As cicatrizes carregam marcas de transformações no corpo ou na alma. Onde existe uma cicatriz, há uma narrativa de lutas convertidas em vitórias e histórias compostas por lágrimas e alegrias. Carregamos no corpo e na alma, marcas que o tempo, a vida e o sentir deixaram impressas em nós. Impressões, muitas vezes escondidas, por silenciarmos ou sorrirmos forçadamente, ou por vezes visíveis.
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Trazemos símbolos de lutas, que só nós sabemos o quanto doeram. Marcas impressas por ganhos, perdas, dores, medos e também muita coragem para o novo e para seguir em frente. Quando paro para refletir sobre minhas cicatrizes, lembro de uma infância feliz e brincante. Quando toco no meu ventre, agradeço a Deus, pelos milagres das vidas geradas, que imprimiram em mim, marcas do maior amor.
Quando lembro das cicatrizes da alma, acolho e dou a atenção e tempo necessários para me permitir o processo de entendimento e cura diante de tudo aquilo que um dia possa ter machucado. E, assim, vou revisitando as feridas não cicatrizadas.
Uma forma de memória viva
Cada cicatriz necessita de um tempo para se acomodar. Umas insistem em ficar mais visíveis, outras desaparecem conforme o tempo vai passando. Mesmo assim, lembramos de boa parte daquilo que deixa marca em nós. Carregamos lembranças de quando fraquejamos, mas carregamos também, de quando nos fortalecemos. Algumas pessoas preferem escondê-las, outras, precisam escancará-las com orgulho, como mérito de uma vida vivida com intensidade ou como desespero, sendo uma forma de pedir socorro.
As cicatrizes não são imperfeições, elas carregam consigo lembranças que testemunham fragmentos que resistiram em nossa existência, como se fossem enredos de um filme, que a qualquer instante pode ser rebobinado em nossas memórias, trazendo novos significados e novos sentidos que nossas experiências vividas oferecem somadas às suas representatividades.
Marcas profundas de histórias
Se pensarmos em nossas cicatrizes como raízes profundas cravadas na história que nos trouxe até aqui, ressignificaremos nossos sentidos diante das nossas vidas. Podemos até sentir o silêncio e as lágrimas vivenciados em cada dor sofrida, mas devemos perceber que muitas destas dores nos tornaram quem somos hoje. Tem cicatriz que ainda lateja em nossas lembranças, mas tem também aquelas que já viraram potência em nossas vidas.
Às vezes, é preciso distanciar-se ou aproximar-se mais ainda de nossas memórias que lembram as dores impressas em nós. Quando nos permitimos usar o tempo a nosso favor, redimensionamos os fatos e deixamos, muitas vezes, de enaltecer determinadas feridas. A dose certa do tempo só é descoberta com o silêncio, treino e disciplina.
Uma janela para a vida
As feridas necessitam de oxigênio para cicatrizarem, assim como em nossas vidas, precisamos estar abertos para melhorar nossas atitudes e modos de sermos mais humanos. Quando abrimos as janelas de nossas vidas, percebemos a vida que corre para além das nossas e, assim, sentimos a nós mesmos e ao outro.
Na pele, cada um carrega suas marcas de uma vida em estado de presença ou muitas vezes de ausência. Muitas vezes, é necessário abrir as feridas para que elas sejam curadas. Quando compartilhamos nossas dores tendemos a sofrer menos, pois encontramos no conforto de um abraço, de uma palavra ou de uma escuta, a força necessária para continuarmos seguindo em frente. Somos feitos também de fraquezas que nos fortalecem. As cicatrizes não irão desaparecer, apenas devemos buscar ajuda para que elas parem de doer.
Que possamos viver nossas histórias de um jeito mais leve, acolhendo nossas cicatrizes; nossas dores; nossas memórias, traçando metas para atingirmos o autoconhecimento que nos permitirá reclamar menos e viver mais. Ressignifique suas cicatrizes como flores que nascem entre rachaduras, com vontade de viver e com resiliência. Viva a vida com amor e gratidão. Olhe para a sua história de vida e reencontre a sua criança interior. Abrace-a e diga que está tudo bem agora, e que você está aqui por ela e que se orgulha muito do que ela está se tornando.