O fim do ano costuma criar a ilusão de que estamos apenas fechando um ciclo. Mas, no fundo, não encerramos nada: somos nós que nos encerramos dentro de uma narrativa para poder seguir em frente. Há uma diferença profunda entre o que fizemos e o que nos fez. Entre as ações que conduzimos e as transformações que elas produziram em nós. E talvez seja esse o balanço mais honesto de cada dezembro: não perguntar apenas “o que realizei?”, mas “o que isso me tornou?”.
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As marcas invisíveis
Cada decisão deixa um traço. Cada caso, cada aula, cada escolha profissional molda quem somos, mesmo quando não percebemos. Há vitórias que fortalecem, outras que silenciosamente endurecem. Há derrotas que nos depuram. O que fizemos ao longo do ano importa; mas o que isso fez de nós importa infinitamente mais.Indivisível.
O tempo que nos esculpe
O tempo não passa por nós como vento: passa como cinzel. Dezembro é apenas o momento em que, por um instante, enxergamos a escultura que fomos compondo ao longo dos meses. A advocacia, em especial, é um ofício que nos transforma pela exposição constante à dor, ao conflito, à responsabilidade. Saímos de cada ciclo diferentes do que entramos.
A responsabilidade que molda
Decidir pelo outro é uma experiência que nos altera. Julgamentos, pareceres, sustentações, negociações... tudo exige uma combinação de técnica e humanidade difícil de sustentar sem custo interno. O peso da confiança alheia faz com que cada ano carregue mais do que prazos: carrega marcas éticas e afetivas. Somos a soma das decisões que tomamos quando ninguém estava vendo.
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As escolhas que custaram
Há um preço em cada caminho escolhido. Não há estratégia adotada sem outra que foi abandonada; não há compromisso assumido sem algo que se perdeu no processo. Dezembro nos lembra que a vida não avança só por adição, mas por renúncia. Crescemos não apenas pelo que acumulamos, mas pelo que deixamos de lado para seguir.
O espelho incômodo
A introspecção do fim do ano não é leve: é um espelho que revela o que tentamos ignorar na pressa dos dias. Há hábitos que precisam ser abandonados, convicções que precisam ser revistas, silêncios que precisam ser rompidos. Não avaliamos apenas o que fizemos; avaliamos o que poderíamos ter feito. E isso pode ser doloroso, mas não deixa de ser fundamental.
O mérito de continuar
Persistir também transforma. Há anos em que o maior feito não é conquistar algo, mas suportar o peso de tudo. O mérito de continuar, de manter a disciplina, de honrar compromissos mesmo cansado, é invisível nas listas de realizações, mas decisivo na formação do caráter. Perseverar é, muitas vezes, a obra mais silenciosa e mais importante do ano.
O que seremos depois daqui
Entre o que fizemos e o que nos fez existe a matéria da nossa humanidade. Dezembro não fecha nada: apenas oferece a chance de olhar para dentro com honestidade. O ano que vem não será novo por decreto, mas na medida em que formos capazes de nos tornar novos. Porque, no fim das contas, o tempo passa e renova tudo apenas por um truque de calendário. Quem muda somos nós.