A palavra velho nunca me incomodou. Até porque está presente no meu nome. Já fui até motivo de coluna do José Simão, jornalista da Folha de São Paulo, que falava de um geriatra chamado Velho, no quadro “Os predestinados”. Portanto, desde que nasci, a palavra velho me acompanha. Mas os tempos estão mudando.
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Existe uma discussão, nos meios gerontológicos, de como deveriamos chamar as pessoas idosas (já é uma forma de diferenciação). Com frequência vemos as pessoas distinguirem a palavra velho da palavra idoso. Afirmando que velho seria sinônimo de doença, decrepitude, dependência. Idoso seria uma expressão mais cuidadosa, mais respeitosa. Menos estigmatizante. E a diversidade do processo de envelhecimento é estupenda. Nos tornamos cada vez mais singulares com a passagem do tempo.
Etarismo
Você sabe o que é etarismo (ageism em inglês, onde surgiu a expressão)? É o preconceito contra os idosos (ou os velhos?). Segundo a Organização Mundial da Saúde, “o etarismo é um conjunto de preconceitos, estereótipos e discriminação contra pessoas com base na idade. O etarismo pode ser institucional, interpessoal ou autoinfligido. O etarismo pode ocorrer em diferentes esferas, como a saúde, a sociedade e a economia. Ele afeta a qualidade de vida e a empregabilidade das pessoas idosas, e também pode ser o primeiro passo para a violência.” O etarismo está muito presente em nosso cotidiano. E esta discussão sobre como deveríamos chamar as pessoas idosas tem, em sua raiz, o etarismo.
Da mesma maneira que o combate ao racismo tornou várias expressões como racistas, pois estimulavam o preconceito contra os pretos. Quem cunhou a expressão foi um grande geriatra americano, Robert N. Butler, que foi, por muitos anos, editor da revista Geriatrics e também o primeiro diretor do National Institutes on Aging, nos Estados Unidos. Seu trabalho foi publicado na revista The Gerontologist em dezembro de 1969. Isso significa que a palavra já tem 50 anos de idade e há pouco tempo repercute em terras tupiniquins.
Iniciativas
Mas algumas iniciativas estão florescendo. Em 2022, foi aprovada uma lei que modificava o nome do Estatuto do Idoso para Estatuto da Pessoa Idosa. Porém, se formos falar da literatura de língua inglesa, é só dar um Google nas palavras “how to call elder people” que encontraremos dezenas de publicações sobre o tema, em jornais, publicações científica e outros meios da mídia.
A discussão se dá em vários patamares, como a conscientização da sociedade sobre o etarismo e as maneiras de enfrentá-lo. E uma das questões é a maneira como nos comunicamos com as pessoas idosas. Existe um esforço também no sentido de disseminar na mídia as formas menos desejáveis de chamar uma pessoa idosa, oferecendo alternativas menos rotuladoras. Termos como terceira idade, melhor idade, velhos, idosos, têm sido abandonados em favor de pessoas idosas, pessoas com mais de 60 anos, um homem ou uma mulher com mais de 75 anos. Esta preocupação também se estende para a literatura científica, particularmente nas áreas médicas e gerontológicas, porque, de fato, são os principais disseminadores das questões relacionadas ao envelhecimento e à longevidade.
Pessoa Idosa
Vivemos a época do politicamente correto. No meu cotidiano, tanto profissional como na vida pessoal, observo que muitas pessoas não se incomodam em serem chamadas de velhos. Outras pessoas preferem claramente a palavra idoso. Talvez a expressão mais adequada é a que vimos utilizando ao longo do artigo – a pessoa idosa. É uma questão de respeito e cuidado. Outros aspectos interessantes que permeiam a discussão, todas enraizadas no conceito de etarismo, são a infantilização do idoso.
A Alzheimer´s International alerta sobre o estigma que é colocado sobre pessoas portadoras de demência, um rótulo que, uma vez carimbado, as anula enquanto indivíduos, enquanto membros da sociedade.
Interessante. Todos nós, se as coisas correrem bem, vamos envelhecer. E lembre-se que a vida passa rápido, talvez possa ser de bom alvitre, ao invés de nos referirmos a “eles”, os idosos, utilizemos a palavra “nós”. Afinal, o envelhecimento é um período natural da existência, almejado por todos que seja com boa saúde, a memória preservada, com independência e a autonomia.
Agora que você sabe um pouco mais sobre o etarismo e formas mais adequadas de se referir a uma pessoa idosa, merece que você faça uma reflexão: tenho sido etarista? Qual a minha visão da velhice? E se você achar que precisa desenvolver outros conceitos, comece a fazê-lo agora, na sua próxima conversa com uma pessoa idosa.