Crianças com pouco tempo para brincar e adultos tentando curar suas infâncias

Brincar é uma ação que acompanha todas as espécies no reino animal. É a partir do brincar, na infância, que se ensaia o mundo adulto. Quando crescemos, tendo vivenciado cada etapa das nossas vidas, acompanhando as fases de maturação, de forma saudável, geralmente chegamos cientes sobre nossos papéis sociais. Tenho visto crianças sendo privadas do ato de brincar em troca de ampliarem seus conhecimentos em vários setores da vida. 

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A infância é tempo presente em que devemos promover o brincar como uma das principais ações. Uma criança que brinca e se sente protegida com limites é uma criança amada. Ocupar todo tempo da infância com atividades extraclasses é privar a criança de lidar com o ócio e, no ócio, ela aprende a criar e resolver seus conflitos, lidando também com suas frustrações. Estamos adoecendo nossas crianças oferecendo-lhes ocupação em tempo integral.


Que mensagens nossas crianças e adultos andam transmitindo?
Somos provocados a todo instante pelos meios digitais, nos quais permitimos que o nosso tempo acesse. Por que nos incomoda tanto o comportamento alheio? Por que damos tanto ibope para situações que não deveríamos nos ocupar em demasia? Em tempos, onde quase tudo se resolve de forma online, estamos deixando de lado o viver de verdade. 

Ou será que desaprendemos como viver e estamos, com atitudes permeadas por signos, tentando passar uma mensagem sobre como andam nossas emoções? Será que a sociedade está pedindo socorro escancaradamente a partir de seus comportamentos, por vezes, bizarros? Ninguém pode se achar o detentor de uma verdade estanque sobre comportamentos, mas sobre o seu comportamento você é, sim, responsável. E vale lembrar que toda sua ação gera uma reação, tanto em você como em quem está no seu entorno. Por isso, a importância de mantermos nossa lucidez diante do que fazemos.


Crianças sendo adultas e adultos sendo crianças

Assim como uma criança, todas as fases da vida necessitam de afeto. As redes sociais têm, de certa forma, facilitado essa construção ilusória de afetos, em que ficamos esperando a aprovação de quem nos segue. É como se nossas ações fossem validadas apenas pela quantidade de curtidas que recebemos. Estamos exagerando nossas ações cotidianas para sermos validados de forma virtual, adoecendo, assim, nossas vidas reais. A busca constante pela atenção das pessoas no mundo virtual tem distorcido comportamentos humanos a tal ponto que vale tudo para uma publicação viralizar. Crianças estão sendo expostas em suas rotinas como forma de monetização para os adultos, e adultos estão expondo seus “avessos” (literalmente) como forma de encontrarem seus sonhos de vida ($$$) e curarem suas infâncias. 

O respeito pela própria dignidade se perdeu na busca frenética por fontes de renda fáceis. Nossas gerações estão adoecidas e sendo influenciadas pela inversão de valores. Se você se incomoda tanto com comportamentos alheios não permita o acesso a eles. Enquanto você fica tentando entender o que acontece com pessoas virtuais, as pessoas de verdade da sua vida estão clamando pela sua compreensão e pelo seu afeto. Ressignificar nossas relações é mais importante do que julgar as ações dos outros. 

A criança que um dia você foi pode ter tido a sorte de ter sido amada e protegida na sua infância – mas esta pode não ter sido a realidade de muitos adultos que, hoje, em suas ações, pedem socorro para curar suas crianças que ficaram adoecidas no passado. Toda ação na fase adulta fala sobre a criança que um dia você foi. É a partir do brincar, na infância, que se ensaia o mundo adulto e, se essa criança for negligenciada, saberemos na fase adulta a partir de seus comportamentos. Que possamos ter um olhar mais sensível para aqueles que pedem socorro a partir de ações que não condizem com suas fases de vida atuais. 


 

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Daniela Minello

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