianças. O pior é que a defesa dele já pediu a guarda das crianças. O juiz criminal negou, a defesa recorreu, e o Tribunal de Justiça também negou, felizmente - diz Marcelo. 

O filho de 11 anos tem acompanhamento psicológico até hoje. A filha de 17 nunca quis ir a uma sessão, mas, depois que teve problemas para estudar, decidiu começar tratamento psicológico.

Caso Betania 

  • O advogado de Eldemir, Bruno Seligman de Menezes, conta que o processo está em fase recursal. Ele recorreu ao STJ pedindo a retirada das qualificadoras de recurso que dificultou a defesa da vítima e motivo torpe. A tese da defesa é a não demonstração de elementos para as qualificadoras.
  • Eldemir cumpre prisão domiciliar, tem autorização para trabalhar sujeito à fiscalização. Não há previsão para a realização do júri. 

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